sexta-feira, 10 de maio de 2019

BILLY BUDD, Royal Opera House, Londres / London, Maio / May 2019



(review in English below)

A Royal Opera House apresentou a ópera Billy Budd de Benjamin Britten com libretto de E.M. Foster e Eric Crozier numa encenação de Deborah Warner, cenários de Michael Levine, luzes de Jean Kalman, guarda roupa de Chloé Obolensky.


A encenação é muito interessante. Tudo se passa no navio Indomitable e só há homens a bordo. O palco, encimado por velas enroladas nos mastros, tem muitas cordas e escadas, e um soalho de madeira sugerindo o convés do navio. Este eleva-se por vezes, mostrando ora os aposentos do capitão, ora a camarata onde os marinheiros dormem, tudo sugerindo um navio do final do Séc. XVIII, como previsto no libretto. O guarda-roupa também é sugestivo, embora as fardas dos oficiais sejam de tempos mais modernos. Há muitos marinheiros em palco (coro e outros) com movimentações interessantes que ajudam muito ao espectáculo.

(Fotografia / Photo Catherine Ashmore, ROH)

Billy Budd é admitido no navio que se desloca para combater os franceses, rapidamente conquista a simpatia dos companheiros e do capitão pela sua postura de homem bom, mas também o ódio do mestre de armas Claggart que, contudo, finge gostar dele (o que, no seu íntimo, acontece). Depois de uma tentativa de ataque forjada a um navio francês, Claggart denuncia Billy Budd ao capitão Vere por tentativa de motim. Vere não acredita e confronta-os. Billy Budd, devido a um problema de expressão verbal, não consegue responder às acusações de Claggart e ataca-o fisicamente, matando-o. É julgado pelos oficiais que o condenam à morte. O capitão tem dúvidas sobre a sua culpa, mas acaba por aceitar a sentença por enforcamento, apesar dos remorsos. Billy Budd é enforcado e os marinheiros são contidos à força pelos superiores na expressão da sua revolta, tudo voltando à rotina do navio. No final o capitão Vere, já velho, lamenta não ter poupado a vida de Billy Budd.

O maestro Ivor Bolton foi excelente na direcção da orquestra e coro, e deixou sempre que os cantores se ouvissem na perfeição. O Coro foi fantástico. Os solistas principais foram todos de topo.


O tenor Toby Spence foi o capitão Edward Fairfax Vere. Cantou de forma admirável, tem um timbre bonito e claro, foi excelente no final, tanto na interpretação cénica como vocal, ao transmitir a sua dúvida e remorso no julgamento e condenação à morte do Billy Budd. Mas a figura não é adequada à do capitão Vere, foi distante e pouco assertivo no comando do navio e é um cantor com muito jovem e timbre muito leve para a personagem, não lhe dando credibilidade, sobretudo no início e no fim. Poderia ser também um excelente Billy Budd.


(Fotografia / Photo Catherine Ashmore, ROH)

O barítono Jaques Imbrailo foi um Billy Budd sensacional! Em cena é difícil ver melhor, muito credível na interpretação, jovem, boa figura e de grande agilidade. Subiu cordas e escadas, sempre a cantar, muito expressivo e emotivo. A voz é de invulgar beleza e manteve a qualidade interpretativa ao longo de toda a récita. O monólogo final foi de uma emotividade tocante. Encarna na perfeição a personagem boa e idealista que não se deixa subornar mas, devido ao seu defeito de linguagem, acaba por agredir mortalmente o Claggart e, por isso, ser injustamente condenado à morte e enforcado.


(Fotografia / Photo Catherine Ashmore, ROH)

O baixo Brindley Sherratt foi insuperável como John Claggart. Tem uma voz escura magnífica, poderosíssima e sempre afinada. Em palco foi óptimo, sinistro, cínico e malévolo, qual Iago personificando o mal, com o único objectivo de destruir o Billy Budd por quem, tal como o capitão Vere, também sente atracção.


(Fotografia / Photo Catherine Ashmore, ROH)

Nos papéis secundários tiveram boas intervenções Clive Bayley (Dansker), Duncan Rock (Donald), Sam Furness (noviço) e o trio de oficiais David Soar (Mr. Flint), Thomas Oliemans (Mr. Redburn) e Peter Kellner (Lieutenant Ratcliffe), os últimos notáveis no incómodo da cena do julgamento e condenação do Billy Budd, em que o capitão Vere, se recusou a defendê-lo.










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BILLY BUDD, Royal Opera House,London, May 2019

The Royal Opera House presented Benjamin Britten's opera Billy Budd with libretto by E.M. Foster and Eric Crozier in a production by Deborah Warner, staging by Michael Levine, lights by Jean Kalman, costumes by Chloé Obolensky.

The staging is very interesting. Everything happens on the ship Indomitable and there are only men on board. The stage, surmounted by sails rolled in the masts, has many ropes and ladders, and a wooden floor suggesting the deck of the ship. The latter rises sometimes, either showing the captain's quarters, or the place where the sailors sleep, all suggesting a ship of the end of the 18th century, as stated in the libretto. The costumes are also suggestive, although the uniforms of the officers are of more modern times. There are many sailors on stage (chorus and others) with interesting moves that greatly help the show.

Billy Budd is admitted to the ship that moves to fight the French, quickly wins the sympathy of the comrades and the captain for his posture of good man, but also the hatred of the master of arms Claggart who, however, pretends to like him (which happens in his hidden feelings). After an attempt of forged attack to a French ship, Claggart denounces Billy Budd to the captain Vere accusing him of mutiny. Vere does not believe and confronts them. Billy Budd, due to a problem of verbal expression, can not respond to Claggart's accusations and attacks him physically, killing him. Billy Budd is tried by the officers who condemn him to death. The captain has doubts about his guilt, but ends up accepting the sentence by hanging, despite the remorse. Billy Budd is hanged and the sailors are restrained by force by the superiors in the expression of their revolt, all returning to the routine of the ship. In the end Captain Vere, already old, regrets not having spared the life of Billy Budd.

Conductor Ivor Bolton excelled at the Orchestra and Choir and always let the singers be perfectly heard. The Choir was fantastic. The main soloists were all top quality.

Toby Spence was captain Edward Fairfax Vere. He sang admirably, has a beautiful and clear timbre, was excellent at the end, both in scenic and vocal performance, in conveying his doubt and remorse in Billy Budd's trial and death sentence. But his figure is not suited to that of Captain Vere, he was distant and unassertive in command of the ship, and looks very young and has a very light tone for the character, not giving credibility, especially at the beginning and at the end. He could also be a great Billy Budd.

Baritone Jaques Imbrailo was a sensational Billy Budd! On stage is difficult to see better, very credible in the interpretation, young, good figure and great agility. He climbed ropes and ladders, always singing, very expressive and emotional. The voice is of uncommon beauty and has maintained the quality throughout the whole performance. The final monologue was of touching emotion. He incarnates perfectly the good and idealistic person who does not allow himself to be bribed but, due to his defect in speaking, ends up attacking mortally Claggart and, therefore, being unjustly condemned to death and hanged.

Bass Brindley Sherratt was unsurpassed as John Claggart. He has a magnificent dark powerful voice, always in tune. On stage was great, sinister, cynical and malevolent, impersonating evil like Iago, with the sole aim of destroying Billy Budd by whom, (as Captain Vere) also feels attraction.

In the supporting roles Clive Bayley (Dansker), Duncan Rock (Donald), Sam Furness (novice) and the trio of officers David Soar (Mr. Flint), Thomas Oliemans (Mr. Redburn) and Peter Kellner (Lieutenant Ratcliffe), the last three notable in the unpleasant scene of the trial and conviction of Billy Budd, in which Captain Vere, refused to defend him.

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