(review in English below)
A Ópera de
Düsseldorf que, com a de Duisburg, integra a Deutsche Oper am Rhein é
um edifício austero e sóbrio, de dimensão e acústica adequadas para assistir a
um bom espectáculo de ópera.
O Crepúsculo dos Deuses, última ópera do Anel de R. Wagner, na encenação de Dietrich
Hilsdorf, passa-se nas margens do Reno e num navio (MS Wodan) que nele
navega.
É uma crítica ao capitalismo e aos perigos da industrialização.
A encenação tem partes
muito interessantes e outras nem tanto. Logo no início as Nornas, vestidas como
senhoras do início do século passado, tomam chá numa mesa de um café nas
margens do Reno, servidas por um empregado de rabo de cavalo vestido como nos
dias de hoje. Este e outro que por vezes o acompanha estarão presentes ao longo
da récita.
O navio ou vai
viajando ao longo do Reno, ou atraca em determinados portos. Os elementos
simbólicos chave mantêm-se conservados – o anel, a lança e a espada. As Filhas
do Reno surgem e desaparecem no rio. O Hagen é uma figura tenebrosa e nunca
larga a lança. Um dos momentos mais eficazes da récita é o início do 2º acto em
que ele, agarrado aos ferros do navio, “ouve” o pai Alberich, excelentemente
caracterizado, sem nunca mudar de posição ou olhar para ele. Menos interessante
é a Gutrune que aparece como toxicodependente e o Coro (muito bom)
que vem
vestido em trajes militares coloridos e com uma bebida na mão.
No 3º acto, após
o Hagen ferir mortalmente o Siegfried, ele cai para um porão. Durante a marcha
fúnebre vão sendo içadas bandeiras pelos militares, na popa do navio, e
lançadas para o porão. Primeiro a do império, depois as nazis, a bandeira
actual da Alemanha (que é colocada no chão), a da República Democrática Alemã
e, finalmente, uma bandeira branca. Depois desta, a bandeira da Alemanha é
também para lá lançada.
No final, a
Brünhilde lança fogo ao porão do navio e são projectadas chamas em todo o seu redor,
ficando ela estática na parte mais elevada. Tudo deste mundo é destruído para
que um novo surja em seu lugar.
O maestro Axel Cober dirigiu a orquestra que,
apesar do bom desempenho global, teve ocasionalmente notas falhadas, sobretudo
nos metais.
Nas
interpretações vocais dominou a qualidade e homogeneidade. O Siegfried do tenor
sueco Michael Weinius foi
consistente, voz agradável e sem falhas. O cantor é obeso o que não favorece a
personagem do herói interpretado.
A soprano norte
americana Linda Watson cumpriu com
valentia o exigente papel de Brünhilde. Esteve bem, embora no final da ópera
não tenha atingido a excelência interpretativa que sempre desejamos ouvir.
O Hagen do baixo
dinamarquês Stephen Milling foi
sensacional, para mim o melhor intérprete da noite. Voz forte, grave, bem
audível e uma postura sempre sinistra. Fantástico.
O barítono alemão
Johannes Martin Kränzle foi um
Gunter de referencia, tanto na interpretação vocal como cénica.
Sylvia Hamvasi, soprano húngara, interpretou a Gutrune com
qualidade, embora a encenação não a favoreça.
Também esteve
muito bem a mezzo polaca Katarzyna
Knucio como Waltraute,
e o barítono
alemão Michael Kraus no curto papel
de Alberich.
Das 3 Nornas Susan Maclean (1ª), Sarah Ferede (2ª) e Morenike Fadayomi (3ª), a última foi
claramente inferior às outras duas, mas já em relação às Filhas do Reno
(Woglinde, Anke Krabbe; Wellgunde, Kimberley Boettger-Soller e Flossilde Ramona Zaharia) a consistência e
qualidade imperaram.
Um espectáculo de
grande qualidade.
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GÖTTERDÄMMERUNG,
Deutsche Oper am Rhein, Düsseldorf, November 2018
The Düsseldorf
Opera House which, with the one of Duisburg, is part of the Deutsche Oper am Rhein, is an austere
and sober building of size and acoustics suitable for a good opera performance.
Götterdämmerung, the last opera of R. Wagner’s Ring cycle, in a
production of Dietrich Hilsdorf,
takes place on the banks of the Rhine and on a ship (MS Wodan) traveling on it.
It is a critique of capitalism and the dangers of industrialization.
The staging
has very interesting parts and others not so much. In the beginning of the
performance the Norns, dressed as ladies from the beginning of the last
century, drink tea on a table on the banks of the Rhine, served by a waiter dressed
in present outfits. This one and another that sometimes appears with him will
be present throughout the performance.
The ship
either goes traveling along the Rhine, or docks in certain ports. The key
symbolic elements remain preserved - the ring, the spear and the sword. The
Daughters of the Rhine appear and disappear in the river. Hagen is a dark
figure and always carries the spear. One of the most effective moments of the opera
is the beginning of the second act in which he, clinging to the irons of the ship,
"listens" to his (excellently characterized) father Alberich, without
ever changing his position or looking at him. Less interesting is Gutrune who
appears as a drug addict and the (very good) Choir comes dressed in colorful
military outfits and with a drink in hand.
In the 3rd
act, after Hagen mortally wounded Siegfried, he falls into the basement. During
the funeral march flags are raised by the military at the stern of the ship and
thrown into the basement. First the empire flag, then the Nazi flags, the
current flag of Germany (which is placed on the ground), the German Democratic
Republic flag and finally a white flag. After this, the current flag of Germany
is also launched there.
In the end,
Brünhilde sets fire to the ship's basement and flares are projected all around
it. She remains static at the top of the ship. Everything in this world is
destroyed so that a new one will arise in its place.
Maestro Axel Cober directed the orchestra
which, despite its good overall performance, occasionally missed some notes,
especially on metals.
Vocal
interpretations were dominated by quality and homogeneity. Siegfried of Swedish
tenor Michael Weinius was
consistent, pleasant voice and without flaws. The singer is obese which does
not favor the character of the interpreted hero. North
American soprano Linda Watson was brave
in the demanding role of Brünhilde. She was well, although at the end of the
opera did not reach the interpretive excellence that we always want to hear.
Hagen of
the Danish bass Stephen Milling was
sensational, for me the best interpreter of the night. Strong, bass voice, well
audible and always a sinister posture. Fantastic. German
baritone Johannes Martin Kränzle was
a reference Gunter, both in vocal and scenic interpretation. Sylvia Hamvasi, Hungarian soprano, interpreted Gutrune with
quality, although the staging does not favor it. Polish
mezzo Katarzyna Knucio was also very
well as Waltraute, and the
German baritone Michael Kraus in the
short role of Alberich.
From the 3
Norns Susan Maclean (1st), Sarah Ferede (2nd) and Morenike Fadayomi (3rd), the latter was
clearly inferior to the other two. The Daughters of the Rhine (Woglinde, Anke Krabbe, Wellgunde, Kimberley Boettger-Soller and Flossilde,
Ramona Zaharia) were consistent and of
remarkable quality.
A performance
of great quality.
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