domingo, 23 de setembro de 2018

FAUST de Charles Gounod — Teatro Real, Madrid, 22/09/2018

(Review in English below)

Assisti à ópera Faust, produção que abre a temporada do Teatro Real de MadridCharles Gounod estreou a ópera em 1859 que teve como libretistas a dupla Jules Barbier Michel Carré que partiram da peça Faust et Marguerite inspirada no Faust de Goethe.

A ópera tem estado menos frequentemente no repertório atual do que nos anos que se seguiram à estreia, provavelmente por ser musicalmente interessante, mas ter um drama e texto algo inconsistentes.


A produção trazida ao Teatro Real é a que Álex Ollé (La Fura dels Blaus) estreou em 2014 em Amesterdão. Trata-se de uma produção muito intensa visualmente, com múltiplos números que pretendem modernizar a ópera e que o fazem com qualidade e sem desvirtuar a indicações cénicas originais. Traz a ação para o nosso século e para um laboratório que trabalha o projeto “Homunculus Project”. Recorrendo a um vestuário vistoso, a um jogo de luzes intenso, a diversos painéis que se vão transformando, a encenação proposta permite o desenrolar da ação de forma fluida e caricaturiza alguns estereótipos sociais. Sem ser genial, sugere uma leitura alternativa que vale a pena explorar.


Orquestra do Teatro Real soou de forma luxuosa sob a direção de Dan Ettinger que pecou pontualmente pelo ritmo e volume excessivos. O Coro do Teatro Real esteve imaculado, oferecendo momentos de grande qualidade.

A figura principal da abertura da temporada de Madrid é Piotr Beczala que foi um Faust apaixonado, dramaticamente convincente, e com uma voz poderosíssima de agudos estratosféricos que apenas pecou pelo seu francês peculiar.

A Marguerite de Marina Rebeka esteve fantástica (mais consistente que Beczala), exibindo uma voz cheia e de agudos fáceis, destacando eu a interpretação do “Il ne revient pas” do IV ato.

O Mefistófeles de Luca Pisaroni esteve um pouco abaixo vocalmente se comparado com Beczala ou Rebeka, apresentando alguma dificuldade no registo agudo e, apesar de cenicamente ter estado bem, não conseguiu ser muito diabólico.

O Valentin de Stéphane Degout foi magnífico e, no meu entender, o melhor da récita pela qualidade vocal (excelente em toda a tessitura) e intensidade dramática. Um barítono de invulgar qualidade.

O Siebel de Serena Malfi foi de grande qualidade, apesar de ter tido um ou outro agudo mais estridente.


Valeu, pois, bem a pena a deslocação à capital espanhola e ao Teatro Real.

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(Review in English)

I attended the opera Faust which is the production that pretend to open the Madrid’s opera season in a glamorous way. Charles Gounod premiered the opera in 1859 with a libretto by Jules Barbier and Michel Carré based on the play Faust et Marguerite inspired by Goethe’s Faust.

This opera has been less frequently performed than in the years following the premiere, probably because of a drama and text that are somewhat inconsistent, despite the unquestionable musical quality.

The production brought to Teatro Real is Álex Ollé’s Faust premiered in 2014 at Amsterdam. It is a visually very intense production, intending to modernize the opera without detracting from the original scenic indications. Ollé’s production brings the action to our century and to a laboratory that works on the "Homunculus Project". Using a showy clothing, an intense palette of lights, different panels permanently in transformation, the proposed staging allows the unfolding of the action in a fluid way and try to caricature some social stereotypes. Despite it’s not a genial production, the alternative reading proposed worth to be explored.

The Orchestra sounded luxuriously under the direction of Dan Ettinger who sinned punctually due to excessive rhythm and volume. The Choir was immaculate, offering moments of great quality.

The main figure of the season is Piotr Beczala who was a passionate, dramatically convincing Faust, with a very powerful voice of stratospheric highs that only sinned for his peculiar French.

Marina Rebeka's Marguerite was fantastic (more consistent than Beczala). She has a beautiful voice and terrific high notes, and I highlight the interpretation of "Il ne revient pas" from IV act as her best moment.

The Mephistopheles of Luca Pisaroni was, if compared to Beczala or Rebeka, vocally not so convincing, presenting some difficulty in the acute register and, although he had been well cenically, he was not so diabolical as I would expect.

Stéphane Degout's Valentin was magnificent and, in my opinion, the best performer of the cast for vocal quality (excellent throughout the whole tessitura) and dramatic intensity. A baritone of unusual quality.

Serena Malfi's Siebel was of high quality, despite some harsh high notes.

This Faust worth well the trip to the Spanish capital and to Teatro Real.

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