(review in English below)
A encenação da
ópera Lucia di Lammermoor em cena na
Met Opera é da autoria de Mary Zimmerman e, numa abordagem
convencional, é muito agradável e bem conseguida.
A encenadora escolheu
ambientes soturnos, bem adaptados à história e opta pela presença do fantasma,
o que torna tudo mais evidente. Já foi comentada neste blogue aqui e aqui.
A obra “belcantista” é um dos expoentes máximos do romantismo
operático italiano, contém trechos notáveis e, se bem interpretada (exige um
soprano e um tenor de superior qualidade), proporciona um espectáculo
emocionante. A coloratura é usada em todo o seu esplendor na transmissão dos
estados de alma da protagonista e alguns instrumentos, como a harpa e a flauta,
também evocam a sua nostalgia e dor. Toda a ópera está recheada de trechos
musicais marcantes, merecendo relevo, entre outros, o dueto entre Lucia e Edgardo
no final do 1º Acto Verranno a te sull’aure, o sexteto do final do
2º Acto Chi mi frena, a famosíssima e longa cena da loucura de
Lucia no 3º Acto Il dolce suono e o recitativo e ária final de
Edgardo Tu che a Dio spiegasti. Um deleite para os apreciadores do
estilo, entre os quais me incluo.
O maestro Roberto Abbado ofereceu-nos uma óptima
interpretação da música de Donizetti e
mostrou grande respeito pelos cantores, o que ajudou muito à qualidade do
espectáculo.
A protagonista
foi interpretada pela soprano sul-afircana Pretty
Yende. Um colosso! É uma cantora que muito admiro e interpreta de forma
soberba os papéis de belcanto. A
Lucia é um dos mais difíceis e exuberantes e foi magnificamente interpretada
pela Yende. Tem o pacote completo: excelente figura, grande agilidade em palco
e uma voz invulgarmente bela, com agudos estratosféricos, seguros, sempre
perfeitamente audíveis e sem quebrar minimamente a qualidade de topo. A
coloratura é fantástica. É mais uma grande cantora a juntar-se ao rol daquelas
que muito me marcaram nas suas interpretações, algumas aqui referidas.
O Edgardo do
tenor norte-americano Michael Fabiano
foi também de excelente qualidade e não destoou ao lado da Yende. Cenicamente
foi mais estático, mas na interpretação vocal foi também muito bom e teve uma
interpretação em crescendo, reservando o canto mais lírico para as intervenções
finais na ópera, já depois da morte da Lucia.
O barítono
norte-americano Quinn Kelsey foi um
Enrico vilão como se pretende e esteve em grande forma. Em cena foi
irrepreensível e cantou sempre muito bem, voz segura, de grande volume e timbre
muito agradável.
O baixo russo Alexander Vinogradov completou o leque
de artistas de topo na interpretação do Raymondo. É outro cantor com uma
excelente figura, ágil em cena e de voz potente e bonita, com um registo grave
impressionante.
Nos papéis
secundários, Edyta Kulczac foi uma
Alisa competente, Mario Chang um
Arturo eficaz e Ronald Naldi (uma
substituição de última hora) foi o elo mais fraco como Normanno.
No belcanto, a Lucia di Lammermoor é uma
das óperas que mais gosto e esta foi mais uma récita que ficará na minha
memória como um grande espectáculo de ópera.
*****
LUCIA DI
LAMMERMOOR, METropolitan Opera, New York, May 2018
The staging
of the opera Lucia di Lammermoor on
stage at the Met Opera is by Mary
Zimmerman and, in a conventional approach, is very enjoyable. The director
chose dark environments, well adapted to the story and opted for the presence
of the ghost, which makes everything more evident. It has already been
commented on in this blog here and here.
This belcanto opera is one of the maximum
exponents of the Italian operatic romanticism, it contains remarkable parts
and, if well interpreted (it demands a soprano and a tenor of top quality),
provides an exciting spectacle. The coloratura is used in all its splendor in
the transmission of the states of soul of the protagonist and some instruments,
like the harp and the flute, also evoke her nostalgia and pain. The whole opera
is full of remarkable musical pieces, including the duet between Lucia and
Edgardo at the end of the 1st Act Verranno a te sull’aure,, the sextet of the end of the 2nd
Act Chi mi frena, the famous and long
scene of the madness of Lucia in the 3rd Act Il dolce suono and the final recitative and aria of Edgardo Tu che a Dio spiegasti. A sweet for
style lovers, including myself.
Conductor Roberto Abbado offered us a great
interpretation of the music of Donizetti
and showed great respect for the singers, which helped a lot to the quality of
the performance.
The
protagonist was interpreted by the south-afircan soprano Pretty Yende. A colossus! She is a singer who I very much admire
and she interprets in a superb way the belanto
role. Lucia is one of the most difficult and exuberant and has been magnificently
interpreted by Yende. She has the complete package: excellent figure, great
agility on stage and an unusually beautiful voice, with stratospheric top notes,
always perfectly audible and without breaking minimally the top quality. The
coloratura is fantastic. She is another great singer to join the list of those
that have marked me in her interpretations, some of them mentioned in this blog.
Edgardo by
American tenor Michael Fabiano was
also of excellent quality and did not contrast next to Yende. On stage he was
more static, but in the vocal interpretation was also very good and had an
interpretation in crescendo, reserving the most lyrical singing for the final
interventions in the opera, already after the death of Lucia.
American
baritone Quinn Kelsey was the villain
Enrico as expected and had a great performance. On stage he was impeccable and
always sang very well, strong voice, great volume and very pleasant timbre.
Russian
bass Alexander Vinogradov completed the
range of top artists in the role of Raymondo. He is another singer with an
excellent figure, agile on the scene and with a powerful and beautiful voice,
with an impressive low record.
In
secondary roles, Edyta Kulczac was a
competent Alisa, Mario Chang an
effective Arturo and Ronald Naldi (a
last-minute replacement) was the weakest link as Normanno.
In belcanto, Lucia di Lammermoor is one of
the operas that I like best and this was another night that will be in my
memory like a great opera performance.
*****
Sem comentários:
Enviar um comentário