(review in English below)
Foi um privilégio rever na Royal Opera House de Londres
as óperas Cavalleria Rusticana de P. Mascagni e Pagliacci de R Leoncavallo.
A encenação de Damiano Michieletto trouxe a acção para
os finais do século passado e é fabulosa. Num palco rotativo mostra 3 cenários em
sucessão e há elementos comuns às 2 óperas como um crucifixo grande, uma imagem
da virgem Maria, e vários outros elementos. Nas duas óperas é retratado um povo
rude e agressivo do sul da Itália, como bem referiu o camo_opera aqui. O guarda roupa é muito cuidado e adequado à
época e a postura do coro (o povo) é irrepreensível.
A Cavalleria Rusticana começa com o
Turiddu morto, numa poça de sangue, e a mãe Lucia, chorando a morte. Depois a
história retoma o curso habitual, passa-se numa padaria e ao seu redor. Um dos
empregados da padaria é o Silvio da ópera Pagliacci que, no interlúdio musical,
oferece um lenço à cliente Nedda, por quem se apaixona após um beijo. Tudo
decorre sem canto e só na segunda ópera se percebe esta ligação. Também são
colados cartazes a anunciar a ópera Pagliacci, que aparecerão na segunda ópera.
Na procissão a imagem da virgem Maria ganha vida e aponta o dedo acusador à Santuzza,
pecadora, num dos momentos cenicamente mais marcantes. A ópera termina como começou,
com a morte do Turiddu.
Pagliaci decorre no que poderia ser um salão de
festas de um bairro popular. Toda a acção se passa no salão, onde decorre o
espectáculo dos palhaços, no camarim anexo, e nas redondezas. Nas portas, estão
os cartazes que o anunciam, já vistos no primeiro acto. No interlúdio musical
entre os dois actos, aparece a Santuzza ainda a chorar a morte do Turiddu,
consolada por um padre e que se reconcilia com a Mamma Lucia, informando-a que
está grávida. Novamente, tudo acontece em silêncio.
Foi uma das
encenações mais conseguidas que vi destas óperas.
A direcção
musical de Daniel Oren foi boa mas
pobre de quem estava próximo: É daqueles maestros que grunhem e até eu, que
estava longe, ouvia e ficava incomodado porque não só distraia como perturbava
substancialmente a audição da música.
O tenor norte
americano Bryan Hymel foi o Turiddu
e o Canio. Foi excelente. Tem uma voz muito bonita, de agudos aparentemente
fáceis, generosos e de belo efeito. Para além da interpretação vocal, esteve
sempre muito bem em cena.
O barítono Mark Doss fez um Alfio de grande
qualidade. Tem uma voz potente, bem timbrada e foi muito eficaz no desempenho
cénico.
Num naipe de
cantores de topo, destacou-se Elina
Garanca com um desempenho arrasador! Voz sublime em beleza, potência e
afinação e um desempenho irrepreensível. Transmitiu desespero, angústia e
revolta e na cena da procissão esteve particularmente bem. É a Santuzza que Mascagni
deverá ter idealizado!
A Mamma Lucia de Elena Zilio foi outra intérprete de
excepção, cantou de forma impecável e
representou como se estivéssemos a ver um filme.
A Lola de Martina Belli foi muito expressiva, voz
bonita, afinada e presença muito sensual no palco.
O Tonio foi
interpretado pelo barítono inglês Simon
Keenlyside e, também ele, não deixou os seus créditos por mãos alheias. Tem
sempre uma óptima presença em palco e na interpretação vocal esteve ao mais
alto nível. Felizmente que já deverá ter ultrapassado os graves problemas que
teve com a voz.
Carmen Giannattasio foi uma Nedda óptima, outra intérprete excelente
tanto no canto como no desempenho cénico. A voz é muito poderosa, afinada,
apenas nas notas mais agudas é ligeiramente áspera.
O Silvio de Andrzej Filonczyk aliou à interpretação
vocal expressiva e afinada uma postura cénica de superior qualidade.
Finalmente o
português Luis Gomes esteve à altura
dos restantes colegas, interpretando o Beppe com garra e qualidade, em
particular quando fez de Arlecchino na peça. Bravo!
Mais um
espectáculo de topo na Royal Opera House.
*****
CAVALLERIA
RUSTICANA / PAGLIACCI Royal Opera House, London, December 2017
It was a
privilege to review at the Royal Opera
House in London the operas Cavalleria
Rusticana by P. Mascagni and Pagliacci by R Leoncavallo.
The direction
of Damiano Michieletto brought the
action to the end of last century and is fabulous. In a rotating stage it shows
3 scenes in succession and there are elements common to the 2 operas as a great
crucifix, an image of the virgin Mary, and several other elements. In both
operas is portrayed a rude and aggressive people of the south of Italy, as well
referred camo_opera here. The way the people are
dressed is very careful and appropriate to the time and the posture of the
choir (the people) is irreproachable.
Cavalleria Rusticana begins with Turiddu dead in a pool
of blood, and Mother Lucia, mourning his death. Then the story takes up the
usual course, it happens in a bakery and around it. One of the bakery's
employees is Silvio from the opera Pagliacci who, in a musical interlude,
offers a handkerchief to the client Nedda, whom he falls in love with after a
kiss. Everything happens without singing and only in the second opera this
connection is understood. Also posters announcing the opera Pagliacci are
placed on the walls, that will appear in the second opera. In the procession
the image of the virgin Mary comes alive and points an accusing finger at the
sinful Santuzza in one of the most striking moments. The opera ends as it
began, with the death of Turiddu.
Pagliaci takes place in what could be a party hall of a
popular neighborhood. All the action occurs in the hall, where the spectacle of
the clowns takes place, in the attached dressing room, and in the surroundings.
At the doors are the posters that announce the opera, already seen in the first
opera. In the musical interlude between the two acts, Santuzza appears still
crying the death of Turiddu, consoled by a priest. She is reconciled with Mamma
Lucia, informing her that she is pregnant. Again, everything happens in
silence.
It was one
of the most accomplished productions I've seen of these operas.
The musical
direction of Daniel Oren was good but
poor of those who were near: He's one of those grunting maestros, and even me,
who was far away, could hear and was annoyed because it not only distracted but
substantially disturbed the hearing of the music.
North
American tenor Bryan Hymel was
Turiddu and Canio. He was excellent. He has a very beautiful voice, with
seemingly easy, generous and beautiful top notes. In addition to vocal
performance, he was always very well on the scene.
Baritone Mark Doss was a high-quality Alfio. he
has a powerful nice voice and was very effective in scenic performance.
In a group
of top singers, stood out Elina Garanca
with an amazing performance! She has a sublime voice in beauty, power and
tuning and a blameless performance. She transmitted despair, anguish and revolt,
and in the scene of the procession was particularly well. She is the Santuzza
that Mascagni must have idealized!
Mamma Lucia
by Elena Zilio was another
exceptional performer, sang impeccably and performed as if we were watching a
movie.
Lola of Martina Belli was very expressive,
beautiful voice, and very sensual presence on stage.
Tonio was
interpreted by English baritone Simon
Keenlyside and he also did not leave his credits by hands of others. He
always has a great presence on stage and the vocal performance was at the
highest level. Fortunately, he must have overcome the serious problems he had
with his voice.
Carmen Giannattasio was an excellent Nedda, another great
performer in both the singing and on stage. The voice is very powerful, tuned,
only the top notes are slightly rough.
Silvio by Andrzej Filonczyk allied to the
expressive vocal interpretation a scenic presence of superior quality.
Finally
Portuguese Luis Gomes was up to the
other colleagues, interpreting Beppe with claw and quality, in particular when
he made Arlecchino in the play. Bravo!
Another top
performance at the Royal Opera House.
*****
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