(review in English below)
A opera Thaïs de Jules Massenet foi apresentada na Metropolitan Opera numa encenação de John Cox. Os vestidos da Thais foram desenhados pelo estilista
Christian Lacroix.
A história
passa-se em Alexandria e no deserto que a envolve, no Séc IV e retrata o
confronto ente a paixão humana e o fervor religioso.
Thaïs é uma
cortesã que vive luxuosamente em Alexandria à custa de homens ricos. Athanael é
um monge que na juventude foi seduzido pela Thaïs mas está decidido em
convencê-la a mudar de vida e comportar-se como uma cristã. Procura-a na casa
do seu amigo de infância Nicias, actualmente um homem muito rico que a sustenta
e é seu amante. Depois de alguma resistência e humilhação, ela acaba por
decidir partir com o Athanael, incendiando a sua casa e destruindo tudo o que
nela guardava.
Após uma passagem
difícil pelo deserto chegam a um convento, onde ela ficará definitivamente
enclausurada. O Athanael não a consegue esquecer e, meses depois, tem um sonho
erótico e ouve vozes dizendo-lhe que a Thaïs vai morrer. Resolve ir ao convento
resgatá-la, mas chega tarde. As freiras consideram-na uma santa pelo seu
comportamento virtuoso e puro. Ela morre com uma visão dos anjos.
A encenação é
convencional e bonita, com um bom contraste entre as paisagens despidas do
deserto e o ambiente luxuoso onde a Thaïs vive no início. A música é agradável
e contém trechos muito interessantes mas, para mim, o momento superlativo da
ópera é o interlúdio musical entre as duas cenas do segundo acto, com um solo
de violino de uma beleza arrepiante, acompanhado discretamente pela harpa,
outros instrumentos e o Coro em
pianíssimo. No 3º acto o tema regressa várias vezes. Vale a ópera e foi
magnificamente interpretado pelo violinista David Chan.
O maestro francês
Emmanuel Villaume também esteve ao
mais alto nível, tal como a magnífica Orquestra
da casa.
A soprano
norte-americana Ailyn Pérez fez uma
Thaïs sedutora no início e determinada em mudar de vida no final. Tem uma voz
cheia, agudos fáceis e afinados e foi sempre bem audível. Na ária Dis-moi que je suis belle foi marcante mas
foi no final que a interpretação atingiu o auge.
O tenor francês Jean-François Borras tem uma voz bonita
e fez um Nicias cenicamente banal, algo monocórdico e ocasionalmente afogado
pela orquestra.
Também o barítono
canadiano Gerald Finley não foi um
Athanael de qualidade. Tem uma voz muito agradável, mas também se ouviu mal em
diversas partes. O papel é grande e exigente mas, para um cantor desta
craveira, esperava melhor.
Já o baixo
barítono Bradley
Garvin que substituiu Finley na 2ª
récita que vi foi excelente tanto na interpretação cénica como vocal do
Athanael. A voz é muito ampla, sempre bem colocada, timbre bonito e
expressividade marcante.
Deixaram muito boa impressão
a mezzo Sara Gouden como Madre
Albine e o baixo-barítono David
Pittsinger como Palémon.
*****
THAÏS,
METropolitan Opera, New York, November 2017
Jules Massenet's opera Thaïs
was performed at the Metropolitan Opera
in New York in a performance directed by John
Cox. Thais' dresses were designed by fashion designer Christian Lacroix.
The story
takes place in Alexandria and in the desert that surrounds it, in the fourth
century, and it portrays the confront of human passion and religious fervor.
Thaïs is a
courtesan luxuriously living in Alexandria at the expense of wealthy men.
Athanael is a monk who in his youth was seduced by Thaïs but is determined to convince
her to change her lifestyle and behave like a Christian. He looked for her at
the home of his childhood friend Nicias, now a very wealthy man who supports
Thaïs and is his lover. After some resistance and humiliation, she decides to
leave with Athanael, setting fire to her house and destroying everything in it.
After a
difficult passage through the desert they arrive at a convent, where she will
be definitively enclosed. Athanael cannot forget her, and months later he has
an erotic dream and hears voices telling her that Thaïs is going to die. He
decides to go to the convent to rescue her, but it is too late. The nuns
consider her a saint for her virtuous and pure behaviour. She dies with a
vision of the angels.
The staging
is conventional and beautiful, with a good contrast between the bare desert
landscapes and the luxurious surroundings where Thaïs lives at the beginning.
The music is pleasant and contains very interesting passages but, for me, the
superlative moment of the opera is the musical interlude between the two scenes
of the second act, with violin solo of a chilling beauty, Meditation, discreetly
accompanied by the harp, other instruments and the Chorus in pianissimo. In the
3rd act the theme returns several times. By itself, it worth the opera and was
magnificently played by the violinist David
Chan.
The French
conductor Emmanuel Villaume was also
at the highest level, just like the magnificent Orchestra of the house.
American
soprano Ailyn Pérez was a seductive
Thaïs at the beginning and determined to change her life in the end. She has a
full voice, easy tuned top notes and always well audible. In the aria Dis-moi que je suis belle she was
remarkable but it was in the end that the interpretation reached its peak.
French
tenor Jean-François Borras has a
beautiful voice and made trivial Nicias, somehow monotonous and occasionally
drowned by the orchestra.
Also the
Canadian baritone Gerald Finley was
not a top quality Athanael. He has a very pleasant voice, but he has also been
heard badly in several moments. The character is big and demanding but, for a
singer of his quality, I was expecting better.
In
contrast, bass baritone Bradley Garvin
who replaced Finley in the 2nd recital I attended was excellent both in the
scenic and vocal performance of Athanael. The voice is very wide, always well
tuned, beautiful timbre and striking expressiveness.
Mezzo Sara Gouden as Mother Albine and
bass-baritone David Pittsinger as
Palémon left a very good impression in their small roles.
*****
Muito obrigado pela sua crónica, muito interessante, adoro Thais.
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