(review in English below)
Mais uma vez tive
possibilidade de assistir à Madama
Butterfly de Puccini na
encenação de Anthony Minghella,
originária da English National Opera, mas que é periodicamente posta em cena na
Metropolitan Opera. Também esta
ópera e, especificamente, esta produção já foram anteriormente comentadas neste
blogue.
Contudo, não
posso deixar de referir que é, para mim, uma das encenações mais bonitas e
espectaculares que alguma vez vi na ópera. Não me canso de a admirar e acho que
Minghella teve um rasgo de génio quando a concebeu. O palco está vazio e quase
tudo é conseguido com o efeito de luzes, biombos, lanternas japonesas e pouco
mais. O guarda roupa de Han Feng é
também fabuloso e, claro, a utilização de marionetas japonesas Bunraku, como o
filho da Cio Cio San, completam a magia em palco.
A música é de uma
beleza invulgar e de profunda intensidade dramática à medida que se vai
traçando o destino da Cio Cio San, a mais sofrida e desprotegida de todas as
heroínas puccinianas. Nesta encenação insuperável, a obra atinge um patamar
inultrapassável em espectáculos de ópera – a perfeição!
Quanto aos
artistas, dirigiu superiormente a excelente orquestra da Met Opera o maestro
italiano Jader Bignamini. O coro foi
também fantástico nas discretas intervenções, particularmente na intervenção
sussurrada no 2º acto.
A soprano chinesa
Hui He, que já tinha visto cantar a
Butterfly anteriormente, ofereceu-nos uma interpretação de qualidade superior,
tanto cénica como vocal. Este é, de longe, o papel mais importante e difícil da
ópera porque está quase sempre em cena e atravessa uma grande diversidade de
emoções. Tem uma voz respeitável, sempre audível sobre a orquestra, com agudos
francos mas não gritados. Foi doce e sensual no início evoluindo para decidida
e obstinada no 2º acto até ao desespero total, resignação e autodestruição no
final.
O tenor italiano Roberto Aronica fez um Pinkerton muito
elegante na interpretação. Boa movimentação cénica e cantou sempre muito
afinado e empenhado. No dueto de amor no final do primeiro acto esteve
irrepreensível e ajudou muito à magia do momento.
A mezzo norte-americana
Maria Zifchak há anos que interpreta
a Suzuki e fá-lo com grande qualidade. É muito convincente em cena e tem uma
voz de grande qualidade que projecta com eficácia e grande controlo.
O barítono sérvio
David Bizic foi um Sharpless
inquieto e impotente, de voz bonita e sempre bem audível. Tiveram também interpretações
de qualidade Tony Stevenson como
Goro e Avery Amerceau como Kate
Pinkerton, e foi aceitável o desempenho de
Kidon Choi como príncipe
Yamadori.
Um espectáculo
absolutamente deslumbrante e inesquecível!
*****
MADAMA
BUTTERFLY, METropolitan Opera, New York, November 2017
Once again,
I was able to watch Puccini's Madama Butterfly in the production of Anthony Minghella, originally from the
English National Opera, but that is periodically put on stage at the Metropolitan Opera in New York. Also
this opera and, specifically, this production were previously commented in this
blog.
However, I
cannot fail to mention that this is, for me, one of the most beautiful and
spectacular productions I have ever seen in opera. I never tire of admiring it,
and I think Minghella had a genius inspiration when he conceived it. The stage
is empty and almost everything is achieved with the effect of lights, screens,
Japanese lanterns and little else. The costumes of Han Feng are also fabulous and of course the use of Bunraku
Japanese puppets, like the son of Cio Cio San, complete the magic on stage.
The music
is of an unusual beauty and of deep dramatic intensity as the destiny of Cio
Cio San, the most suffering and unprotected of all the Puccinian heroines, is
traced. In this unique staging, the work reaches an unsurpassed level in opera
performances - perfection!
As for the
artists, Italian maestro Jader Bignamini
directed the excellent orchestra of Met Opera. The Chorus was also fantastic in the discreet interventions,
particularly in the whispered intervention in the 2nd act.
Chinese
soprano Hui He, who I had previously
seen singing Butterfly, offered us a superior performance, both scenic and
vocal. This is by far the most important and difficult role of the opera
because she is almost always on stage and goes through a great diversity of
emotions. She has a respectable voice, always audible over the orchestra, with
frank but not shrill top notes. She was sweet and sensual in the beginning evolving
to decided and stubborn in the 2nd act until in total despair, resignation and
self-destruction in the end.
Italian
tenor Roberto Aronica was a very
elegant Pinkerton in the interpretation. Good scenic drive and always sang very
attuned and committed. In the duet of love at the end of the first act was
impeccable and helped much to the magic of the moment.
American
mezzo Maria Zifchak has for years
interpreted Suzuki and does it with great quality. She is very convincing on
the scene and has a great voice that projects with efficiency and great
control.
Serbian
baritone David Bizic was a restless
and impotent Sharpless, with a beautiful always well audible voice. Also with
high quality interpretations were Tony
Stevenson as Goro and Avery Amerceau
as Kate Pinkerton, and an acceptable performance of Kidon Choi as Prince Yamadori.
An
absolutely stunning and unforgettable opera production!
*****
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