segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

DON GIOVANNI, Staatsoper Unter den Linden, Berlim / Berlin, Janeiro / January 2018



 (Review in English below)

Um fim de semana mozartiano que começou hoje na renovada Staatsoper Unter den Linden. As cadeiras estão com os estofos tensos (a completa antítese das do TNSC) e confortáveis, a sala continua imponente e o restante está com bom aspecto. Continuam é com a obrigatoriedade de deixar os casacos no bengaleiro o que, para pessoas como nós que vão à vontade, e principalmente nos meses de frio (a propósito, está um frio que não se pode e eu já não vinha à Europa Central em Janeiro há 5 anos pelo que o meu corpo já estava desabituado...) sobressai ainda mais esse à vontade, na sala que considero como a mais desconfortável e austera de sempre nesta questão de vestes. Contudo, ao meu lado direito e esquerdo, na 1ª fila da plateia, estavam 2 rapazes da minha idade ou pouco mais, de calças de ganga e camisola como eu.

Em busca de recordações antigas, o célebre (e repetidamente presente nas minhas escolhas do passado) Don Giovanni do Claus Guth valeu e bem ser vivido novamente. Começou um pouco “empastelado” mas a partir do La ci darem la mano explodiu para uma noite estrelar. A encenação é talvez a mais inovadora que se fez para o Don Giovanni e o Christopher Maltman, que penso ter sido desde Salzburgo em 2006, o único Don desta encenação nos sítios onde já esteve, foi genial. O homem vive cénica e vocalmente este Don na visão de Guth de forma arrepiante, sem falhas, sem descurar nenhum pormenor, fazendo-nos querer ver e continuar a ver, mais e mais.



Depois daquela horripilante Desdemona em Londres em Julho, Dorothea Roschmann voltou ao compositor que a lançou e para o qual a sua voz mais se enquadra, oferecendo uma Donna Elvira apaixonantemente completa. Maria Bengtsson, a qual sempre ouvi apenas no papel de Donna Anna, tem a qualidade ímpar de conseguir cantar o papel sem excessos, sem gritos, na intensidade perfeita, atingindo com facilidade todas as notas e oferecendo um lirismo celestial na última ária.



Se ainda melhor se podia pedir, eis que aparece a Anna Prohaska que sempre foi excelente mas que hoje pareceu ainda melhor. Adoro-a neste papel de Zerlina! Atrevo-me a escolher as suas árias e a final da Donna Anna como o que gostaria de ouvir de novo (e de novo, e de novo) se pudesse rebobinar a récita... Mikhail Petrenko foi uma surpresa para mim. Não me convenceu no início (italiano que parecia com sotaque serrado russo, actuação cénica pouco cuidada) mas a sua evolução durante a ópera foi surpreendente, num dos papéis mais difíceis de interpretar convincentemente na História da Ópera - Leporello. O Don Ottavio do Paolo Fanale foi inconstante, agudos em esforço e perdendo qualidade de timbre, embora seja bem apessoado. Masetto excelente e o Comendador podia ser um bocadinho mais cavernoso mas cumpriu bem.







Texto de wagner_fanatic


DON GIOVANNI, Staatsoper Unter den Linden, Berlin, January 2018

A Mozartian weekend that started today in the renewed Staatsoper Unter den Linden. The chairs are in tense upholstery (the complete antithesis of the Teatro São Carlos) and comfortable, the room remains stately and the rest look good. It is still with the obligation to leave the coats in the cloakroom, which for people like us who go dressed casually, and especially in the cold months (by the way, it is an unbearable cold and I did not come to Central Europe in January in the last five years, my body was already unused...) stands out even more at ease, in the room that I consider to be the most uncomfortable and austere ever in this matter of code dress. However, on my right and left side, in the first row of the audience, were two boys of my age in jeans and a sweater like me.

In search of ancient memories, the celebrated (and repeatedly present in my choices of the past) Don Giovanni by Claus Guth was worth be lived again. It started out a bit "jammed" but from the La ci darem la mano exploded for a starry night. The staging is perhaps the most innovative for Don Giovanni and Christopher Maltman, who I think has been since Salzburg in 2006, the only Don of this staging where he has been, was great. He lives scenic and vocally this Don in Guth's vision in a chilling, flawless way, without neglecting any detail, making us want to see and continue to see, more and more.

After that horrifying Desdemona in London in July, Dorothea Roschmann returned to the composer who launched her and to which her voice most fits, offering a passionately complete Donna Elvira. Maria Bengtsson, whom I have always heard in the role of Donna Anna, has the unique quality of being able to sing the role without excess, without shouting, in the perfect intensity, easily reaching all the notes and offering a celestial lyricism in the last aria.


If we could expect better, Anna Prohaska appeared, which was always excellent but today seemed even better. I love her in this role of Zerlina! I dare to choose her arias and the Donna Anna final as what I would like to hear again (and again, and again) if I could rewind the performance ... Mikhail Petrenko was a surprise to me. He did not convince me at first (Italian that looked like Russian accent, little care of scenic acting) but his evolution during the opera was surprising, in one of the most difficult roles to interpret convincingly in the History of Opera - Leporello. Paolo Fanale's Don Ottavio was inconsistent, keen on effort and losing timbre quality, although he is very personable. Excellent Masetto and the Commander could be a bit more cavernous but he did well.

Text by wagner_fanatic

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