Um fim de semana mozartiano que começou hoje na renovada Staatsoper Unter den Linden. As
cadeiras estão com os estofos tensos (a completa antítese das do TNSC) e
confortáveis, a sala continua imponente e o restante está com bom aspecto.
Continuam é com a obrigatoriedade de deixar os casacos no bengaleiro o que,
para pessoas como nós que vão à vontade, e principalmente nos meses de frio (a
propósito, está um frio que não se pode e eu já não vinha à Europa Central em
Janeiro há 5 anos pelo que o meu corpo já estava desabituado...) sobressai
ainda mais esse à vontade, na sala que considero como a mais desconfortável e
austera de sempre nesta questão de vestes. Contudo, ao meu lado direito e
esquerdo, na 1ª fila da plateia, estavam 2 rapazes da minha idade ou pouco
mais, de calças de ganga e camisola como eu.
Em busca de recordações antigas, o célebre (e repetidamente presente nas
minhas escolhas do passado) Don Giovanni
do Claus Guth valeu e bem ser vivido
novamente. Começou um pouco “empastelado” mas a partir do La ci darem la mano explodiu para uma noite estrelar. A encenação é
talvez a mais inovadora que se fez para o Don Giovanni e o Christopher Maltman, que penso ter sido desde Salzburgo em 2006, o
único Don desta encenação nos sítios onde já esteve, foi genial. O homem vive
cénica e vocalmente este Don na visão de Guth de forma arrepiante, sem falhas,
sem descurar nenhum pormenor, fazendo-nos querer ver e continuar a ver, mais e
mais.
Depois daquela horripilante Desdemona em Londres em Julho, Dorothea Roschmann voltou ao compositor
que a lançou e para o qual a sua voz mais se enquadra, oferecendo uma Donna
Elvira apaixonantemente completa. Maria
Bengtsson, a qual sempre ouvi apenas no papel de Donna Anna, tem a
qualidade ímpar de conseguir cantar o papel sem excessos, sem gritos, na
intensidade perfeita, atingindo com facilidade todas as notas e oferecendo um
lirismo celestial na última ária.
Se ainda melhor se podia pedir, eis que aparece a Anna Prohaska que sempre foi excelente mas que hoje pareceu ainda
melhor. Adoro-a neste papel de Zerlina! Atrevo-me a escolher as suas árias e a
final da Donna Anna como o que gostaria de ouvir de novo (e de novo, e de novo)
se pudesse rebobinar a récita... Mikhail
Petrenko foi uma surpresa para mim. Não me convenceu no início (italiano
que parecia com sotaque serrado russo, actuação cénica pouco cuidada) mas a sua
evolução durante a ópera foi surpreendente, num dos papéis mais difíceis de
interpretar convincentemente na História da Ópera - Leporello. O Don Ottavio do
Paolo Fanale foi inconstante, agudos
em esforço e perdendo qualidade de timbre, embora seja bem apessoado. Masetto
excelente e o Comendador podia ser um bocadinho mais cavernoso mas cumpriu bem.
Texto de wagner_fanatic
DON
GIOVANNI, Staatsoper Unter den Linden, Berlin, January 2018
A Mozartian
weekend that started today in the renewed Staatsoper
Unter den Linden. The chairs are in tense upholstery (the complete
antithesis of the Teatro São Carlos) and comfortable, the room remains stately
and the rest look good. It is still with the obligation to leave the coats in
the cloakroom, which for people like us who go dressed casually, and especially
in the cold months (by the way, it is an unbearable cold and I did not come to
Central Europe in January in the last five years, my body was already unused...)
stands out even more at ease, in the room that I consider to be the most
uncomfortable and austere ever in this matter of code dress. However, on my
right and left side, in the first row of the audience, were two boys of my age
in jeans and a sweater like me.
In search
of ancient memories, the celebrated (and repeatedly present in my choices of
the past) Don Giovanni by Claus Guth was worth be lived again. It
started out a bit "jammed" but from the La ci darem la mano exploded for a starry night. The staging is
perhaps the most innovative for Don Giovanni and Christopher Maltman, who I think has been since Salzburg in 2006,
the only Don of this staging where he has been, was great. He lives scenic and
vocally this Don in Guth's vision in a chilling, flawless way, without
neglecting any detail, making us want to see and continue to see, more and
more.
After that
horrifying Desdemona in London in July, Dorothea
Roschmann returned to the composer who launched her and to which her voice
most fits, offering a passionately complete Donna Elvira. Maria Bengtsson, whom I have always heard in the role of Donna
Anna, has the unique quality of being able to sing the role without excess,
without shouting, in the perfect intensity, easily reaching all the notes and
offering a celestial lyricism in the last aria.
If we could
expect better, Anna Prohaska
appeared, which was always excellent but today seemed even better. I love her
in this role of Zerlina! I dare to choose her arias and the Donna Anna final as
what I would like to hear again (and again, and again) if I could rewind the performance
... Mikhail Petrenko was a surprise
to me. He did not convince me at first (Italian that looked like Russian
accent, little care of scenic acting) but his evolution during the opera was
surprising, in one of the most difficult roles to interpret convincingly in the
History of Opera - Leporello. Paolo
Fanale's Don Ottavio was inconsistent, keen on effort and losing timbre
quality, although he is very personable. Excellent Masetto and the Commander
could be a bit more cavernous but he did well.
Text by wagner_fanatic
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