Tristan und Isolde de R.
Wagner esteve em cena na Metropolitan
Opera de Nova Iorque em Outubro de 2016 na produção de Mariusz Trelinski que trouxe a acção para a actualidade, numa
encenação muito escura, fria e desinteressante.
Logo de início,
na abertura, aparece a imagem de um radar que continuará pela ópera fora. No
primeiro acto a acção passa-se num navio de guerra, vendo-se vários níveis em
partes ou em simultâneo, nomeadamente a ponte, onde está o Tristão como
capitão, fardado de escuro, um andar intermédio com os aposentos de Isolda e
Bragane e um andar inferior onde são recreados episódios do passado,
nomeadamente a morte do pai do Tristão. O efeito é interessante, mas pouco
eficaz.
O segundo acto
começa na ponte do navio, mas o grande diálogo de amor entre Tristão e Isolda
passa para uma cave escura com bidons de combustível, em total contraste com a
noite estrelada que é descrita pelos intervenientes. O rei Marke aparece
impecavelmente fardado de branco, tal como havia aparecido o pai morto do
Tristão nas imagens projectadas no início.
No terceiro tudo
é mais metafórico e confuso. O Tristão moribundo aparece numa cama de hospital,
cuidado pelo Kurwenal. No que julgo serem os seus pensamentos, aparece uma
criança que o retrata na infância e, novamente, a imagem do pai e o incêndio
destrutivo vivido à época. A cena final da morte da Isolda decorre com ela
a cantar num canto do palco, sentada ao lado do Tristão, também sentado.
É uma encenação
confusa, muito escura, com incongruências, ineficaz e pouco vistosa.
O maestro
israelita Asher Fisch não mostrou
qualquer preocupação com os solistas pois pôs a orquestra sempre a tocar muito
alto, abafando-os frequentemente. Foi um contraste total com a direcção de
Simon Rattle, que ouvi na transmissão MetLive e que primou pelo respeito pelos cantores,
apesar de a verdade musical não transparecer nestas transmissões.
Em contraste com
a encenação, os solistas foram excelentes.
A Isolda da
soprano sueca Nina Stemme foi, mais
uma vez, arrasadora. É a melhor soprano wagneriana da actualidade e uma das
melhores de sempre. (Que segredo haverá na Escandinávia, terra de origem da
maioria dos melhores sopranos wagnerianos?). Cenicamente muito convincente,
teve uma interpretação fantástica, muito expressiva e emotiva, com um colorido
vocal impressionante, sempre audível sobre a orquestra (o que foi obra com este
maestro). Fabulosa!
A mezzo russa Ekaterina Gubanova também fez uma
Bargane de muito boa qualidade cénica e vocal, transbordando angustia nos
impressionantes diálogos com a Isolda.
Continuo a achar
que não há Tristãos à altura da Isolda da Stemme. Stuart Skelton, tenor australiano, fez um Tristão de qualidade, com
algumas fragilidades no 2º acto, mas no 3º a interpretação foi de grande nível
vocal e muito expressiva, apesar de a encenação não ajudar.
Outro cantor de
excelência foi o baixo alemão René Pape
que interpretou de forma exímia o Rei Marke. Voz belíssima, muito poderosa e
sempre bem projectada, foi o outro que Fisch não conseguiu abafar com a
orquestra.
O Kurwenal do baixo-barítono
russo Evgeni Nikitin esteve à altura
dos restantes. O cantor tem uma voz relativamente pequena, mas de grande beleza
e foi muito expressivo na interpretação. Se as suas tatuagens já lhe causaram
dissabores no passado, neste papel assentam-lhe bem.
Merece ainda relevo o excelente solo de corne inglês de Pedro Diaz.
No final do
espectáculo, os cantores apareceram à frente de um pano negro (a condizer com a
encenação), o que impediu um registo fotográfico minimamente aceitável.
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TRISTAN UND
ISOLDE, Metropolitan Opera, October 2016
Tristan und Isolde by R.
Wagner was on stage at the Metropolitan
Opera in New York in October 2016 in a production by Mariusz Trelinski who brought the action to the present times, in a
very dark, cold and uninteresting staging.
During the
overture, the image of a radar appears and will continue to be seen during the
opera. In the first act the action takes place in a warship, in various levels seen
in parts, or simultaneously, including the command room, where the Tristan is
the captain, dressed in a dark uniform. In another floor is the quarters of
Isolde and Bragane and in a lower floor episodes of the past are recreated,
including the death of Tristan's father. The effect is interesting, but not
very effective.
The second
act begins in the command room of the ship, but the great dialogue of love
between Tristan and Isolde takes place in a dark cave with tanks of fuel, in
stark contrast to the starry night which is described by the singers. King
Marke appears impeccably uniformed in white, as had appeared in the images that
projected the dead father of Tristan in the beginning of the opera.
The third act
it is more metaphorical and confusing. The dying Tristan appears in a hospital
bed, cared for by Kurvenal. In which I believe were his thoughts, appears a
child who portrays him in childhood and again, the image of his father and the
destructive fire lived in childhood. The final scene of the death of Isolde happens
with her singing in a side of the stage, sitting next to Tristan, also sitting.
It is a
confusing staging, very dark, with incongruities and ineffective.
The Israeli
conductor Asher Fisch showed no
concern for the singers as he put the orchestra always playing too loud,
drowning them often. It was a stark contrast to the direction of Simon Rattle
that I heard during the MetLive transmission and that excelled by respect for
singers, although the truth of the music does not really happens in these broadcasts.
In contrast
to the staging, the soloists were excellent.
Isolde by Swedish
soprano Nina Stemme was once again
overwhelming. She is the best Wagnerian soprano of our time and one of the best
ever. (What is the secret of Scandinavia, land of origin of most of the best Wagnerian
sopranos?). Scenically she was very convincing, a fantastic interpretation,
very expressive and emotional, with an impressive coloured voice, always
audible over the orchestra (which was difficult with this conductor). Fabulous!
Russian
mezzo Ekaterina Gubanova also made a
Bargane ofvery good quality on stage and
vocal, overflowing anguish in impressive dialogues with Isolde.
I still
think that there are no Tristans up to the Isolde of Stemme. Stuart Skelton, Australian tenor, was a
quality Tristran, with some weaknesses in the 2nd act, but on the 3rd
his interpretation was of great vocal quality, although the staging did not
help.
Another
singer of excellence was German bass René
Pape who played an excellent King Marke. Beautiful very powerful and
always in tune voice, he was the other one that Fisch could not drown out with
the orchestra.
Russian bass-baritone
Evgeny Nikitin was up to the others as
Kurvenal. The singer has a relatively small voice, but of great beauty and was
very expressive in the interpretation. If histattoos have caused him troubles
in the past, in this role they are perfectly suited.
Also excellent
was the English horn solo by Pedro Diaz.
At the end
of the performance, the singers appeared in front of a black cloth (to match
the staging), which prevented an acceptable photographic record.
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É tão bom pelo menos que o canto seja magnífico ! até tremo a pensar no dia em que aceitem vozes quaisquer a condizer com encenações quaisquer.
ResponderEliminarTenciono dar um salto ao ROH Covent Garden ver a Manon Lescaut (que nunca vi) dirigida por Pappano. Espero que seja bem cantada, mas receio odiar os cenários modernaço-provocatórios. Conhece, Fanático_Um ?
Não conheço a produção de Kent da ROH, mas o teatro é, para mim, a melhor casa de ópera. Bonita, dimensões ideais, público educado, elencos habitualmente muito bons (será o caso nesta Manon Lescaut). As encenações mais actuais podem ser sempre muito "challenging"... Desejo-lhe um óptimo espectáculo e depois conte como foi.
ResponderEliminarQuem é este Luís Gomes no elenco da Manon Lescaut?
ResponderEliminarNão conheço
Eliminarhttp://www.luisgomestenor.com/biography
EliminarPortanto, ora aqui está um tenor português emigrado. Bem irónico aparecer agora, um par de semanas depois do texto do FanáticoUm...
EliminarQuanto ao Tristão, gostaria de comentar que o pai me pareceu ser o Morold e apontar um aspecto sobre o acto II. No Pelléas et Melisande, Golaud vai à janela e vê lobos escondidos na floresta; Melisande vê o mar a brilhar no fim da floresta. O contraste está no libretto. E se o encenador estiver a sugerir, no dueto da Liebesnacht, que o humano comum olha para a história do Tristão e vê uma realidade cruel, povoada de barris de gasolina, enquanto os amantes vêm a noite estrelada? É uma imagem potente. Na Gulbenkian esta opção não me chocou intuitivamente - mas agora começa a agradar-me.
Caro Plácido Zacarias, é uma interpretação possível ou até provável, mas confesso as minhas limitações em conseguir alcançar estas interpretações dos encenadores. Prefiro abordagens mais específicas, sejam elas mais clássicas ou não, mas mais explícitas.
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