ASSISTA DE OLHOS BEM FECHADOS A ÓPERA MACBETH NO THEATRO
MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
A ópera Macbeth de
Giuseppe Verdi estreou no último dia
23 no Theatro Municipal de São Paulo. Autoridades compareceram aos montes e
onde tem autoridade tem fotógrafos e muitos papagaios de pirata. O senhor
prefeito nos honrou com sua presença, tirou inúmeras fotos ao lado do diretor
da ópera Robert Wilson. Muitos anônimos tentaram seus quinze minutos de fama e
buscaram uma foto fingindo ser importante. Vamos à ópera que é o que interessa.
É salutar e interessante que diretores gringos venham trazer
novas ideias as montagens do maior teatro paulistano, mas cuidado com as
escolhas. O diretor teatral Robert
Wilson exagerou na dose, gosta de se mostrar inovador e de vanguarda, mas
seu trabalho nesse Macbeth foi um fiasco.
Personagens sem vida, todos estáticos e sem nenhuma
interpretação da obra. Frios e paralisados lembram o personagem doutor Spock de
Jornada nas Estrelas. Transformou o figurino de Lady Macbeth em um misto de
Cio-Cio-San e Turandot. A posição das mãos e a maneira de andar de todos os
personagens são sempre iguais, os figurinos parecidos e os cenários
inexistentes. A luz é inovadora e interessante. Sua visão da obra é a
inexistência de emoções, todos são gélidos e com a mesma personalidade.
Dirigir ópera no Theatro Municipal de São Paulo segue uma
fórmula contínua: inexistência de cenários, luz pra todo lado, telas que sobem
e descem e uma projeção de vídeo para ajudar. Tenho visto isso nas últimas
apresentações e essa fórmula está cansando. Alguns vão dizer que eu não tolero
obras modernas e de vanguarda, tolero sim. Vejam a produção do Scala de Milano
com Renato Bruson Carlo Colombara de 1997 ou a do Metropolitan Opera de Nova
Yorque de 2008, obras que modernizam o Macbeth sem fazer lambança com ele.
Travados pela direção maluca de Robert Wilson ou Bob para os
íntimos os solistas deram conta do recado. Anna
Pirozze fez uma grande Lady Macbeth, sua voz saiu pujante, forte e sólida.
Seu timbre escuro munido de belos agudos mostrou qualidade e calor na voz.
Grande soprano. O barítono Angelo Veccia
fez um Macbeth comum, sua voz não tem o calor, força e a vivacidade de um
grande barítono verdiano. Seu timbre um pouco áspero até combina com o
personagem, mas a falta de interpretação atrapalha.
O baixo Carlo Cigni mostrou
ter uma voz grande com graves quentes e maduros. Um baixo digno da tradição
verdiana, uma voz encorpada e possante. Uma voz que penetra na alma. Lorenzo Decaro tem uma bela voz de
tenor, defendeu sua pequena participação com um timbre cristalino.
O Coral Lírico
esteve soberbo, em todas as intervenções mostrou qualidade vocal superlativa.
Vozes harmoniosas e adequadas, consistência do início ao fim da apresentação. O
Coral Lírico pode cantar em qualquer teatro do mundo porque está sempre em alto
nível. A Orquestra Sinfônica Municipal
apresentou bela musicalidade, nas mãos do competente Abel Rocha soou sublime. Volume e tempos corretos foram a tônica da
apresentação. Abel Rocha, de ópera o homem entende.
A melhor maneira de assistir a esse Macbeth é de olhos bem
fechados. Você escuta as belas melodias verdianas, ouve as grandes vozes dos
solistas, do coral e da orquestra e não vê as bobagens que o diretor inventa.
Esse quer aparecer mais que a obra, quer ser mais que Verdi.
Vá pesquisar melhor sobre o trabalho de Robert Wilson antes de sair escrevendo qualquer bobagem. Já teve notícia da ópera Einstein on the Beach (1976) ou preferiu fechar os olhos também?
ResponderEliminarDesculpe, Fanatico_Um, mas tenho que concordar com o Anônimo acima. Bob Wilson, que não me é íntimo de forma alguma, fez um trabalho competente. Ele resgata o teatro de sombras, assim como a maquiagem e o gestual da ópera de Pequim. É uma leitura autoral, sim, mas consistente. Com a competente iluminação, traz para o presente uma matéria difícil e distante de nós. Posso ponderar que o que se poderia dizer mais apropriadamente é que toda essa recriação dele poderia deslocar a atenção, tirar o foco da obra de Verdi. Mas o fato é que isso não chega a ocorrer pelo desempenho maravilhoso da soprano, que sustenta o espetáculo. De resto, concordo com você nas avaliações dos solistas e da orquestra. Abs.
ResponderEliminarRenata,
EliminarObrigado pelo seu comentário. Não tem que me pedir desculpa. O texto acima é da autoria de Ali Hassan Ayache e não minha. Apenas me limitei a colocáa-lo no blogue. Aceitamos textos de outros, desde que sobre a temática do blogue.
Infelizmente nem vi (nem posso ver) esta produção, dado que ela é de São Paulo e eu vivo em Lisboa.
Cumprimentos de Portugal.