(review in English below)
Foi com grande gosto que revi a produção da Royal Opera House de Londres da ópera Così fan Tutte de Mozart.
A encenação de Jan Philipp Gloger é muito agradável, mistura épocas e recorre ao espectáculo dentro do espectáculo.
Logo durante a abertura aparecem os cantores, vestidos à época, a agradecer os aplausos do público, fazendo os gestos habituais da ocasião. Depois percebemos que estes não são os solistas, os dois casais aparecem na plateia e são espectadores da Royal Opera. Os quadros sucessivos são muito variados, misturando épocas: um bar actual, uma estação de comboios de meados do século passado, o jardim do Éden com maçãs, dinheiro e a serpente, um teatro barroco e o final com um painel gigante onde está iluminado Cosi Fan Tutte(i). É uma encenação vistosa, alegre e muito diversificada.
O maestro Richard Hetherington (em substituição de Julia Jones) foi óptimo e a orquestra esteve em grande nível.
Os cantores solistas foram todos excelentes. Os dois pares de noivos eram jovens, o que deu grande credibilidade à interpretação cénica. O baixo-barítono alemão Gordon Bintner foi um Guglielmo de voz bonita, firme e potente. Presença sempre muito ágil e insinuante, muito favorecido pela sua figura.
O tenor russo Bogdan Volkov fez um Ferrando muito lírico embora tenha sido o cantor que menos me impressionou, apesar de muito bom.
Jennifer Davis, soprano irlandesa, é um colosso a cantar! Voz enorme, ágil e afinada. Excelente na emotividade da aria Per pietà, ben mio, perdona, foi fabulosa em toda a récita.
A mezzo franco-canadiana Julie Boulianne foi uma Dorabella de voz bonita que esteve sempre bem e afinada ao longo de toda a récita. Em cena, uma interpretação muito boa.
O veterano barítono italiano Lucio Gallo foi um Don Alfonso muito bem adaptado à personagem e cantou sempre ao mais alto nível
A soprano italiana Serena Gamberoni foi talvez a melhor Despina que vi e ouvi. Excelente movimentação em palco, muito enérgica e a interpretação vocal também de uma qualidade elevada.
Um excelente espectáculo!
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COSI FAN TUTTE, Royal Opera House, July 2022
It was with great pleasure that I reviewed the production at the Royal Opera House in London of Mozart's opera Così fan Tutte.
Jan Philipp Gloger's staging is very pleasant, mixing different time periods and picturing the performance in the performance within the show. During the overture, the singers appear, dressed in 18th century clothes, thanking the audience for the applause, making the gestures they usually do on this occasion. Later we realize that these are not the soloists, the two couples appear in the audience and are members of the public of the Royal Opera. The successive parts are very varied, mixing periods: a modern bar, a train station from the middle of the last century, the garden of Eden with apples, money and the snake, a baroque theater, and the end with a giant panel where Cosi Fan Tutte(i) is lit. It's a showy, cheerful and very diverse staging.
Conductor Richard Hetherington (replacing Julia Jones) was great and the orchestra was at a high level.
The soloist singers were all excellent. The two pairs of bride and groom were young, which gave great credibility to the scenic interpretation. German bass baritone Gordon Bintner was a Guglielmo with a beautiful, firm and powerful voice. His presence was always very agile and insinuating, much favored by his figure.
Russian tenor Bogdan Volkov was a very lyrical and beautiful-voiced Ferrando, although he was the singer who least impressed me, despite being very good.
Jennifer Davis, Irish soprano, is a singing colossus! Huge voice, beautiful, agile and in tune. Excellent in the emotionality of the aria Per pietà, ben mio, perdona, she was fabulous throughout the performance.
French-Canadian mezzo Julie Boulianne was a Dorabella with a beautiful voice that was always well and in tune throughout the entire opera. On stage, a very good performance.
Veteran Italian baritone Lucio Gallo was a Don Alfonso very well adapted to the character and always sang at the highest level.
Italian soprano Serena Gamberoni was perhaps the best Despina I have seen and heard. Excellent movement on stage, very energetic and the vocal interpretation was also of a high quality.
An excellent performance!
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