quarta-feira, 2 de outubro de 2019

PAGLIACCI/CAVALLERIA RUSTICANA — DE NATIONALE OPERA, Amesterdão, setembro de 2019


(in English bellow)

Assisti à apresentação das óperas Pagliacci de Leocavallo e Cavalleria Rusticana de Mascagni na ópera de Amesterdão.


A encenação ficou a cargo de Robert Carsen. Como lhe é típico, sugere que o público faz parte da obra. Assim, coloca o coro nas primeiras três filas do teatro, movimentando-se este depois para o palco que é um enorme camarim, cheio de espelhos e luzes, mas despido e escuro. Toda a ação se passa aí e num teatro ambulante que surge mais tarde para o desfecho trágico final onde as personagens são apresentadas nas mesmas roupagens, mas extremamente caricaturadas pelo tamanho excessivo. A transição para a Cavalleria faz-se com a cena final de Pagliacci em que os “atores” permanecem estáticos como se de um quadro se tratasse. Continua a aparecer um palco despido cheio de cadeiras que é tanto a taberna como a igreja. Os recursos são simples, mas eficazes para a dramaturgia e, também como é típico em Carsen, a comédia acaba com um grande espelho que transporta toda a assistência em palco.


A direção da Nederlands Philharmonisch Orkest por Lorenzo Viotti foi competente e colorida, imprimindo ritmos adequados e uma vivacidade que captou o público. O coro da De Nationale Opera e o coro infantil Nieuw Amsterdams Kinderkoor estiveram em bom plano.

Começando pelos Pagliacci, o prólogo e Tonio foram cantados pelo barítono Roman Burdenko que tem uma excelente projeção vocal e um timbre agradável, sendo capaz de interpretar a maléfica personagem de forma capaz. O Peppe do tenor Marco Ciaponi teve uma excelente prestação e o Sílvio do barítono Mattia Olivieri também esteve em bom plano com a sua voz quente e expressiva.

As personagens principais também se apresentaram em bom plano. Ailyn Pérez foi uma Nedda muito credível e fez uso da sua excelente voz, projetando-a sobre uma orquestra por vezes em forte, e com uma excelente capacidade dramática. Já o Canio do tenor Brandon Jovanovich esteve também excelente cenicamente, tendo uma voz com grande volume, mas um pouco áspera, e em que o italiano mais rude não ajudou a sobressair.


Passando à Cavalleria Rusticana, o elenco não foi tão uniforme quanto o do Pagliacci, porque teve duas vozes mais cintilantes. Anita Rachvelishvili foi uma Santuzza com uns graves e uns agudos absolutamente inexcedíveis, sendo uma das melhores mezzosoprano da atuliadade. Contudo, senti que lhe falta ainda maturar o papel para ser mais convincente do ponto de vista dramático onde Garanca a superou nas récitas a que assistimos na ROH. Brian Jadge foi um Turiddu maduro, com uma voz muito bonita, agudos potentes e fáceis a que alia uma grande capacidade interpretativa, características que fazem dele um dos tenores mais interessantes dos nossos dias. Alfio foi Roman Burdenko que se manteve no nível de Pagliacci. A Lola de Rihab Chaieb (terceira classificada do Operalia 2018 em Lisboa) também ofereceu uma boa interpretação, sensual e quente, e de voz cheia e muito homegena, só não sendo melhor por contrastar com a superlativa mezzo Rachvelishvili. Finalmente, a Lucia de Elena Zilio também se apresentou em bom plano, muito embora não goste particularmente do seu timbre de voz.


Uma excelente récita!

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(translation in English)

I attended to Leoncavallo’s Pagliacci and Mascagni’s Cavalleria Rusticana at Amsterdam’s opera house.

Robert Carsen’s staging, as he typically suggests, put the public as part of the work. Thus, he puts the choir in the first three rows of the hall, moving them later to the stage that is presented as a huge dressing room, full of mirrors and lights, but naked and dark. All the action takes place there and in a rustic theatre that comes later for the final tragic outcome where the characters are presented in the same guise, but extremely caricatured by their excessive size. The transition to Cavalleria is with the final scene of Pagliacci in which the “actors” remain static as if they were a living painting.The staging continues to be naked but now full of chairs, representing both the tavern and the church. The features are simple but dramaturgically effective and, as is typical of Carsen, comedy ends up with a large mirror that projects all the assistance to the stage.

Nederlands Philharmonisch Orkest's direction by Lorenzo Viotti was competent and colourful with proper rhythms and liveliness that captured the audience. The De Nationale Opera choir and the Nieuw Amsterdams Kinderkoor children's choir were in good shape.

Starting with the Pagliacci, the prologue and Tonio were sung by the baritone Roman Burdenko who has excellent vocal projection and a pleasant timbre, being able to interpret the evil character in a capable way. Tenor Marco Ciaponi's Peppe had an excellent performance and baritone Mattia Olivieri as Silvio had also a good performace with his warm and expressive voice.

The main characters also performed well. Ailyn Pérez was a very credible Nedda and made use of her excellent voice, projecting it over a sometimes strong orchestra, and with excellent dramatic ability. Tenor Brandon Jovanovich's Canio was also dramatically excellent, having a great high notes but slightly harsh, and in which his rudest Italian did not help to stand out.

Turning to Cavalleria Rusticana, the cast was not as uniform as Pagliacci's because it had two more sparkling voices. Anita Rachvelishvili was a Santuzza with an absolutely unbeatable bass and treble, being one of the best mezzosoprano of our days. However, I felt that she still needs to mature the role to be more convincing from the dramatic point of view where Garanca overcame her in the recitals we attended at ROH. Brian Jadge was a mature Turiddu, with a very beautiful voice, powerful and easy treble that combines great interpretive ability, characteristics that make him one of the most interesting tenors of our days. Alfio was Roman Burdenko who remained at the level of Pagliacci. Rihab Chaieb's Lola (2018 Operalia’s third ranked in Lisbon) also offered a good interpretation, sensual and warm, with a full and very homogeneous voice, that was not so good just because of the contrast with the superlative mezzo Rachvelishvili. Finally, Elena Zilio's Lucia also performed well, although I didn't particularly like her voice.

An excellent evening!

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