domingo, 6 de outubro de 2019

DON GIOVANNI, Royal Opera House, Londres, Setembro / September 2019



 (review in English below)

A perfeição num espectáculo de opera é muito rara mas existe. Foi o caso da récita do Don Giovanni de W.A.Mozart em Setembro de 2019 na Royal Opera de Londres.

A encenação de Kasper Holten é moderna e sofisticada, muito bem conseguida. Um complexo cubo central está em permanente rotação no palco, sobre o qual se projectam diversas imagens e há aberturas constantes de múltiplas portas que dão acesso a diversas salas em dois andares, ligados por escadas interiores. Logo na abertura vão aparecendo projectados os milhares de nomes das conquistas do Don Giovanni, uma imagem que aparecerá frequentemente ao longo da récita em momentos adequados. A movimentação cénica dos cantores / actores é também óptima. Magnífica!



A direcção musical de Hartmut Haenchen foi muito mozartiana e teve grande atenção aos cantores.



Os cantores, sem excepção, foram superlativos. Foi o melhor elenco que alguma vez vi nesta ópera. E a origem dos cantores fez justiça ao slogan da Royal Opera, a world stage, tal como no público: só à minha volta ouvia-se falar espanhol, francês, alemão, russo (e inglês!).

Roberto Tagliavini, um baixo italiano como raramente se ouve actualmente e um artista exímio foi o melhor Leoporello que alguma vez vi. Voz grave, poderosa, de belíssimo timbre e um actor fabuloso.



O Don Giovanni foi o Erwin Schrott , baixo-barítono uruguaio, em noite de grande inspiração, sem irregularidades de emissão, voz poderosa e sempre bem colocada. Cenicamente foi um Don insuperável, sedutor descarado, também muito ajudado pela encenação.




A soprano sueca Malin Byström foi uma Donna Anna brutal, com excelente presença em palco e um vozeirão que muitas cantoras wagnerianas não têm. Mas quando foi necessário lirismo e tristeza, elas estiveram lá!




Daniel Behle é um tenor alemão que nos ofereceu uma interpretação muito emotiva e uma voz lírica pura de invulgar beleza como Don Ottavio.


Mytrò Papatanasiu, soprano grega, foi uma Dona Elvira de referência tanto na interpretação cénica como vocal. Voz extraordinariamente viva, amplitude impressionante, afinação perfeita e poderio invejável. Só vista e ouvida.




Leon Kosavic, barítono croata, foi um Masetto cómico, desconfiado e de voz fresca e muito agradável, 



e Louise Alder, soprano britânica, fez uma Zerlina atrevida e magnífica em palco e no canto. Ambos cantores deliciosos, muito jovens.



E o Comendador, Petros Magoulas, baixo grego com um grande final.



Tudo fabuloso e magia na Royal Opera House!








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DON GIOVANNI, Royal Opera House, London, September 2019

Perfection in an opera performance is very rare but it does exist. This was the case of W.A.Mozart’s Don Giovanni in September 2019 at the Royal Opera in London.

The production of Kasper Holten is modern, complex and sophisticated and very efficient. A complex central cube is constantly rotating on the stage, several images are projected on, and constant openings of multiple doors giving access to several rooms on two floors, connected by interior stairs. At the opening the thousands of names of Don Giovanni's previous lovers are projected, an image that will often appear throughout the performance at appropriate times. The scenic movement of the singers / actors is also optimal. Magnificent!

Hartmut Haenchen's musical direction was very Mozartian and had great attention to the singers.

The singers, without exception, were superlatives. It was the best cast I've ever seen in this opera. And the origin of the singers has done justice to the Royal Opera's slogan, “a world stage”, as in the public: just around me I could heard Spanish, French, German, Russian (and English!).

Roberto Tagliavini, an Italian bass with a quality that is rarely heard today, and an expert artist, was the best Leoporello I have ever seen. He has a powerful bass voice, beautiful tone, and is a fabulous actor.

Don Giovanni was Erwin Schrott, Uruguayan bass-baritone, in a night of great inspiration, without emission irregularities, powerful voice and always well tuned. Scenically he was an unsurpassed, brazen seductive Don, also greatly aided by the staging.

Swedish soprano Malin Byström was a fabulous Donna Anna, with an excellent stage presence and a strong voice that many Wagnerian singers don't have. But when lyricism and sadness were needed, they were there!

Daniel Behle is a German tenor who offered us a very emotional interpretation and a pure lyrical voice of unusual beauty as Don Ottavio.

Mytrò Papatanasiu, Greek soprano, was a reference Dona Elvira in both scenic and vocal interpretation. Extraordinarily vivid voice, impressive range, perfect pitch and enviable power. Just seen and heard.

Croatian baritone Leon Kosavic was a comical, suspicious, very pleasant Masetto and British soprano Louise Alder was a sassy and magnificent Zerlina on stage and in singing. Both very young delicious singers.

And the Commendatore, Petros Magoulas, a Greek bass with a great ending.

All fabulous and magic in the Royal Opera House!

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3 comentários:

  1. Esta sua temporada da Royal Opera House está a ser magnífica , parabéns. Nunca tive essa sorte. Desta vez não conheço nenhum dos cantores, nem sequer a Louise Alder, é uma surpresa boa saber que há novas vozes dessa qualidade. Também é notável que a encenação passe por uma boa movimentação no palco. Já as projecções vídeo são em geral dispensáveis, redundantes. Fico feliz de saber a ROH tão saudável !

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    1. É verdade Mário, tive a sorte de nesta deslocação a Londres ter visto 3 óperas. Infelizmente a que falta colocar no blogue - o Werther - foi uma decepção para mim porque estava à espera de uma interpretação de grande nível do Juan Diego Florez (um dos meus tenores favoritos) mas tal não aconteceu... A seu tempo aparecerá o relato.

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  2. Espectacular!
    Ainda não percebi bem como há melómanos e ou músicos que afirmam estar um pouco desiludidos com a programação , não só da ROH mas doutras como o MET , por só terem uma ou duas óperas de autores com menos de 60 anos neste momento...

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