(review in English below)
A Metropolitan Opera de Nova Iorque voltou a levar à cena a Manon de Jules
Massenet, uma ópera baseada no romance de Antoine-François Prévost L´Histoire
du Chevalier Des Grieux et de Manon Lescaut, novela que também serviu de
base à ópera Manon Lescaut de Puccini. Esta produção já foi comentada no
blogue anteriormente.
A encenação de Laurent Pelly,
simples e vazia, mas eficaz, traz a acção para o período da Belle
Époque, cerca de século e meio após o romance ter sido escrito. No primeiro
acto o cenário está encimado de casas em miniatura e uma escadaria que dá
acesso à zona central do placo, sem adereços, onde grande parte da acção
decorre. Na cena seguinte o quarto simples de Manon e Des Grieux está também
colocado ao cimo de vários troços de escadas. Na primeira parte, Manon é uma
jovem vestida de forma muito humilde e inocente. No 3º acto, nas margens do
Sena, a encenação lembra um quadro de um pintor impressionista. Manon aparece
na máxima exuberância (vestido, jóias e postura). Na cena seguinte, em Saint
Sulpice, talvez a mais notável de toda a produção, dá-se o reencontro com Des
Grieux, agora padre. Depois de uma rejeição inicial, Des Grieux não resiste e Manon deita-se na cama austera do amante e
despindo-lhe o hábito. Segue-se a cena do jogo, onde apenas há as mesas como
objectos no palco, com as interpretações vocais a superarem as cénicas, mas o
glamour mantém-se. Finalmente, o último quadro, é um contraste total com os anteriores.
Manon, desfigurada, é arrastada pelo chão, pontapeada e ultrajada pelos
guardas. Apenas uns candeeiros sóbrios de rua estão no palco. Morre nos braços
de Des Grieux.
A direcção
musical, desinteressante, foi do maestro Maurizio Benini.
A Manon foi interpretada pela soprano americana Lisette
Oropesa, já vencedora este ano de dois prémios musicais. Teve uma
interpretação de qualidade mas pouco emotiva. A voz é ágil, agradável, sobre a orquestra e
com uma amplitude apreciável. Em cena esteve bem.
Des Grieux foi interpretado pelo tenor
americano Michael Fabiano. Foi a
melhor interpretação vocal em que o ouvi, porque foi constante na emissão e
sempre audível. O problema é que a voz não tem cor, é “a preto e branco” e, por
isso, não transmite emoção. É sempre entoada da mesma forma, quer nos momentos
de alegria, quer nos de tristeza, quer nos de angustia. Nos duetos com a
Oropesa não houve transmissão de qualquer sentimento de atracção ou paixão pela
Manon, o que “matou” o espectáculo, que teve o momento mais confrangedor na
cena em Saint Sulpice, (N'est-ce plus ma main).
Nos papéis secundários Guillot de Morfontaine foi interpretado
de forma agradável pelo tenor italiano Carlo Bosi,
o barítono canadiano Brett Polegato
foi um De Brétigni de forma regular,
mas o Lescaut foi interpretado ao
mais alto nível pelo barítono polaco Artur
Rucinski, o melhor da noite,
e o Conde Des Grieux, também óptimo, pelo baixo sul coreano Kwangchul
Youn.
As três”meninas”, Jacqueline Echols (Poussette), Laura Krumm (Javotte) e Maya Lahyani (Rosette)
cumpriram também sem destoar.
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MANON,
METropolitan Opera, October 2019
The Metropolitan Opera of New York has once
again presented Manon by Jules Massenet, an opera based on the
novel by Antoine-François Prévost L'Histoire du Chevalier Des Grieux and Manon
Lescaut, a novel that also served as the basis for the opera Manon Lescaut by
Puccini. This production has been commented on the blog before.
Laurent Pelly's production, simple but effective, brings
action to the Belle Époque period, about a century and a half after the novel
was written. In the first act the scenery is topped with miniature houses and a
staircase that gives access to the central area, without props, where much of
the action takes place. In the next scene the simple bedroom of Manon and Des
Grieux is also placed at the top of several sections of stairs. In the first
part, Manon is a young girl dressed in a very humble and innocent way. In the
third act, on the banks of the Seine, the performance resembles a painting by
an impressionist painter. Manon appears in the most exuberance (dress, jewelry
and posture). In the next scene in Saint Sulpice, perhaps the most remarkable
of all the production, is the reunion with Des Grieux, now priest. After an
initial rejection, Des Grieux does not resist and reconciliation takes place,
laying Manon on his lover's austere bed and undressing his habit. This is
followed by the game scene, where there are only tables as objects on stage,
with vocal interpretations surpassing the scenic ones, but the glamor remains.
Finally, the last scene is a total contrast to the previous ones. Manon,
disfigured, is dragged across the floor, kicked and outraged by the guards.
Only a few sober street lamps are on stage. She dies in Des Grieux's arms.
The musical
direction, without interest, was by conductor Maurizio
Benini.
Manon was
performed by American soprano Lisette
Oropesa, already this year's winner of two music awards. She had a quality interpretation but with few emotion. The voice is agile, pleasant, over the orchestra and of
appreciable amplitude. On stage she was always fine.
Des Grieux
was interpreted by American tenor Michael
Fabiano. It was the best vocal interpretation in which I heard him, because
he was constant in vocal emission and always audible. The problem is that the
voice has no color, it is "in black and white" and therefore does not
convey emotion. He always sings in the same way, whether in moments of joy or
in sadness or in anguish. In the duets with Oropesa there was no transmission
of any feeling of attraction or passion for Manon, which "killed" the
show, which had the worst moment on the scene in Saint Sulpice, (N'est-ce plus ma main).
In supportiny
roles Guillot de Morfontaine was played pleasantly by Italian tenor Carlo Bosi, Canadian baritone Brett Polegato played De Brétigni on a
regular basis, but Lescaut was interpreted at the highest level by Polish
baritone Artur Rucinski, the best of the night, and Count
Des Grieux was also great by South Korean bass Kwangchul Youn.
The three
'girls', Jacqueline Echols
(Poussette), Laura Krumm (Javotte)
and Maya Lahyani (Rosette) were
correct in their roles.
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