(review in English below)
Mais uma vez tive
oportunidade de ver a belíssima encenação de La Traviata de Richard Eyre
que há anos é frequentemente levada à cena na Royal Opera House de Londres.
O maestro Antonello Manacorda, sempre com muita
atenção aos cantores, fez um excelente trabalho e impôs os ritmos correctos às
diferentes partes da peça. A Orquestra correspondeu com grande nível.
O tenor Charles Castronovo foi um Alfredo de
grande qualidade com muito boa interpretação vocal e cénica, e um 2º acto
excelente.
Placido Domingo, que completou esta semana 78 anos, fez um
Georgio Germont credível e agradável, apesar da personagem cruel. É notável a
qualidade que ainda consegue imprimir às suas interpretações, embora o timbre
não seja o mais adequado à personagem.
Os cantores
secundários Aigul Akhmetshina como
Flora, Catherine Cabry como Annina, Germán Alcántara como Barão Douphol e Simon Shibambu como Doutor Grenvil foram todos muito bons.
Mas a
interpretação superlativa foi a de Ermonela
Jaho na protagonista. Já vi dezenas de vezes esta ópera e foi a melhor
Violetta que alguma vez vi e ouvi. Aqueles que dizem que os cantores actuais
não são tão bons como os grandes cantores do passado não têm razão. Há
actualmente cantores idênticos ou melhores que os melhores de que há registo. E
a Violetta de Ermonela Jaho é a clara demonstração de que assim é. A entrega é
total, em cena vive o papel como uma actriz das melhores e, sobre isto, o canto
é miraculoso. A voz é de uma beleza impressionante, transborda emoção, tem uma
enorme amplitude e a afinação é total em todos os registos. E que dizer dos pianissimi? Que são luminosos e que não
há mais nenhuma cantora actual que os consiga igualar, sim, mas mais que isso,
são avassaladores e quase nos deixam incrédulos de como é possível cantar
assim!
Na récita a que
assisti, tive a sorte de praticamente não ter ouvido tosses ou outros ruídos,
apesar da dimensão do teatro e de estarmos em pleno Inverno, o que também
ajudou (seria impossível em Portugal, onde parece que o público faz gala em
tossir ruidosamente!).
As fotografias
ficaram muito más. Quando a cortina é encarnada e não abre, como foi o caso, a
minha limitada máquina fotográfica não consegue captar melhor!
Dentro de poucos
dias (30 de Janeiro) esta produção vai ser transmitida em directo em cinemas
nacionais de vários Países, incluindo Portugal. Corram porque é uma oportunidade
única de assistir à melhor Violetta / Traviata da actualidade!
*****
LA TRAVIATA,
Royal Opera House, January, 2019
Once again
I had the chance to see the beautiful performance of La Traviata directed by Richard
Eyre, who has been frequently taken to the scene at the Royal Opera House in London for years.
Maestro Antonello Manacorda, always with great
attention to the singers, did an excellent job and imposed the correct rhythms
to the different parts of the opera. The orchestra corresponded at top level.
Tenor Charles Castronovo was an Alfredo of
great quality with very good vocal and scenic interpretation, and an excellent
2nd act.
Placido Domingo, who was 78 years old this week, was a credible
and pleasant Georgio Germont despite the cruel character. It is remarkable the
quality that still manages to impress to his interpretations, although the
timbre is not the most appropriate to the personage.
The supprotind
singers Aigul Akhmetshina as Flora, Catherine Cabry as Annina, Germán Alcántara as Baron Douphol and Simon Shibambu as Doctor Grenvil were
all very good.
But the
superlative interpretation was that of Ermonela
Jaho in the leading role. I've seen this opera dozens of times and it was
the best Violetta I've ever seen and heard. Those who say that the current
singers are not as good as the great singers of the past are not right. There
are currently singers who are identical or better than the previous best
singers. And Ermonella Jaho’s Violetta is the clear demonstration that it is.
The commitment is total, on stage she lives the role like a top quality actress
and, over this, the song is miraculous. The voice is breathtakingly beautiful,
it overflows emotion, it has a huge amplitude and the pitch is total on all
records. And what about the pianissimi?
That they are luminous and that there is no longer any current singer that can
match them, yes, but more than that, they are overwhelming and almost leave us
incredulous of how it is possible to sing like this!
In the performance
I attended, I was lucky to have practically not heard coughs or other noises,
despite the size of the theatre, and the fact that we were in the middle of
winter (it would be impossible in Portugal, where it seems that the public
can’t resist coughing loudly!).
The photos came
out very bad. When the curtain is red and does not open, as was the case, my
limited camera cannot capture better!
Within a
few days (30th January) this production will be broadcast live in national
cinemas in several countries, including Portugal. Run to buy a ticket because it's
a unique opportunity to watch the best Violetta / Traviata of our times!
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Jaho é de facto uma das grandes artistas da actualidade. Podemos apontar-lhe críticas a nível de afinação mas, globalmente, é uma intérprete completíssima de nível histórico. Faço este último apontamemto em particular porque, como sabe, estou entre o grupo de cépticos que acredita que infelizmente não vivemos numa era de ouro da ópera. Aliás, acho que o facto de, aos 78, ainda haver procura por um Plácido Domingo é prova de que o público reconhce que, em média, os cantores não têm o nível do passado.
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EliminarCaro Plácido,
Não partilhamos da mesma opinião quanto à qualidade de alguns cantores da actualidade que, para mim, são tão bons como os melhores de sempre. Já em relação à procura por este outro Placido de 78 anos, penso que a razão é mais emotiva e de homenagem do que da sua actual qualidade vocal. Esta é uma sombra do que foi no passado e a razão da escolha actual de papeis de barítono pelo Domingo não será apenas pela idade e aspecto físico. Mas está aquém de um bom barítono (que na verdade não o é) mas, ainda assim, bem melhor que um bom maestro, esse outro papel que ele impõe aos grandes teatros de ópera e no qual é mau. Mas Placido Domingo, por tudo o que representou na história da ópera do século passado e do presente, merece todo o meu respeito.
Um grande abraço