O famoso amor
trágico de Romeu e Julieta é retratado nesta opera de belcanto, I Capuleti e i
Montecchi, com música do jovem Vicenzo
Bellini e libretto de Felice Romani
inspirado numa história da Renascença. É uma obra de profundo lirismo e grande
intensidade dramática, marcada pela história de um amor trágico e atravessada
pela tristeza e pela morte. Um deleite para os apreciadores do belcanto,
é uma ópera repleta de árias e duetos dos dois amantes, de uma beleza melódica assinalável.
A encenação de Arnaud Bernard (cenografia de Alessandro Camera e
figurinos de Carla Ricotti), originalmente concebida para o Teatro La Fenice e para a Arena de Verona é sóbria, clássica e vistosa. Num museu / galeria de arte, as personagens
dos quadros ganham vida. É uma abordagem frequente dos encenadores, que nada
tem de original, mas visualmente é agradável e serve os propósitos da ópera.
Foi bem melhor do que a muito badalada encenação que vi em Munique, como
relatei aqui.
Logo no início da ópera, os Capuleti ganham vida a partir
de um quadro guardado numa arrecadação do museu. O pessoal do museu muda alguns
dos quadros de local, faz arranjos e limpezas, mas mantém-se a estratégia do
encenador. A cena da morte de Romeu e Julieta decorre numa mesa,
mas funciona e o quadro final da ópera é de uma beleza plástica assinalável.
Se a encenação foi um dos pontos fortes do espectáculo,
houve um pouco de tudo, desde o muito mau ao muito bom.
A Orquestra Sinfónica Portuguesa, dirigida por Giampaolo Bisanti, não esteve bem, com
excepção do belíssimo desempenho de Carmen Cardeal na harpa. O coro do Teatro Nacional de São Carlos esteve muito mal, com desencontros e desafinações constantes, fatais numa
obra de belcanto.
Nos solistas principais, a mezzo Alessandra Volpe fez
um Romeu vocalmente bom, o timbre é interessante e a cantora fez-se ouvir
sempre sobre a orquestra. A Julieta da soprano Mihaela Marcu também foi decente, embora a cantora tivesse alguma
tendência para a estridência e lhe faltasse a doçura que o papel exige.
O Tebaldo do tenor Davide Giusti foi muito mau, quase sempre desafinado, voz feia e
sem cor. Um dos piores tenores que se ouviu recentemente em São Carlos.
Os melhores da
noite foram os barítonos Luís Rodrigues
como Capellio e Christian Luján como
Lorenzo, que se destacou tanto na interpretação vocal como cénica.
***
I CAPULETI E I MONTECCHI, Teatro de São Carlos, Lisbon,
April 2018
The famous tragic love of Romeo and Juliet is portrayed in
this belcanto opera, I Capuleti e i
Montecchi, with music by the young Vicenzo
Bellini and libretto by Felice
Romani inspired by a Renaissance story. It is a work of profound lyricism
and great dramatic intensity, marked by the history of a tragic love and
crossed by sadness and death. A delight for lovers of belcanto, it is an opera
full of arias and duets of the two lovers, with remarkable melodic beauty.
The staging of Arnaud
Bernard (set design by Alessandro Camera and costumes by Carla Ricotti)
originally conceived for the La Fenice Theater and for the Verona Arena is
sober, classic and pleasant. In a museum / art gallery, the characters in the
pictures come to life. It is a frequent approach of the directors, which has
nothing original, but is visually pleasant and serves the purposes of opera. It
was much better than the much-hyped staging I saw in Munich, as I have reported
here.
At the beginning of the opera, the Capuleti come to life
from a painting in a museum collection. The museum staff changes some of the
paintings, makes arrangements and cleanups, but the director's strategy
remains. The final scene of the death of Romeo and Juliet takes place at a
table in the museum, but it works and the final picture of the opera is of
remarkable plastic beauty.
If the staging was one of the performance's strengths, there
was a bit of everything from the very bad to the very good.
The Portuguese Symphony Orchestra, directed by Giampaolo Bisanti, was not well, except
for the beautiful performance of Carmen Cardinal in the harp. The Chorus of the
National Theater of São Carlos was very bad, with dissonances and constant mistakes,
fatal in a belcanto opera.
Considering the main soloists, mezzo Alessandra Volpe was a vocally good Romeo, the timbre is
interesting and the singer always made herself heard over the orchestra. Juliet
of soprano Mihaela Marcu was also
decent, although the singer had a tendency to stridency and lacked the sweetness
that the role demands.
Tenor Davide Giusti
was very bad as Tebaldo, almost always out of tune, with an ugly, colorless
voice. One of the worst tenors recently heard in São Carlos Theater.
The best of the night were baritones Luís Rodrigues as Capellio and Christian
Luján as Lorenzo, who excelled in both vocal and scenic performance.
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Estava à espera desta sua apreciação. Ainda não vi nem ouvi, e fico à espera que melhore para amanhã!
ResponderEliminarDepois de ver encenações completamente fora do contexto, esta é aceitável.As vozes que mais me impressionaram foi o baixo Christian Luján e a mezzo-soprano Alessandra Volpe, com consistência, volumosas, grandes e uns graves excelentes, pela negativa o tenor péssimo e a soprano Mihaela Marcu com alguma desafinação e os agudos com estridência. A orquestra estava com qualidade o maestro é um dos melhores que tem passado pelo São carlos. A direcção de actores pecou com alguma falta de ensaios.
ResponderEliminarNão tenho capacidade para crítico musical, mas gostei do que vi e ouvi. As parte corais parecem-me difíceis e o coro lá foi cantando. Gostei muito da direção precisa do maestro. Achei que os atores se mexiam demasiado e sem grande sentido. Achei a movimentação toda demasiada, e também no Romeu e na Julieta, e ouvir o rasgo de papéis numa ária não me parece boa ideia. Foi a noite mais barulhenta que alguma vez ouvi em S. Carlos. Coisas a cair, telefones a tocar, gente à conversa, parecia uma esplanada do Chiado. Os solos de clarinete, trompa, cello e harpa, foram excelentes.
ResponderEliminarAssisti à récita de hoje: a orquestra esteve como habitualmente, isto é, fraca. O maestro, muito fanfarrão, gosta de puxar ao aplauso e fica-se por aí. O coro foi o pior elemento da noite: dicção péssima e mal se ouvia. Destaco a voz imponente e excelente interpretação de Luján como Lorenzo. Luís Rodrigues esteve bem, embora a interpretação cénica muito agressiva o desfavoreça. O Romeo de Volpe foi bastante agradável, sendo possuidora de uma voz potente e bonita. O mesmo se pode dizer da Guiletta de Marcu. Ambas cenicamente muito bem, mas algo estridentes nos agudo, sobretudo a soprano que chegou a gritar. Mas fosse sempre assim no TNSC... Já o tenor Giusti tem uma voz com um timbre bonito, mas muito pequena. Cenicamente esteve bem. A encenação é muito interessante e eficaz, tendo, no meu entender, sido o aspecto mais conseguido da récita.
ResponderEliminarAssisti à última récita. Gosto muito desta opera. No geral concordo com a crítica de Fanatico_Um. Achei as prestações da orquestra e coro banais. Gostei da encenação e do guarda-roupa. As melhores vozes foram as do Lourenço e do Romeu. Eu que gosto muito do Luís Rodrigues, desta vez achei a sua prestação um pouco fraca. No geral foi uma récita agradável. Mais uma vez quero destacar a má educação do público e o zelo ridículo dos arrumadores para impedirem as pessoas de tirarem fotos quer durante quer após o término da récita.
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