A magnífica ópera
Turandot de Puccini foi levada à cena no Coliseu dos Recreios em Lisboa. Há
décadas que era hábito haver algumas récitas das óperas em cartaz no Teatro de
São Carlos e récitas populares das mesmas óperas no Coliseu. Esse hábito
perdeu-se e não se recuperou na abertura da presente temporada, ao contrário do
que foi dito, porque a primeira ópera a ser apresentada teve apenas
uma récita no Coliseu e nenhuma em São Carlos.
Foi uma
experiência globalmente negativa para mim, com vários pontos que gostaria de
partilhar.
Começou com algum
atraso. A acústica não é boa e houve ao longo da primeira parte grande
perturbação com a abertura frequente das portas dos camarotes que, não sendo
ruidosa, permitia a entrada de luz na sala, o que perturbava muito.
A Orquestra Sinfónica Portuguesa ocupava
a quase totalidade do palco e os cantores tinham apenas um pequeno espaço na
parte mais avançada para se movimentarem. (Os coros estavam nas cadeiras laterais nos
dois lados do palco).
A encenação de Annabel Arden e Joanna Parker, foi trazida da Opera North. Depois do que vi, fui
procurar comentários a esta encenação e o que encontrei foi altamente elogioso.
A minha opinião está no extremo oposto! Detestei, acho que esta ópera
espectacular de Puccini, que já vi em produções fabulosas (como há poucos meses
em Londres como referi aqui) foi assassinada nesta produção!
No palco havia
apenas, a meio e sobre a orquestra, uma grande cadeira parcialmente coberta por um pano, e
pouco mais. Passámos da China antiga para um local de zombies.
Trajos cinzentos ou negros a condizer e nem faltou um esqueleto humano. Os
cantores entravam e saíam praticamente sem movimentos cénicos (nem tinham
espaço para os fazerem). O príncipe persa que é decapitado no primeiro acto é
um membro do coro que despe a camisa e faz gestos a pedir clemência.
Enfim, um
espectáculo para ver de olhos bem fechados! Teria sido melhor se apresentado em
versão concerto.
A direcção
musical, a cargo do maestro Domenico
Longo, foi aceitável mas faltou-lhe alguma da energia que esta obra exige.
Felizmente que os
cantores salvaram a récita. O Coro do
Teatro Nacional de São Carlos esteve bem, melhor esteve o Coro Juvenil de Lisboa. Elisabete Matos, uma cantora que muito
respeito, foi uma Turandot respeitável e sempre bem audível sobre a orquestra e
coros. O tenor Rafael Rojas tem um timbre bonito e cantou o Calaf com qualidade. Dora Rodrigues interpretou bem a Liù
mas nem sempre com a suavidade e doçura que a personagem requer. O Timur do
baixo Stephen Richardson foi
notável. Diogo Oliveira (excelente!)
e Sérgio Sousa Martins impuseram-se
como Ping e Pang e, num patamar imediatamente abaixo, esteve João Pedro Cabral como Pong. Carlos Guilherme e Manuel Rebelo cumpriram como Altum e mandarim.
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