sábado, 21 de outubro de 2017

TURANDOT, Coliseu dos Recreios, Lisboa, Outubro 2017



A magnífica ópera Turandot de Puccini foi levada à cena no Coliseu dos Recreios em Lisboa. Há décadas que era hábito haver algumas récitas das óperas em cartaz no Teatro de São Carlos e récitas populares das mesmas óperas no Coliseu. Esse hábito perdeu-se e não se recuperou na abertura da presente temporada, ao contrário do que foi dito, porque a primeira ópera a ser apresentada teve apenas uma récita no Coliseu e nenhuma em São Carlos.

Foi uma experiência globalmente negativa para mim, com vários pontos que gostaria de partilhar.

Começou com algum atraso. A acústica não é boa e houve ao longo da primeira parte grande perturbação com a abertura frequente das portas dos camarotes que, não sendo ruidosa, permitia a entrada de luz na sala, o que perturbava muito.

A Orquestra Sinfónica Portuguesa ocupava a quase totalidade do palco e os cantores tinham apenas um pequeno espaço na parte mais avançada para se movimentarem. (Os coros estavam nas cadeiras laterais nos dois lados do palco).

A encenação de Annabel Arden e Joanna Parker, foi trazida da Opera North. Depois do que vi, fui procurar comentários a esta encenação e o que encontrei foi altamente elogioso. A minha opinião está no extremo oposto! Detestei, acho que esta ópera espectacular de Puccini, que já vi em produções fabulosas (como há poucos meses em Londres como referi aqui) foi assassinada nesta produção!

No palco havia apenas, a meio e sobre a orquestra, uma grande cadeira parcialmente coberta por um pano, e pouco mais. Passámos da China antiga para um local de zombies. Trajos cinzentos ou negros a condizer e nem faltou um esqueleto humano. Os cantores entravam e saíam praticamente sem movimentos cénicos (nem tinham espaço para os fazerem). O príncipe persa que é decapitado no primeiro acto é um membro do coro que despe a camisa e faz gestos a pedir clemência.



Enfim, um espectáculo para ver de olhos bem fechados! Teria sido melhor se apresentado em versão concerto.

A direcção musical, a cargo do maestro Domenico Longo, foi aceitável mas faltou-lhe alguma da energia que esta obra exige.

Felizmente que os cantores salvaram a récita. O Coro do Teatro Nacional de São Carlos esteve bem, melhor esteve o Coro Juvenil de Lisboa. Elisabete Matos, uma cantora que muito respeito, foi uma Turandot respeitável e sempre bem audível sobre a orquestra e coros. O tenor Rafael Rojas tem um timbre bonito e cantou o Calaf com qualidade. Dora Rodrigues interpretou bem a Liù mas nem sempre com a suavidade e doçura que a personagem requer. O Timur do baixo Stephen Richardson foi notável. Diogo Oliveira (excelente!) e Sérgio Sousa Martins impuseram-se como Ping e Pang e, num patamar imediatamente abaixo, esteve João Pedro Cabral como Pong. Carlos Guilherme e Manuel Rebelo cumpriram como Altum e mandarim.



**

Sem comentários:

Enviar um comentário