Tannhäuser de R
Wagner, esteve em cena na Ópera de
Viena, na versão de Dresden (sem corpo de baile / bacanal no 1º acto).
A encenação de Claus Guth é marcante. A acção é
trazida para os finais do século XIX, em Viena, período freudiano por
excelência, em que as doenças psiquiátricas são alvo de grande interesse. E é
esta a abordagem central de toda a encenação.
No primeiro acto,
há uma cortina igual à do teatro da ópera de Viena (mais uma vez, a ópera
dentro da ópera, Guth também não o evita) e enquanto o verdadeiro Tannhäuser
canta na parte da frente do palco, um duplo está na parte de trás, interagindo
com a Venus. Toda a viagem ao Venusberg é imaginação de Tannhäuser.
O Halle do 2º acto é um dos salões da
Ópera de Viena, onde ocorre o concurso poético sobre a essência do amor. O
conflito entre o amor carnal e o espitirual leva Tannhäuser à loucura.
No 3º acto
aparece numa cama, internado num asilo psiquiátrico, onde é cuidado por
Elisabeth. A viagem a Roma para expiar os pecados foi também imaginária e os
peregrinos, que se autoflagelavam, são doentes no asilo. Elisabeth mata-se
tomando uma dose excessiva dos comprimidos de Tannhäuser.
Claus Guth é fantástico
a encenar Wagner e esta é mais uma obra reveladora do seu talento.
A Orquestra da Ópera de Viena foi
dirigida pelo maestro Peter Schneider
que impôs um tempo lento no início, mas depois foi excelente.
O Coro da Ópera de Viena foi superlativo,
tanto quando esteve em cena como quando cantou fora do palco.
O tenor americano
Robert Dean Smith esteve aquém do
desejável na interpretação do Tannhäuser. A voz foi frequentemente abafada pela
orquestra sempre que tocava mais forte e revelou manifesta dificuldade no
registo agudo, ao longo de toda a récita. A perda de qualidade vocal foi em
crescendo e, frequentemente, cantou desafinado. Só no último acto melhorou um
pouco. Foi pena, num espectáculo desta qualidade, destoou de todos os outros
cantores.
Iréne Theorin, soprano sueca, cantou a Venus com segurança e
correcção. Nesta encenação a personagem é muito estática e nada sensual nem carnal.
A Elisabeth da
soprano finlandesa Camilla Nylund
foi óptima. A cantora foi muito expressiva em toda a sua actuação vocal e
cénica e a voz foi sempre bem projectada, redonda e afinada. Curiosamente, o
timbre faz lembrar a sua conterrânea Karita Mattila.
O melhor cantor
da noite foi, de longe, o barítono alemão Christian
Gerhaher. Fez um Wolfram de ir às lágrimas, com uma voz maravilhosa em
expressão e intensidade dramática, insuperável. Usa a meia voz na perfeição e, cantando
baixo, deve ouvir-se no local mais longínquo do teatro. Contudo, quando necessário,
a potencia é extraordinária. Foi uma daquelas interpretações a que se assiste uma
ou duas vezes numa temporada. Absolutamente fabuloso!
Os baixos também
foram excelentes. O sul coreano Kwangchul
Youn foi um Hermann irrepreensível e o romeno Sorin Coliban um Biterolf sensacional!
O Walter de Norbert Ernst, o Heinrich de James Kryshak e o Reinmar de Dan Paul Dumitrescu cumpriram bem, mas
os seus papéis são pequenos.
Um Tannäuser
inesquecível na Ópera de Viena!
*****
Tannhäuser, Wiener Staatsoper, November 2014
Tannhäuser by R. Wagner, was on stage at the Vienna State Opera (the Dresden version
- no ballet / bacchanal in the 1st act).
Claus Guth's staging
is striking. The action is brought to the end of the nineteenth century in
Vienna, Freud's times in which psychiatric disorders are the subject of
considerable interest. And this is the central approach to the whole production.
In the first act, there is a curtain identical to that of
the Vienna Opera House (again, opera within the opera, Guth also uses this
common approach) and Tannhäuser sings on the front part of the stage, while on
the back there is his double, interacting with Venus. The entire trip to the
Venusberg is Tannhäuser’s imagination.
The 2nd act Halle
is one of the halls of the Vienna State Opera, where the poetic contest on the
essence of love occurs. The conflict between carnal and spiritual love leads Tannhäuser
to madness.
In 3rd act Tannhäuser is lying on a bed in a mental asylum,
where he is cared for by Elisabeth. The trip to Rome to be forgiven for the sins
was also imaginary and the returning pilgrims are mental patients in the asylum.
Elisabeth kills herself by taking an overdose of Tannhäuser’s tablets.
Claus Guth is fantastic staging Wagner, and this is one more
revealing work of his talent.
Vienna State Opera
Orchestra was conducted by Maestro Peter
Schneider who imposed a slow tempo at first, but then was excellent. The Choir of the Vienna State Opera was
superlative, both on and off offstage.
American tenor Robert
Dean Smith was not imposing in the interpretation of Tannhäuser. His voice
was often drowned out by the orchestra and he showed difficulties in the high
register throughout the performance. Frequently he sang out of tune. Only in
the last act he recovered. It was a pity. In a performance of this quality, he
was inferior to all other singers.
Iréne Theorin,
Swedish soprano, sang Venus safely and correctly. In this scenario the
character is very static and without any sexual attraction.
Finnish soprano Camilla
Nylund was an excellent Elisabeth. The singer was very expressive, both in
the vocal and scenic components. Her voice was always well heard, smooth and
tuned. Interestingly, the timbre is reminiscent of her compatriot Karita
Mattila.
The best singer of the night was, by far, the German
baritone Christian Gerhaher. His Wolfram
was astonishing, with a wonderful voice and dramatic expression, and unsurpassed
intensity. He used the mezza voce
perfectly, and though singing quiet, he should be heard in the farthest spot of
the theater. However, when necessary, the vocal power was extraordinary. It was
one of those performances that you watch once or twice in a season. Absolutely
fabulous!
The basses were also excellent. South Korean Kwangchul Youn was a blameless Hermann,
and Romanian Sorin Coliban a sensational
Biterolf!
Norbert Ernst’s Walter,
James Kryshak’s Heinrich, and Dan Paul Dumitrescu’s Reinmar were also
very well, but their roles are small.
An unforgettable Tannäuser in Vienna!
*****
Sem comentários:
Enviar um comentário