sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

CORTINAS LÍRICAS INOVA EM ESTREIA COM LA CLEMENZA DI TITO NO THEATRO SÃO PEDRO. Crítica de Ali Hassan Ayache no blog de Ópera e Ballet


O mais dinâmico e inovador Teatro de São Paulo, assim se define o Theatro São Pedro. Com um orçamento magrinho sua direção consegue fazer pequenos milagres em um temporada repleta de boas surpresas. A última novidade foi a séria Cortinas Líricas, que apresenta "trechos de grandes óperas, interpretadas por solistas e orquestra sem a participação de coros ou qualquer tipo de movimentação cênica". A definição foi alterada, ao invés do chato senta e levanta dos solistas existe sim uma movimentação cênica, dirigidos por Malú Rangel os solistas se movimentam e expressam sentimentos dos personagens.

O título escolhido para a estreia foi La Clemeza di Tito, composta por Mozart em seu último ano de vida simultaneamente com a ópera A Flauta Mágica e o Réquiem, período pra lá de conturbado na vida do compositor com dívidas e credores batendo na porta e a saúde frágil. Encomendada para a coroação do rei Leopoldo II é um dos últimos resquícios da opera seria. Suas árias ainda expressam um único sentimento do personagem e sua música oscila entre a grande inspiração e a monotonia.

A Orquestra do Theatro São Pedro regida por Marcelo de Jesus conseguiu sonoridade em volume ideal para a sala e andamentos compatíveis com com as árias. O mezzo soprano Andreia Souza cantou Vitellia, sua voz esbanjou potência e volume em um agradável timbre. Pecou em distorcer e forçar os agudos que saem gritados diversas vezes.

Bruno de Sá se intitula sopranista, o papel de Sesto é reservado a um contralto ou mezzo soprano e mais recentemente a um contratenor. Não importa a nomenclatura, o que posso afirmar é que o rapaz canta com técnica elevada em um timbre que consegue coloridos especiais. Sua atuação vocal peca no exagero dos floreios e das coloraturas, quer cantar para arrancar aplausos e mostrar virtuose excessiva. Corre riscos e comete falhas tornando o personagem exagerado vocalmente. Só faltou torcida uniformizada para aplaudi-lo.

Camila Titinger mostra evolução a cada apresentação, aluna da Acadêmia de Ópera do Theatro São Pedro, a jovem e bela moça interpretou Servilia e fez bonito. Voz de soprano lírico com agudos sedutores e consistência em toda a extensão. Gilberto Chaves não se entendeu com o personagem Tito Vespasiano, sua voz esteve em um timbre que não lhe pertence, forçou na cor buscando um timbre escuro e não conseguiu com o material que possuí.

O ano está só começando e o Theatro São Pedro está a pleno vapor, além da temporada de óperas, concertos e a Série Grandes Vozes teremos mais dois títulos da série Cortinas Líricas: a rara Gillaume Tell de Rossini e a exuberante Os Contos de Hoffmann de Offenbach. Cantores brasileiros, alunos da academia e a orquestra em atividade são sinais que todos estão ganhando experiência. Infelizmente na Praça Ramos a legião estrangeira tomou conta e nossos cantores são marginalizados. Ainda bem que temos o Theatro São Pedro. 


Ali Hassan Ayache

Sem comentários:

Enviar um comentário