sábado, 5 de abril de 2014

QUARTETT de LUCA FRANCESCONI, Fundação Gulbenkian, 01.04.2014

(Review in English)
(www.facebook.com/fanaticos.opera)

(fotos de www.gulbenkian.pt)

A ópera Quartett do iltaliano Luca Francesconi foi estreada em 2011 no Teatro alla Scalla de Milão. O libreto em inglês é do próprio compositor e baseia-se em Quartett de Heiner Muller que, por sua vez, se inspirou no romance Le liaisons dangereuses de Pierre de Laclos.

O Fanático Um teve oportunidade de assistir à sua estreia em Milão. Poderão ler aqui a sua apreciação. A minha, volvidos 3 anos e visionada na Fundação Gulbenkian, não difere substancialmente.


Poderão ler uma sinopse neste link para o programa de sala. Nele encontrarão textos do encenador Álex Ollé e do compositor Luca Francesconi. Soa-me sempre a pretensiosismo quando os autores têm de nos vir explicar o que fizeram e orientar o nosso entendimento. E  se é claro que esta ópera será considerada por diversos pseudo-intelectuais como uma obra visionária dos tempos modernos, eu, num rasgo de absoluta genialidade francescónica, considero que estamos perante um novo género musical. Preparados?


Ópera hardcore génito-sexual-sacro-herética metafórica. Que acham? A obra está impregnada de imagens, alegorias, metáforas sexuais com ligação anticlerical evidente, mas de um gosto decadente omnipresente.


Se até posso considerar interessante a música com instrumentação pequena, com recurso a gravações e a voz e som amplificados e canto por vezes agreste — digo mais, até a segui sem sacrifício e com interesse e acho que as ligações foram bem conseguidas (isto apesar de não ser o meu género) —, o texto é de um mau gosto gritante. E não! Não foi por me sentir desconfortável com o conteúdo: trata-se apenas de ser, de facto, uma forma grotesca de tratar o tema. Parece que a vivência da sexualidade terá de ter sempre uma relação a uma religiosidade balofa e castradora. Parece que a sexualidade não pode ser vivida sem balizas religiosas. Parece que a ideia de sexo e pecado é uma ligação perigosa inquebrável. Parece que Francesconi não se libertou dessa visão. Parece que a quer perpetuar. Em suma, há dois Luca Francesconi: o da música tolerável e o do libreto deplorável.


A Orquestra Gulbenkian dirigida pela especialista em Quartett Susanna Malkki esteve em bom nível.


Os cantores também estiveram em muito bom plano. Allison Cook, mezzo-soprano que fez de Marquesa, teve uma projecção vocal irrepreensível e uma óptima prestação cénica. Também o barítono Robin Adams como Visconde esteve muito bem vocal e cenicamente. Ambos deram voz e corpo a duas personagens densas e complexas com várias metamorfoses difíceis de tornar vivas.


A encenação de Álex Ollé com cenografia de Alfons Flores foi, sem dúvida, o melhor da noite. É extremamente difícil encontrar um guião para encenar este texto, mas Ollé fê-lo de forma sublime, tornando este Quartett um espectáculo visualmente muito impactante e agradável de seguir. Se alguma coisa me faria repetir a visualização desta ópera é a encenação que é genial.


Faz uma utilização de projecções em vídeo extremamente interessante e coerente e projecta a acção num espaço fechado cúbico e em plano elevado, pobre em elementos cénicos e que centra a acção no duo de personagens.


Destaque para a dificuldade técnica em colocá-la a funcionar na Fundação Gulbenkian: veio provar que o novo anfiteatro está capaz de tudo!


No final, saí com a sensação de que tinha assistido a um espectáculo multimedia com música, vídeo e voz de interesse médio, cuja encenação exaltou, e um texto muito discutível, mas que, ao sê-lo, torna esta obra mediática.

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(Review in English)

The Luca Francesconi's opera Quartett was premiered in 2011 at the Teatro alla Scalla (Milan). The English libretto was written by the composer himself and is based on Quartett by Heiner Muller who, in turn, was inspired by the novel Le liaisons dangereuses by Pierre de Laclos.

The Fanatic One had a chance to attend Quartett world premiere in Milan. You may read here his assessment. My opinion does not differ substantially relative to this opera.

You can read a synopsis on this link. In it you will find texts by stage director Álex Ollé and composer Luca Francesconi. It always sounds pretentiousness when the authors have to come in and explain what they did to guide our understanding. And it is clear that this opera is considered by many pseudo-intellectuals as a visionary work of modern times. I, in a fit of absolute francesconic genius, believe we are facing a new musical genre. Ready?

Hardcore genito-sexual-sacro-heretic metaphoric opera. What do you think? The work is imbued with images, allegories, metaphors with sexual anticlerical obvious link, but of an ubiquitous decadent taste.

If I can even find interesting music with little instrumentation, using recordings and voice and sound amplified and singing sometimes harsh - say more, I followed it without sacrifice and with interest and I think the connections were well achieved (despite this kind of music is not my genre) - the text is a blatant bad taste: and no! Not because I feel uncomfortable with the content: it is only because of a grotesque way of treating the subject. In short, there are two Luca Francesconi: the tolerable music composer and the deplorable libretist.

The Gulbenkian Orchestra led by Quartett expert Susanna Malkki was at a good level.

The singers were also in very good plan. Allison Cook, mezzo-soprano who made Marquise, had a faultless vocal projection and scenic optimum performance. Also baritone Robin Adams as Viscount was fine vocal and scenically. Both gave voice and body to two dense and complex characters with various metamorphoses difficult to make living.

The staging of Álex Ollé with scenography by Alfons Flores was undoubtedly the best of the night. It is extremely difficult to stage this text, but Ollé did so in sublime form, making this a visually very impactful and enjoyable to follow. If anything would make me repeat viewing of this opera is the scenario that is genius.

Makes a use of video projections in extremely interesting and coherent way, projecting the action in a large cubic enclosure, scenic and action that focuses on the characters duo.

Emphasis on the technical difficulty to put it to work in the Gulbenkian Foundation: this stage has proved that the new amphitheater is capable of anything!

In the end, I left with the feeling that I had witnessed a multimedia show with music, voice and video of average interest whose staging exalted, and a very debatable text, but at the  end is the text that makes this work mediatic.

5 comentários:

  1. Vi este espectáculo em Milão, aqui dei nota disso, não gostei e decidi (e escrevi) à data que não voltaria a vê-lo. Cumpri a promessa!

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    1. lembro-me bem das suas observações e segui o conselho!

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    2. Vi o espectaculo e achei-o extremente aborrecido. Exceptuando a orquestração, de que gostei. O cenário, se bem que original, achei-o pobre e se não fossem as projecções de vídeo, ainda o seria mais pobre.
      O texto também o achei bastante mau. Em suma, um espectaculo monótono. Os custos não valeram o resultado.
      Manuel Mourato

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  2. This is NOT the production for a guy who is trying desperately to understand traditional opera. I have enjoyed works like Rigoletto, Otello, La Traviata, Carmen, and Aida. I am trying hard to understand works like Gotterdammerung. The last thing I need to burst my bubble is a hardcore genito-sexual-sacro-heretic metaphoric opera (whatever that is) like Quartett!

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    1. Whatever this is, you are right JJ. This is a vulgar piece of work that does not reflect the splendour of the opera. I saw this opera in Milan a couple of years ago, when it was premiered, and I promised I would not see it again. Now that it came to my country, I kept the promised! The victim, this time, was my friend camo_opera.

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