terça-feira, 29 de abril de 2014

ALCINA, Ópera de Zurique, Fevereiro de 2014 / Zürich Opernhaus, February 2014

(review in english below)

Alcina é uma ópera de Georg Friedrich Händel com libretto de Antonio Fanzaglia segundo a ópera L’isola di Alcina de Riccardo Broschi, a partir do poema épico Orlando Furioso de Ludovico Ariosto.


 A feiticeira Alcina transforma homens em animais na sua ilha. Está apaixonada pelo mais recente prisioneiro, Ruggiero. Bradamante, a sua noiva, chega à ilha disfarçada de homem (Ricciardo), acompanhada do seu guardião, Melisso. O feitiço de Alcina faz com que Ruggiero esqueça Bradamante. Morgana, serva de Alcina, apaixona-se por “Ricciardo”, para desespero de Oronte, o seu amado, também servo de Alcina. Oronte, enciumado, convence Ruggiero que Alcina ama “Ricciardo”. Alcina fica dilacerada quando descobre que Ruggiero a traiu e planeia fugir da ilha e, ainda, verifica que a sua varinha mágica perdeu os poderes. Todas as personagens principais revelam as suas verdadeiras identidades, Morgana e Oronte, e Ruggiero e Bradamante juntam-se no amor e destroem o poder e o palácio de Alcina que se afunda no mar. Alcina desaparece e os animais transformados retomam a forma humana.


 A encenação Christof Loy é vistosa mas difícil de entender. Começa com a representação (magnífica) de uma ópera barroca num teatro rococó na parte superior do palco, enquanto na parte inferior se vêem os bastidores e os animais transformados por Alcina. Aparece um cupido muito idoso, uma ideia muito interessante.
A acção avança mais de um século e, na ária mais introspectiva de Alcina do 2º acto, aparece-lhe a sua imagem como idosa (a mesma personagem que faz de cupido). Este acto passa-se numa espécie de residência para doentes psiquiátricos, sem ter sido claro para mim o significado da encenação.
 No último acto vêem-se os escombros do teatro, muito fumo (possivelmente terá ardido) e cai um grande lustre (uma réplica do lustre da ópera de Zurique). A maioria dos participantes está vestida como nos tempos actuais, mas Alcina aparece novamente com um vestido “barroco”, antes de desaparecer.


 O maestro (e flautista) Giovanni Antonioni dirigiu superiormente a excelente Orquestra barroca La Scintilla. A interpretação foi fantástica, tirando o máximo partido da sonoridade própria dos instrumentos da época.




O elenco de solistas foi de primeiríssima água:
 Alcina foi interpretada pelo mezzo italiano Cecilia Bartoli. Confesso que foi ela que me fez ir a Zurique e … não me arrependi. Bartoli é uma daquelas (poucas) cantoras líricas que é muito melhor ao vivo do que em gravações. A expressividade dramática que empresta às personagens é única e aqui, mais uma vez, assim foi. Para além de ouvi-la, vê-la é um assombro. Todas as suas árias (seis no total) foram fantásticas, a voz é única, sempre primorosamente bem colocada e de uma beleza avassaladora. Na ária principal do 2º acto, Ah mio cor, ofereceu-nos uma interpretação divinal, a voz chorava e a interpretação foi comovente. Um privilégio único e raro poder apreciar ao vivo uma das melhores cantoras de sempre.



 Sensacional foi o mezzo sueco Malena Ernman como Ruggiero. Antes do início do espectáculo fomos avisados que não estaria na sua melhor forma devido a uma infecção respiratória. Mas nada transpareceu dessa limitação porque nos ofereceu uma interpretação de excepção. É uma artista completa. Fisicamente parecia um homem, a agilidade em palco foi estonteante, incorporou sem destoar o corpo de bailarinos no 3º acto e até cantou a fazer flexões (!). Para além de todos estes atributos físicos e cénicos, a voz tem um timbre lindíssimo, uma potência invulgar e a coloratura foi imponente. Maravilhosa.



 Bradamante foi o mezzo arménio Varduhi Abrahamyan, uma desconhecida para mim que também esteve em grande, tanto cénica como vocalmente. O timbre é bonito, escuro, o canto cheio e a interpretação sempre bem conseguida.


 O soprano francês Julie Fuchs fez uma Morgana muito boa, de voz agradável e bem audível e, no palco, uma postura sempre convincente. 


 Oronte foi interpretado com qualidade pelo jovem Fabio Trümpy, tenor suíço de voz clara e expressiva.


 Também outro jovem, o baixo americano Erik Anstine, interpretou Melisso com qualidade e poderio vocal interessante e muito agradável.








 Uma Alcina estratosférica na Zürich Opernhaus.

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ALCINA , Zurich Opera House , February 2014

Alcina is an opera by Georg Friedrich Händel with libretto by Antonio Fanzaglia according to the opera L' isola di Alcina by Riccardo Broschi, after the epic poem Orlando Furioso by Ludovico Ariosto .

The witch Alcina turns men into animals on her island. She is in love with her latest prisoner Ruggiero. Bradamante, her bride, arrives in disguised as a man (Ricciardo), accompanied by her guardian, Melisso. Alcina´s spell causes Ruggiero to forget Bradamante . Morgana, Alcina’s servant, falls in love for "Ricciardo" , to the despair of Oronte, his beloved, also servant of Alcina. Oronte, jealous, convinces Ruggiero that Alcina loves "Ricciardo" . Alcina is torn when she discovers that Ruggiero betrayed  her and plans to flee the island, and also discovers that her wand lost its powers. All the main characters reveal their true identities, Morgana and Oronte, and Ruggiero and Bradamante join in love and destroy the power and the palace of Alcina that sinks in the sea. Alcina disappears and the animals resume their human form.

Christof Loy 's staging is fine but hard to understand. It begins with the representation (magnificent) of a rococo baroque opera in a theater at the top of the stage , while at the bottom the backstage is seen, where the animals transformed by Alcina lay. A very old cupid appears, a very interesting idea.
The action progresses over a century, and during the more introspective Alcina’s aria in 2nd act, her image as an old woman appears (it is the same player that plays the cupid). . This act takes place in a sort of residence for psychiatric patients, without being clear to me the meaning of the act.
In the last act we see the ruins of the theater, a lot of smoke (possibly it burned ) and a large chandelier (a replica of the chandelier of the Zurich opera) drops. Most participants are dressed as in present times, but Alcina appears again with a "Baroque" dress before disappearing.

Conductor (and flautist) Giovanni Antonioni superiorly directed the great Baroque Orchestra La Scintilla. The performance was fantastic, taking full advantage of the sonority of baroque instruments.

The soloists were of the highest quality:
Alcina was interpreted by Italian mezzo Cecilia Bartoli. I confess that it was she who made ​​me go to Zurich ... and I did not regre . Bartoli is one of those (few) opera singers who is much better live than on recordings. The dramatic expressiveness that she plays is unique and here, again, it was so. In addition to hearing her, seeing her on stage is a wonder. All her arias (six in total) were fantastic, the voice is unique, always exquisitely well pitched and of an overwhelming beauty. In the main the 2nd act aria, Ah mio color, she offered us a divine interpretation, her voice and interpretation were touching. It is a unique and rare privilege to see and hear one of the best opera singers of all times.

Sensational was Swedish mezzo Malena Ernman as Ruggiero. Before the start of the performance we were told that she would not be at her best due to a respiratory infection But this limitation was not apparent because she offered an exceptional performance. She is a complete artist. Physically looked like a man, her agility on stage was stunning. In the 3rd act she joined the group of professional dancers and she even sang doing pushups (!) . Apart from all these physical and staging attributes, her voice has a beautiful tone, an unusual power and impressive coloratura. Wonderful.


Bradamante was Armenian mezzo Varduhi Abrahamyan, an unknown singer to me who was also great both on stage and vocally. Her tone is beautiful abd dark, and the performance onstage was always excellent.

French soprano Julie Fuchs was a very good Morgana, with a nice and very audible voice and onstage always a nice performance.

Oronte was interpreted by the young Swiss tenor Fabio Trümpy. He has a bright and expressive voice .

Also another young singer, American bass Erik Anstine, played Melisso with an interesting and very nice vocal power.

A stratospheric Alcina in Zürich Opernhaus.

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4 comentários:

  1. Já gostei mais de Cecilia Bartoli do que gosto, mas ainda gostaria de a ver numa ópera ao vivo, já agora numa encenação decente.

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    1. Se puder, não perca Gi, ao vivo é muito melhor que nos CDs ou DVDs

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  2. Fico muito contente que esta Alcina de Zurique seja de tão elevado nível. A Òpera de Zurique tem vindo aos poucos a afirmar-se como uma das melhores programações da Europa, ultrapassando outras de maior renome. E as orquestras são sempre de topo, ao contrário de outras salas. Já tive essa experiência, e tenho muita pena de não ter ido assistir a esta Alcina, para mais gloriosamente posta em música por Handel. Mas em tempos de cinto apertado, tive de desistir.

    A Bartoli, quando a voz dela se adequa, é magnífica. Tive a sorte de a ouvir em Lucerna, em música barroca, e foi um deslumbre. Às vezes exagera um bocadinho, mas pelos vistos na Alcina esteve 'controlada'. A maturidade também deve ajudar.

    Parabéns pela récita e pelo post, obrigado.

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    1. Foi uma récita extraordinária, Mário. A Bartoli é, em minha opinião, muito melhor ao vivo do que nas gravações.

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