segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

THOMAS HAMPSON com a Amsterdam Sinfonietta, CCB/FCG, 09.02.20104

(Review in English below)


O CCB através da Fundação Gulbenkian recebeu um dos mais destacados barítonos mundiais, o norte-americano Thomas Hampson.
Thomas Hampson veio acompanhado pela Amsterdam Sinfonietta (orquestra de câmara) dirigida pela violinista canadiana Candida Thompson.


O concerto integrava um tour europeu que começou a 25 de Janeiro e que se concluiu em Lisboa. Aqui fica o link para o programa de sala onde poderão ler os poemas cantados e a respectiva tradução para português.


O programa começou com a interpretação pela Amsterdam Sinfonietta da peça Verklärte Nacht (Noite Transfigurada), op. 4, que Arnold Schonberg compôs aos 25 anos. A peça de um único andamento é de uma beleza delicada, explorando sonoridades dramáticas e várias cores e baseia-se no poema escuro de Richard Dehmel sobre a culpa e a sua transformação. A interpretação foi assombrosa! Além desta peça, a Amsterdan Sinfonietta também interpretou a Serenata Italina em Sol Maior de Hugo Wolf. A música é de uma beleza tranquila e ouviu-se mais uma excelente interpretação.


Diga-se que a Amsterdam Sinfonietta sob direcção da violinista Candida Thompson foi perfeita ao longo de todo o concerto.


Seguiu-se Johannes Brahms com a peça Vier ernste Gesänge (Quatro Canções Sérias), op. 21, composta em 1896. Thomas Hampson cantou canções de Brahms pela primeira vez neste tour. As quatro canções baseiam-se em textos bíblicos dos Livros de Coeleth e de Ben Sirá e na 1.ª Epístola de São Paulo aos Coríntios. A tonalidade dos textos é escura com a morte como pano de fundo, sofrendo uma transformação na última que exalta a caridade.


Depois de Brahms, ouviu-se a canção Dover Beach (Praia de Dover), op. 3, composta por Samuel Barber em 1950-51 com 21 anos. Baseia-se no poema de Matthew Arnold, escritor inglês do período vitoriano, e é sombrio, falando-nos da negritude da vida e da ausência de sonhos.


De Franz Schubert ouviu-se Memnon, D. 541, de 1817 e Geheimes (O Segredo), D. 719, de 1821. A primeira com texto de Johann Baptist Mayrhofer baseia-se no mito de Memnon e fala dos lamentos tristes de um herói em busca de “brilhar como uma estrela silenciosa e pálida”. Depois, com texto de Johann Wolfgang von Goethe, O Segredo fala das bem-aventuranças do amor.


De Hugo Wolf ouviram-se 3 peças. Fussreise (Passeio a pé), de Eduard Morike (1888), fala de um caminhante que compara a natureza com o paraíso e que o deleita pela manhã. Auf einer Wanderung (Em Viagem), também de Eduard Morike (1888), fala do assombro de um viajante tocado pela natureza. Finalmente, Der Rattenfanger (O caçador de ratos), de Goethe (1890), trata de um cantor sedutor a cujos encantos ninguém resistia.

De referir que as obras apresentadas tiveram os respectivos arranjos para orquestra e barítono pelos compositores Marijn van Prooijen e David Matthews, este último presente na sala.


Quanto a Thomas Hampson bastará dizer o seu nome. O resto é todo o legado que o acompanha. Voz magnífica de timbre belíssimo, potência enorme, expressividade máxima e cujas interpretações são magníficas. Destaco, se é possível, Dover Beach e Der Rattenfanger. Muito simpaticamente, cantou ainda Schubert, Mahler (“parecia mal vir a Lisboa e não cantar Mahler”, disse) e Wolf. Por fim, repetiu Der Rattenfanger (“eu bem dei muitos beijos aos elementos da orquestra. Mas, está bem!, o tempo lá fora está horrível”, concluiu) e saiu a correr, voltando para mais um coro de aplausos.

Concerto memorável deste grande senhor que é Thomas Hampson!


Nota: último concerto no CCB e que bom! Ontem ouvia-se um silvo ténue do vento por entre as portas de acesso à plateia. Eu, lá em baixo, perto do palco, bem o ouvia quando o volume era mais baixo. Enfim...

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(Review in English)

CCB through the Gulbenkian Foundation received one of the world leading baritones, the American Thomas Hampson.
Asmsterdam Sinfonietta (chamber orchestra) conducted by Canadian violinist Candida Thompson accompanied Thomas Hampson. The concert was part of a European tour that started on 25 January and was concluded in Lisbon.

Here is the link to the room program where you can read the poems sung and its translation into Portuguese.

The program began with the interpretation by the Amsterdam Sinfonietta of Verklärte Nacht (Transfigured Night), Op. 4, Arnold Schonberg wrote at age 25. The piece of only a single movement is of delicate beauty, dramatic sounds that explores various colors and is based on the poem by Richard Dehmel, a dark poem about guilt and its transformation. The interpretation was astounding! Beyond this, the Amsterdam Sinfonietta also played the Italian Serenade in G Major of Hugo Wolf. The music is of quiet beauty and we heard a great interpretation.
Of note, Amsterdam Sinfonietta under the direction of violinist Candida Thompson was perfect throughout the concert.

Johannes Brahms followed Schonberg with the song cycle Ernste Gesänge Vier (Four Serious Songs), Op. 21, composed in 1896. Thomas Hampson sang songs by Brahms for the first time on this tour. The four songs are based on biblical texts of books Coeleth and Ben Sirah and First Epistle of Paul to the Corinthians. The tone of the text is dark with death as the background, undergoing a transformation in the last one that exalts charity as the greatest virtue.

After Brahms, we heard the song Dover Beach, op. 3, composed by Samuel Barber in 1950-51 at age 21. It is based on the poem by Matthew Arnold, English writer of the Victorian period, and is gloomy, speaking to us from the blackness of life and lack of dreams.

Of Franz Schubert we heard Memnon, D. 541 (1817) and Geheimes (The Secret), D. 719 (1821). The first text of Johann Baptist Mayrhofer is based on the myth of Memnon and speaks of a sad laments of an hero in search of "shining like a star pale and silent". Then, with text by Johann Wolfgang von Goethe, The Secret speaks of the beatitudes of love.

Of Hugo Wolf we heard 3 pieces. The song Fussreise (A walk) of Eduard Morike (1888) that tells of a hiker who compares paradise to the nature that delights him in the morning. Auf einer Wanderung (Traveling) also by Eduard Morike (1888) speaks of the wonder of a traveler touched by nature. Finally, Der Rattenfänger (The rat catcher) by Goethe (1890) tells the story of a seducer singer whose charms nobody resisted.

Noted that the works presented had arrangements for baritone and orchestra by composers Marijn van Prooijen and David Matthews, the latter present in the hall.

About Thomas Hampson will suit to say only his name. The rest is the legacy that accompanies him. His magnificent voice is of outstanding timbre and beauty, colossal power, maximum expressiveness and whose interpretations are glorious. We highlight, if we can, Dover Beach and Der Rattenfänger. Very nicely, he still sang Schubert, Mahler ("I can’t come to Lisbon and not singing Mahler" he said) and Wolf. Finally, he repeated Der Rattenfänger ("well! I gave many kisses to the orchestra players, but okay!, I know the weather outside is horrible," he said) and ran off, returning for one more chorus of applause.

Memorable concert of this great singer, Thomas Hampson!


Note: this was the last concert in CCB and it is good! Yesterday you could hear a faint hiss of wind through the access doors to the hall. Downstairs, near the stage, I listened it well when the volume was lower…

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