Rusalka, ópera em 3 actos, foi composta em 1901 por Antonín Dvorák. O libreto em checo é de
Jaroslav Kvapil e baseia-se no conto
de Kabel Jaromír Erben e Bozena Nemcová.
Pode ler-se uma sinopse no site do Metropolitan.
A encenação de Otto Schenk é clássica, de enorme beleza, cheia de pormenores
sumptuosos, não falta nenhum elemento do texto que segue na perfeição, é muito
agradável de seguir e transporta-nos para o mundo paralelo do fantástico. As
caracterizações de Tritão, pai de Rusalka, e de Jezibaba são fabulosas. De uma
perfeição absoluta e de grande impacto visual!
A interpretação de Yannick Nézet-Séguin aos comandos da New York Metropolitan Opera Orchestra foi óptima. Explorou as
sonoridades mais dramáticas de forma intensa e colorida e as mais líricas de
modo leve e etéreo. Em grande nível!
Renée
Fleming era a estrela da
tarde no seu aclamado papel de Rusalka. É verdade que a sua interpretação foi
de qualidade, com excelente expressividade e desempenho dramático, os agudos
saíram fáceis e a voz é melodiosa e tem a extrema beleza que lhe conhecemos.
Ainda assim, já se ouviu em melhor nível neste papel.
A mais famosa ária da
Canção à Lua cantou-a muito bem do cimo da árvore.
John
Relyea foi um Vodník, o
Tritão pai de Rusalka, com voz de baixo cheia, enorme potência, com modulações
fáceis e com uma assinalável agilidade cénica. Grande performance.
Dolora
Jajick, apesar de nas
entrevistas estar com uma tosse que justificou com o frio de NYC, foi uma
Jezibaba impecável. O tom escuro da sua voz é lindíssimo e a sua expressividade
ímpar. Tudo isto aliado a capacidades interpretativas fora de série
permitem-lhe que seja indiscutivelmente um dos melhores mezzo-sopranos da
actualidade. Isto apesar da sua actualidade ter mais de 25 anos no MET!
O tenor polaco Piotr Beczala foi o Príncipe. Teve uma interpretação imaculada, tirando
um agudo que lhe saiu um nadinha mais agreste e um pianissimi que não arrancou
logo quando cantava já quase morto e deitado. Voz de beleza invulgar, potência
avassaladora, figura extremamente adequada e enormes capacidades expressivas.
É, para mim, talvez o melhor tenor da actualidade nos papéis que tem vindo a
cantar. Em grande forma!
Emily
Magee foi a Princesa
estrangeira. Tem muita potência vocal, timbre delicado e cenicamente é convincente.
Teve uma interpretação de grande qualidade. Poderemos ouvi-la ao vivo no dia 25
de Abril na Fundação Gulbenkian a cantar o espectacular conjunto de canções que
Richard Strauss compôs aos 84 anos —
Vier
letzte Lieder — com base em poemas de Hermann Hesse e Joseph von
Eichendorff. A fazer crescer água na boca até porque vai ser acompanhada pela Gustav Mahler Jundenorchester dirigida
pelo jovem e magnífico maestro alemão David
Afkham.
Os restantes elementos, Disella Làrusdóttir (primeira ninfa), Renée Tatum (segunda ninfa), Maya
Lahyani (terceira ninfa), Alexey
Lavrov (Caçador) e Julie Boulianne
(rapaz da cozinha) tiveram todos em bom nível vocal e cénico.
Assistiu-se, pois, a uma récita de
elevadíssima qualidade de todos os intervenientes potenciando a qualidade
musical da partitura do grande compositor checo.
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(Review in English)
Rusalka,
opera in 3 acts, was composed in 1901 by Antonín
Dvorák. It has a Czech libretto by Jaroslav
Kvapil and is based on the tale of Jaromír
Erben and Kabel Bozena Nemcova.
You can read a synopsis of
the Metropolitan website.
The staging of Otto Schenk is classic, of great beauty,
full of sumptuous details, not missing element of the text that follows
perfectly, is very pleasant to follow and takes us to the parallel world of the
fantastic. The characterizations of Triton, Rusalka's father, and Jezibaba are
fabulous. Of absolute perfection and great visual impact!
The interpretation of Yannick Nézet-Séguin conducting the New York Metropolitan Opera Orchestra
was great. He explored the most intense and dramatic sounds with colorful
fashion and the most lyrical with full of light and ethereal mystic. What an
outstanding performance!
Renée Fleming was the star of the afternoon in her acclaimed role of Rusalka. It is true that her
interpretation was of quality, with great expressiveness and dramatic
performance, with high notes easily achieved and with a voice of extreme beauty
that we all know. Still, we had heard her at better level in this role. She
sang the most famous aria of the Song to the Moon very well from the top of the
tree.
John Relyea was Vodník, Triton Rusalka’s father, with an exclellent bass voice,
huge power with easy modulation and a remarkable scenic agility. Great performance.
Dolora Jajick, despite in the interviews being with cough that she justified witj the
cold of NYC, was a flawless Jezibaba. The dark tone of her voice is beautiful
and she has a unique expressiveness. All this combined with interpretative
capabilities out of range allow her to be arguably one of the best mezzo-sopranos
of our time. This despite her “our time” has over 25 years in the MET!
The Polish tenor Piotr Beczala was Prince. He had an
immaculate interpretation, despite a little more rugged sharp high note and one
pianissimo not plucked right but when he sang almost dead and lying on the
stage ground. Voice of unusual beauty, overwhelming power, extremely
appropriate figure and huge expressive capabilities. He is, for me, perhaps the
greatest tenor of our time in the roles he has been singing lately. In great
shape!
Emily Magee was the foreign princess. She has a lot of vocal power, delicate timbre
and is scenically compelling. She had an interpretation of great quality. We
can hear her live on April 25 at the Gulbenkian
Foundation to sing the spectacular set of songs that Richard Strauss composed when he was 84 old based on poems by Hermann Hesse and Joseph von Eichendorff. Making mouthwatering up because Gustav
Mahler Jundenorchester directed by the young and magnificent German conductor
David Afkham will accompany her.
The remaining elements, Disella Lárusdóttir (First Nymph), Renée Tatum (second Nymph), Maya Lahyani (third Nymph), Alexey Lavrov (Hunter) and Julie Boulianne (kitchen boy) were all
in good level vocal and scenically.
Therefore, it was performance
of the highest quality for all stakeholders enhancing the quality of the
musical score of the great Czech composer.
Maravilhosa crônica!
ResponderEliminarLi e 'ouvi' a ópera neste excelente texto.
Um abraço