sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

ORPHÉE, Coro e Orquestra Gulbenkian, CCB, Janeiro de 2014


 No Centro Cultural de Belém o Coro e Orquestra da Fundação Gulbenkian apresentaram a ópera Orphée de Christoph Willibald Gluck (versão de Hector Berlioz, Paris de 1859) em versão semi-encenada, dirigida pelo maestro Paul McCreesh.

Gosto desta obra e foi com grande expectativa (e apreensão, confesso) que me desloquei ao CCB, depois dois últimos desastres que ouvi pela Orquestra Gulbenkian, da responsabilidade do actual maestro titular. Mas, felizmente, desta vez tal não aconteceu. McCreesh não inovou em excesso, respeitou a partitura e ofereceu-nos um bom espectáculo. A Orquestra cumpriu sem empolgar e o coro, sob a direcção de Jorge Matta, esteve bem.

A opção cénica foi muito interessante, da responsabilidade de Marie Mignot, com caracterização de Joana Cornelsen e Ana Mendes. Os membros do coro vestidos com trajos escuros informais, a sua frequente aparição, deslocação e retirada silenciosa do palco, as flores lançadas no primeiro acto e reaparecidas no último, os panos negros a cobrirem as cabeças dos elementos femininos quando o texto assim o exigia, tudo foi expressivo, bem conseguido e de bom gosto.

O mezzo sueco Ann Hallenberg foi um Orfeu de qualidade crescente ao longo da récita. Tem uma voz poderosa e bem colocada. Apesar de os agudos serem agrestes, ofereceu-nos uma interpretação agradável.

Também bem estiveram o soprano inglês Carolyn Sampson como Euridice, e o soprano português Eduarda Melo como Amor. Ambas foram cantoras de voz agradável e bem audível, contribuindo para a boa qualidade do espectáculo.


Termino com umas notas pitorescas que presenciei e que merecem referência O concerto começou com 10 minutos de atraso, depois do início houve várias pessoas a entrar na sala e a serem sentadas pelos arrumadores, um espectador totalmente confuso não parou sossegado no primeiro acto e incomodava com conversa e movimentos todos os que o rodeavam para além de mudar frequentemente de lugar (havia vários não ocupados na plateia), durante o concerto vários dos meus vizinhos ressonaram, tosses bem audíveis foram uma constante em todo o espectáculo e, claro, não faltou o desembrulhar ruidoso e penosamente demorado de um rebuçado por uma senhora mesmo ao meu lado! Um dia ainda escreverei um texto sobre estes comportamentos tão frequentes entre nós e inexistentes em muitas outras latitudes onde penso que a apreciação e o desfrutar da música são vividos de forma diferente…

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Orphée , Gulbenkian Choir and Orchestra , CCB, January 2014

At the Centro Cultural de Belém, the Gulbenkian Choir and Orchestra presented the opera Orphée by Christoph Willibald Gluck  ( version by Hector Berlioz, Paris, 1859) in a semi-staged version, directed by conductor Paul McCreesh.

I like this opera and it was with great expectation (and apprehension, I confess ) that I went to see it, after the last disasters that I heard by the Gulbenkian Orchestra due to the responsibility of its current principal conductor. But thankfully, this time it did not happen. McCreesh did not innovate in excess, respected the score and gave us a good performance. The Orchestra was ok without thrill but the choir, under the direction of Jorge Matta, was good.

The stage option was very interesting , by Marie Mignot, with collaboration of Joana Cornelsen and Ana Mendes. The choir members dressed in dark informal costumes, their frequent appearance, their silent movement and withdrawal from the stage, the flowers thrown in the first act and recovered in the last act, the black cloths to cover the heads of female members when the text demanded it, everything was expressive, well done and very pleasant.

Swedish mezzo Ann Hallenberg was an Orpheus of increasing quality throughout the performance. She has a powerful and well tuned voice. Despite some top notes were harsh, she offered us a nice interpretation.

Also very good were English soprano Carolyn Sampson as Euridice, and Portuguese soprano Eduarda Melo as Amore. Both singers were pleasant and with very audible voice, contributing to the quality of the performance.

I conclude with some picturesque notes that I witnessed and which deserve reference. The concert started 10 minutes late, after the start there were several people enter the room and being seated by the staff, a totally confused member of the public could not stop quiet in the first act and bothered with talk and movements all around him in addition to frequently changed the place (there were several unoccupied seats in the audience), several of my neighbors slept, audible coughs were a constant throughout the performance and, of course , I did not escape the noisy unwrapping (and painfully lengthy) of a candy by a lady right next to me! One day I will write a text about these behaviors so common among us, and nonexistent in many other latitudes where I think the appreciation and enjoyment of music are experienced differently ...


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6 comentários:

  1. Ãs vezes parece que uma parte do público ficou parada no século XVII, quando todas essas actividades eram consideradas normais.

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  2. Fui hoje ver.
    A encenação é muito simples, mas está muito bem feita: a morte e as sombras sempre representadas de preto e com um véu preto, o pormenor das flores atiradas ao túmulo de Euridíce e a reaparecerem como símbolo de vida e de amor, o Amor de cor vermelha a contrastar. Gostei.
    O Orfeu de Ann Hallenberg não achei extraordinário: teve uma interpretação nem sempre muito sentida e vocalmente foi irregular. O registo grave nem sempre se ouviu e os agudos foram, por vezes, ásperos. Esteve bem no 2.º acto e a sua ária "J'ai perdu Eurydice" correu bem.
    A Euridice de Sampson foi de qualidade: o timbre é bonito e os agudos saem com facilidade. A interpretação foi emotiva.
    O Amour de Eduarda Melo foi, em minha opinião, a melhor interpretação: voz jovial com um timbre muito bonito, agudos fáceis e equilibrados, uma postura muito adequada. Na linha de qualidade a que nos tem acostumado. Espero ouvi-la a este nível no TNSC em Fevereiro!
    Hoje — não quero estar sempre a dizer mal! — vi um Paul McCreesh mais entrosado e alegre com a Orquestra da FCG que soou bem e tiveram uma prestação muito digna da música belíssima de Gluck. Hoje gostei da sua interpretação.
    Quanto ao público: na área onde estive hoje esteve bem comportado. Nada a apontar. Mas sempre se ouviu um telemóvel ao longe...
    Esta ópera de Gluck fica, para mim que me habituei dessa forma, ainda mais bonita em italiano: a gravação de Horne com G. Solti é fantástica.

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  3. Nice review. I hope you do write the text. I would love to read it.

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  4. Caro Fanático,
    estou de volta aos blogs que admiro. Estive de férias...
    Como sempre uma crônica de primeira. Aqui também temos barulhos nas platéias...
    Um grande abraço do Brasil

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  5. Olá Fanático,

    Estou de volta à ativa aqui no cyberespaço à frente do meu LesAmisdeLaMusique. Também gosto muito de Orphée, fiquei contente de vê-la em cartaz em Portugal. Sobre a falta de noção de sua ruidosa plateia, como adiantou aqui antes de mim nosso colega Antonio Machado, infelizmente no Brasil esta situação também é comum.

    Obrigada pelo post. Saudações do Brasil!

    Sheila M.
    lesamisdelamusique.blogspot.com

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