(Review in English below)
A ópera La
Fille du Régiment (A Filha do Regimento) de Gaetano Donizetti é uma ópera cómica em dois actos com libreto de Jules Henri Vernoy de Saint-Georges e Jean-François Bayard.
É uma ópera do bel canto que Donizetti estreou na
Opéra-Comique de Paris em 1840. A sua história é um conjunto de imbróglios
entre uma rude e jovem rapariga criada por militares e um ingénuo tirolês desde
que se apaixonam até que finalmente se casam.
A encenação é a muito conhecida de Laurent Pelly, Christian Rath e Chantal
Thomas. Os seus méritos são infindáveis. É simples, muito cuidada, cheia de
bons pormenores, ajuda imenso ao desenrolar da história de uma forma cómica
(tal como se pretende) e é de extremo bom gosto.
Passa-se, boa parte dela,
sobre um mapa e o pormenor vai até ao pano com que a ópera é apresentada.
Absolutamente magnífica.
O soprano da Costa Rica Íride Martínez foi Marie. A sua voz tem muita qualidade, com um
timbre muito agradável e um bom fraseado. A sua presença em palco foi de
assinalável qualidade, muito cómica. As comparações com Natalie Dessay são
inevitáveis, mas não lhe ficou muito atrás!
O tenor peruano Juan Diego Flórez foi Tonio. É um dos melhores tenores da
actualidade e, sem qualquer dúvida, o melhor neste registo operático e neste
papel. Que dizer da sua prestação? Basta lembrar que foi ele que acabou com o
embargo de 70 anos de encores no Scala de Milão com a ária Ah mes amis precisamente desta ópera.
Aqui cantou-a de forma
perfeita!!! Foi aplaudido efusivamente com um coro de bravos de cerca de 5 minutos e foi obrigado a repetir a famosa ária
que se diz ser o Monte Everest dos tenores. Fabuloso!
Deixo-vos uma fotografia
e um autógrafo que simpaticamente deu depois da récita.
O barítono espanhol Carlos Álvarez foi Sulpice. Muito habituado ao papel, ofereceu-nos
uma prestação de excelência, quer vocal, quer cenicamente.
No final, deu também
autógrafos, confessando-me que “é sempre com enorme prazer que canto este
papel. A produção é magnífica!”
O mezzo-soprano romeno Aura Twarowska foi Marquise de Berkenfield. Teve um início menos
regular com uma ligeira dificuldade na projecção, mas depois cresceu vocalmente
para uma prestação de qualidade. Cenicamente foi muito cómica e eficaz.
Foi,
pois, uma boa e muito agradável Marquise. E é também muito simpática!
O soprano neo-zelandês Dame Kiri Te Kanawa foi a Duchesse de Crakentorp. Aplaudida quando
entra em cena, esta Senhora do canto lírico cumpriu eficazmente e com muita
piada o seu pequeno papel. A voz já não tem a potência de outros tempos, mas o
timbre continua o seu que é de invulgar beleza.
O restante elenco com Marcus Pelz (Hortensius), Konrad
Huber (Korporal), Dritan Luca
(Bauer) e François Roesti (Notar) teve
bons desempenhos nos seus papéis secundários.
A Orquestra
da WSO foi dirigida pelo italiano Bruno
Campanella com muita maestria e qualidade. O Coro da WSO teve, também, um óptimo desempenho.
A terminar, deixo-vos uma vídeo da sala da
WSO. Muito bonita!
Foi uma récita memorável com um Juan Diego Flórez absolutamente de
outro planeta!
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(Review in English)
The opera La Fille du Régiment by Gaetano Donizetti is a comic opera in
two acts with libretto by Jules Henri Vernoy de Saint-Georges and Jean-François
Bayard. It
is an opera of Donizetti's bel canto that
he premiered at the Opéra-Comique in Paris in 1840. Its history is a set of
imbroglios from a rude young girl raised by the military and a naïve Tyrolean
since they fall in love until their final wedding. You can read a synopsis
here.
The staging is the very well
known by Laurent Pelly, Christian Rath and Chantal Thomas. Its merits are endless. It's simple, carefully
disegned, full of good details, immense on helping unfolding the story in a
comic way (as intended) and is extremely tasteful. It takes place much of it on
a map and the attention to details goes to the cloth with which the opera is
presented. It is absolutely magnificent.
The soprano Íride Martínez of Costa Rica was Marie.
Her voice has great quality, with a very nice tone and good phrasing. Her stage
presence was of remarkable quality, very comical. Comparisons with Natalie
Dessay are inevitable, but she was not far behind!
The Peruvian tenor Juan Diego Flórez was Tonio. He is one
of the greatest tenors of today, and undoubtedly the best in these operatic
roles of bel canto and in this role particularly.
What about his performance? You must remember that he was the one who broke the
70 years embargo of encores at La Scala with the aria Ah mes amis, precisely of this opera. Here he sang it perfectly! He
was warmly applauded with a chorus of bravos
of about 5 minutes and he was then forced to repeat the famous aria said to be
the Mount Everest for tenors. Fabulous or miraculous! I leave you a picture and
an autograph that he kindly gave after the recitation.
The Spanish baritone Carlos Álvarez was Sulpice. He is very
accustomed to the role, offered us a performance of excellence, whether vocal
or scenically. Also at the end, he gave autographs, confessing me that "it
is always with great pleasure that I sing this role. The production is
magnificent!"
The Romanian mezzo-soprano Aura Twarowska was Marquise de
Berkenfield. She had a less regular start with a slight difficulty in
projecting her voice, but then grew vocally for a performance of great quality.
Scenically she was very comical and effective. It was therefore a good and very
enjoyable Marquise. She is also very kind!
The New Zealander soprano Dame Kiri Te Kanawa was the Duchesse de
Crakentorp. Applauded when she enters the scene, this opera Lady singing
fulfilled effectively and very funny her small role. The voice no longer has
the power of other times, but the timbre continue to be of unusual beauty.
The rest of the cast with Marcus Pelz (Hortensius), Konrad Huber (Korporal), Dritan Luca (Bauer) and François Roesti (Note) had good
performances in their supporting roles.
Bruno Campanella directed the WSO Orchestra
with great mastery and quality. The WSO Choir
had a great performance, too.
Finally, I leave you a video
from the WSO hall. It is very beautiful!
It was a memorable recitation
with a Juan Diego Flórez from
another planet!
É um sentimento muito feio, mas ao ler este texto e ao ver o que conseguiu, nomeadamente a conversa con o Florez, estou roidinho de inveja!
ResponderEliminarJá vi esta ópera (e esta encenação) várias vezes e acho-a perfeita para revelar as qualidades vocais absolutamente únicas do tenor peruano.
É um privilégio podermos assistir a espectáculos desta qualidade.
Caro Fanático Um,
EliminarTerei todo o gosto em dar-lhe um autógrafo de Juan Diego Flórez, uma vez que ele pegou em todos os cartões que eu tinha e, quando eu reparei, já tinha 5 cartões assinados… Fica prometido!
Parece que o Juan Diego Flórez se apoderou definitivamente - e com inteira justiça, diga-se - do papel de Tonio. Do que tenho lido, quer no Scala, quer na Bastilha, quer agora na Ópera de Viena, tem sido "obrigado" a bisar a área, debitando uns bons 18 dós sobreagudos em poucos minutos!
ResponderEliminarNão posso, pois, deixar de partilhar a inveja manifestada pelo Fanático_Um e esperar poder um dia destes assistir a algo parecido!
Cumprimentos,
João Baptista