sexta-feira, 25 de outubro de 2013

MEPHISTOPHELES, War Memorial Opera House, San Francisco, Outubro de 2013 / October 2013

(review in english below)

Mephistopheles é uma ópera de Arrigo Boito com libretto do compositor segundo o drama épico Faust de Goethe.


 Assisti em San Francisco à primeira grande encenação de ópera de Robert Carsen, de 1989, que muito apreciei. É uma produção de assinalável riqueza cénica e visualmente inesquecível. Carsen optou por criar um espectáculo dentro do espectáculo, algo regularmente visto em produções de ópera e que aqui resultou muito bem. Os camarotes e a plateia fictícios estão ocupados e há uma excelente exploração de um segundo plano no palco, coberto por uma tela inicialmente opaca, mas que se vai tornando transparente, deixando ver o que se passa atrás.


 A presença de elevado número de cadeiras em palco é uma assinatura do encenador. Toda a ópera é de grande impacto visual, mas destacaria o prólogo no céu, o Domingo de Páscoa do primeiro acto (impressionante) e, no 4º acto, o transporte de Fausto para a Grécia antiga.
Esta produção é um bom exemplo de que a ópera é para ouvir e também para ver.

A direcção musical foi de qualidade e esteve a cargo do maestro titular Nicola Luisotti. Tanto a Orquestra como o Coro estiveram ao mais alto nível.


 O baixo russo Ildar Abdrazakov fez um Mefistofele excelente, tanto na interpretação vocal como cénica. É um baixo seguro, potente, apelativo, cenicamente muito ágil, credível e com intervenções cómicas de bom gosto. Tem uma excelente figura física, que foi bem aproveitada pelo encenador, que o manteve em tronco nú durante várias partes do espectáculo.


 Patrícia Racette, soprano norte americana, foi Margherita e Elena. A cantora, sempre bem audível, interpretou o papel de Margherita com emoção, embora por vezes lhe faltasse um pouco mais de doçura na voz. Gostei particularmente da sua Elena.


 Fausto foi cantado pelo tenor mexicano Ramón Vargas. Foi a melhor interpretação que já lhe ouvi. Esteve óptimo no canto, sem maneirismos, gritos ou desafinações, o que não aconteceu noutras vezes que o vi. Fez uma personagem ao nível dos outros solistas.


 Nos papéis secundários os cantores cumpriram com dignidade. Vários deles eram “Alder Fellows”, jovens cantores residentes deste prestigiado programa da San Francisco Opera. Destaco apenas o mezzo Erin Johnson que foi a Marta. Assegurou momentos de grande comicidade pelo aproveitamento das suas avantajadas mamas para, em vão, tentar seduzir Mefistofele no 2º Acto.



Um espectáculo de grande qualidade.







*****


Mefistofele, War Memorial Opera House, San Francisco, October 2013

Mephistopheles is an opera with libretto by Arrigo Boito based on the composer's epic drama Faust of Goethe.

I attended in San Francisco the first great opera staging by Robert Carsen of 1989. It is a production of great scenic quality and visually unforgettable. Carsen chose to create a show within the show, an option regularly seen in opera productions that worked well here  The boxes are fictitious and full of audience members and there is an excellent exploration of the background on the stage, covered by an opaque screen initially that gradually becomes transparent, revealing what goes on behind.

The presence of large number of chairs on stage is a signature of the director. The whole opera is of great visual impact, but I highlight the prologue in heaven, Easter Sunday in the first act (impressive), and in the 4th act, the transportation of Faust to ancient Greece.

This production is a good example that opera is to be heard but also to be seen.

Musical direction by chief conductor Nicola Luisotti was of quality. Both the orchestra and the choir were at the highest level.

Russian bass Ildar Abdrazakov was an excellent ​​Mefistofele, both vocally and on stage. He is a solid, powerful, and appealing bass. Scenically he was very agile, credible and also played nice comic parts. He has an excellent physical figure, which was well explored by the director, who kept him without shirt in various parts of the performance.

Patricia Racette, north american soprano, was Margherita and Elena. The singer, always audible, played the role of Margherita with emotion, but sometimes lacked a bit of sweetness in her voice  I particularly liked her Elena.

Faust was sung by Mexican tenor Ramón Vargas. It was the best performance I have ever heard from him. He sang very well, always in tune, without mannerisms or screams, which has not happened in other times I saw him. He was at the same high level of the other soloists.

In supporting roles the singers were also good. Several of them were "Alder Fellows", young resident singers of this prestigious program of the San Francisco Opera . I highlight mezzo Erin Johnson as Marta. She interpreted moments of great comedy by leveraging her well-endowed breasts to, in vain, try to seduce Mefistofele in the 2nd Act.

A performance of great quality.


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4 comentários:

  1. José Manuel Carvalho26 de outubro de 2013 às 14:40

    Caro Fanático_Um:
    Tive o privilégio de assistir a este Mefistófeles em 1990, em São Francisco. Foi com esse magnífico baixo Samuel Ramey. A produção é efectivamente magnífica e fico feliz por ter sido reposta. Compreendo-o muito bem quando afirma que a ópera é também para se ver. Isto tendo em conta as atrocidades que por aí aparecem. A ópera é um espetáculo total e esta encenação é um belo exemplo disso; é, de facto. belíssima e inesquecível.
    Abraço e obrigado pelos seus posts.

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  2. Caro Fanático_Um,

    A crer nas fotos, em especial na de Mefistofele, e conjugando com o teor do comentário de José Manuel Carvalho, penso tratar-se de uma produção que vi, há muitos anos, através do programa “Noite de Ópera”, que passava na RTP2.
    Recordo apenas que o papel do Mefistofele era protagonizado por Samuel Ramey e pouco mais, pois já lá vão mais de 15 anos e eu, nessa data, ainda estava a dar os primeiros passos na arte da lírica.
    Versão que está disponível em cd e penso que também em dvd.

    Uma nota adicional (e espero que não me leve a mal): porquê traduzir o título da ópera, no título do post, para a versão inglesa “Mephistopheles”? Penso que, excluindo os casos em que o título original está escrito em alfabeto não latino, obrigando à sua transliteração, se deve sempre recorrer aos títulos originais. Por uma questão de integridade da obra e de não se atraiçoar o verdadeiro sentido do título (o que até nem é aqui o caso).

    Cumprimentos,
    J. Baptista

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    1. Caro J Baptista,
      Concordo totalmente com o que escreve e, mesmo que assim não fosse, nunca levaria a mal qualquer reparo, muito pelo contrário, já têm sido feitos e até agradeço.
      Neste caso procurei reproduzir o título tal como estava anunciado pela San Francisco Opera (até o pode ver nos cartazes, razão por que optei pelo título em inglês, como estava anunciado. De qualquer forma, agradeço o comentário.
      Cumprimentos

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  3. This one I would love to see, especially because of the literary background of the story. Lately, I have been disappointed by a few of the operas I have seen. After several terrific performances in a row, I am finally witnessing some poor ones. I guess I am learning.

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