(review in English below)
Fidelio é a única ópera escrita por Ludwig van Beethoven, com libretto de Joseph Sonnleithner, Stephan von Breuning e Georg Friedrich Treitschke, segundo o libretto do francês Jean-Nicolas Bouilly Léonore ou l’amour conjugal. É uma peça musical notável, em consonância com a obra deste grande vulto da música clássica.
(o amor verdadeiro não tem medo)
Florestan está preso na cave de uma prisão e a sua mulher, Leonore, disfarça-se de homem, Fidelio, para trabalhar na prisão e assim poder chegar ao marido. Conquista a confiança do responsável pelo presídio, Rocco que até lhe oferece a filha Marzelline em casamento (que se havia apaixonado por “ele”). Sabe que há um preso que está enclausurado numa cave inacessível e Dom Pizarro, o governador militar da prisão, pretende que se escave uma sepultura e nela se enterre esse preso depois de morto. Fidelio consegue acompanhar Rocco e reconhece o marido. Quando Don Pizarro aparece e pretende matar Florestan, Leonore revela a sua identidade e ameaça matá-lo também. Um Ministro visita a prisão, manda libertar todos os presos políticos e fica surpreendido por encontrar o amigo Florestan preso. A atitude de Leonore é enaltecida por todos excepto Marzelline, Don Pizzaro é preso e a ópera termina com um hino à liberdade.
A encenação, de Jürgen Flimm é interessante mas com algumas perplexidades. A acção passa-se nos nossos dias. No primeiro acto vêem-se lateralmente várias celas prisionais em três andares. No centro do palco há vários adereços, entre os quais uma mesa e cadeiras onde é oferecida uma refeição, da qual Fidelio retira o pão que, posteriormente, irá dar a Florestan. Quando decidem deixar os presos saírem para o pátio, o palco enche-se de personagens vestidos de branco imaculado, o que me pareceu desapropriado para um ambiente prisional. Alguma sujidade ficaria bem ali.
No 2º acto, a cela onde está Florestan está apropriadamente numa escuridão quase total e com acesso difícil. Contudo, ocupa o palco quase todo, o que lhe dá uma extensão excessiva para o que seria esperado. Na cena final, subitamente, todos festejam no palco, prisioneiros libertados e suas famílias, já à luz do dia, havendo apenas uma estátua atrás. É aqui outro grande momento do coro que assume o local principal em cena.
A direcção musical foi do britânico Mark Elder. Cumpriu sem impressionar, mas ofereceu-nos uma interpretação sóbria e correcta. A Orquestra esteve muito bem e o Coro da Royal Opera House foi fantástico, como seria de esperar numa ópera como esta em que as partes corais são componentes principais.
Fifelio / Leonore foi interpretado pelo soprano sueco Nina Stemme. A cantora é detentora de uma voz fabulosa que muito me tem impressionado nos papéis wagnerianos em que a tenho ouvido. Beleza de timbre, potência e musicalidade são características vocais que sempre revela. Aqui, manteve o seu habitual nível de excelência e foi uma das melhores da noite. Conseguiu transmitir, ao longo da récita, os diversos estados de alma pelos quais a personagem passa. Cenicamente foi também muito credível nomo Fidelio, com grande agilidade nos movimentos.
Já escrevemos sobre ela aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. É um privilégio poder assistir às actuações de Nina Stemme.
Rocco foi interpretado pelo baixo austríaco Kurt Rydl. Foi outro grande artista em palco, tanto cénica como vocalmente. A voz é bonita, encorpada e ágil. Transmitiu com notável facilidade as diferentes situações vividas pela personagem.
John Wegner, barítono alemão, foi um Don Pizarro interessante e credível como o vilão da história. Vocalmente esteve bem, apesar de não ter atingido a qualidade dos cantores que referi anteriormente, dado que a voz revelou menor agilidade e potência mas, ainda assim, muito bem.
Marzelline foi interpretada pelo soprano britânico Elizabeth Watts e foi uma agradável surpresa. Foi uma excelente actriz e a voz era fresca, limpa, bem audível e versátil.
O elo mais fraco foi o tenor alemão Endrik Wottrich que cantou o Florestan. Começou com enorme força mas o que parecia prometer uma boa interpretação não se confirmou. Apesar de o papel ser relativamente curto, teve uma emissão muito irregular, com desafinações ocasionais e um enorme esforço para emitir as notas mais agudas que saem agrestes e sem qualidade. Os duetos com Nina Stemme foram impiedosos porque sempre que cantavam juntos, o dueto passava imediatamente a monólogo. Foi pena porque destoou qualitativamente do resto do elenco. No último Fidelio que vi ao vivo, Florestan foi interpretado por Jonas Kaufmann. A diferença foi colossal!
Apesar de Wottrich, foi mais um espectáculo de qualidade superior na Royal Opera House.
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Fidelio, Royal Opera,
Fidelio is the only opera written by Ludwig van Beethoven, libretto by Joseph Sonnleithner, Stephan von Breuning and Georg Friedrich Treitschke, according to the libretto of Frenchman Jean-Nicolas Bouilly Léonore or l'amour conjugal. It is a remarkable piece of music, in line with the work of this great figure of classical music.
Florestan is imprisoned in the basement of a prison and his wife Leonore disguises herself as a man, Fidelio, to work in the prison and be able to reach her husband. She achieves the confidence of the responsible for the prison, Rocco, who offers him her daughter Marzelline in marriage (which was in love for "him"). She knows there's a prisoner in a cellar that is enclosed and inaccessible and Don Pizarro, the military governor of the prison, wants a grave to dig for the prisoner, after being arrested and killed. Fidelio follows Rocco and recognizes her husband. When Don Pizarro appears and wants to kill Florestan, Leonore reveals her identity and threatens to kill him too. A Minister visits the prison, orderes to free all political prisoners, and is surprised to find his friend Florestan imprisoned. Leonore's attitude is admired by all except Marzelline, Don Pizzaro is arrested and the opera ends with a hymn to freedom.
The staging by Jürgen Flimm is interesting but with some perplexities. The action is set in present days. In the first act we see laterally several prison cells on three levels. At center of the stage there are several objects, including a table and chairs where a meal is offered. Fidelio hides the bread that will later give Florestan. When they decide to let the prisoners out into the yard, the stage is filled with characters dressed in immaculate white, which seemed inappropriate for a prison environment. Some dirt would be fine there.
In Act 2, the cell where Florestan is arrested is properly in almost total darkness and with difficult access. However, it occupies the stage almost throughout, giving it an excessive extent for what would be expected. In the final scene, suddenly, everyone is partying on stage, released prisoners and their families, at the light of day, with only a statue backstage. Here's another great moment of the choir that takes the main place on stage.
The musical direction was from Sir Mark Elder. He did it without impressing, but offered us a sober and correct interpretation. The Orchestra was very good and the Choir of the Royal Opera House was fantastic, as you would expect in an opera like this where the choral parts are major components.
Fifelio / Leonore was interpreted by the Swedish soprano Nina Stemme. The singer holds a fabulous voice that has impressed me in Wagnerian roles in which I have heard her. Beauty of tone, power and musicality are vocal characteristics that she always shows. Here, she maintained her usual level of excellence and was one of the best of the night. She could show, along the performance, the various moods through which the character lives. Artistically she was also very credible as Fidelio, with great agility movements in scene.
We have written about her here, here, here, here and here. It is a privilege to attend performances by Nina Stemme.
We have written about her here, here, here, here and here. It is a privilege to attend performances by Nina Stemme.
Rocco was interpreted by Austrian bass Kurt Rydl. He was another great artist on stage, both vocally and artistically. The voice is beautiful, full bodied and agile. He transmitted with remarkable ease the different situations experienced by the character.
John Wegner, German baritone, was Don Pizarro, an interesting and credible as the villain of the story. Vocally he was well, despite not reaching the quality of the singers I mentioned earlier, since the voice has lower agility and power, but still very good.
Marzelline was interpreted by the British soprano Elizabeth Watts and she was a pleasant surprise. She was an excellent actress and the voice was fresh, clean, loud and versatile.
Marzelline was interpreted by the British soprano Elizabeth Watts and she was a pleasant surprise. She was an excellent actress and the voice was fresh, clean, loud and versatile.
The weakest link was the German tenor Endrik Wottrich who sang Florestan. He started with great strength but what seemed to promise a good interpretation was not confirmed. Although the paper is relatively short, he had issued a very irregular voice, with occasional discords and a huge effort to deliver the high notes without leaving harsh and quality. The duets with Nina Stemme were painful because when they sang together, the duet immediately turned into a monologue. This was a pity because he was clearly weaker when compared qualitatively with the rest of the cast. Last time II saw Fidelio live, Florestan was sung by Jonas Kaufmann. The difference was huge!
Despite Wottrich, this was another performance of superior quality at the Royal Opera House.
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Despite Wottrich, this was another performance of superior quality at the Royal Opera House.
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