Em jeito de memória, venho trazer a este Blog um pequeno apontamento sobre um espectáculo bastante bom que eu e FanaticoUm tivemos o prazer de assistir no início da Temporada em Londres.
Londres é um dos sítios onde se consegue ir e ver duas ou três óperas seguidas, principalmente no final da temporada mas, por vezes, também no início da mesma.
Assim, em Outubro de 2009, assistimos a um Don Carlo fantástico com Jonas Kaufmann, Simon Keelyside, Ferrucio Furlanetto e John Tomlinson, seguido de um Tristão e Isolda com Nina Stemme, Ben Heppner, Michael Volle, Sophie Koch e John Tomlinson e, com alguma ginástica de bilhetes, conseguimos ainda ver a Carmen com Elina Garanca, Roberto Alagna e Ildebrando d’Arcangelo.
É sobre este Tristão que quero deixar umas palavras. Antes da récita tive uma primeira desilusão que foi o facto de Matti Salminen ter de cancelar as primeiras récitas por ter sido operado ao joelho. Ainda não era desta que o via ao vivo e via o seu Rei Marke. Do mesmo modo que estou sempre a falar no blog sobre o seu Gurnemanz que ainda não tive oportunidade de ver ao vivo. A segunda desilusão, mas algo já relativamente esperado, foi Ben Heppner, cuja voz quebrou mesmo ainda antes do dueto do 2º acto.
Apesar destes pontos negativos, a récita foi memorável muito pela presença de 3 cantores fantásticos e em excelente forma: Nina Stemme, Michael Volle e Sophie Koch.
Nina Stemme foi uma excelente Isolda! Timbre muito bonito, com força mas não comprometendo a afinação e o dramatismo, facilmente sobrevoa uma orquestra wagneriana. Sublime a sua prestação e a grande heroína da noite, infelizmente não suportada por um Tristão à altura.
Michael Volle é um baixo-barítono fantástico! Dotado de uma classe exemplar em palco, voz forte e dramática, foi um prazer ouvir o seu Kurwenal. Ainda não tive oportunidade de o rever ao vivo mas espero poder fazê-lo no futuro. Brevemente estará à venda um DVD com adaptação cinematográfica de Der Freischutz e podem dar um olhinho ao seu Amfortas na gravação do Parsifal de Zurich – fantástica (encenação igual à de Barcelona no próximo ano).
Sophie Koch tem uma voz de mezzo sublime! Em tudo se aplica o que referi sobre os dois cantores prévios.
Em relação a Ben Heppner já estávamos à espera que quebrasse a voz. Alguém o ouviu na net no 2º acto do Tristão nos PROMS? Também teve algumas excursões vocais interessantes... Sem dúvida que tem uma voz fenomenal mas estas gaffes são frequentes e distraem muito, além de serem intoleráveis ao nível que se pretende. Estivemos sempre à espera de quando ia falhar o que foi muito incomodativo. A escolha de Peter Seiffert ou Ian Storey teria sido uma aposta ganha e um Tristão à altura da Isolda que tivemos.
John Tomlinson já está na recta descendente da carreira. Sem graves potentes e com agudos onde tem de literalmente puxar pelo movimento do corpo para que estes saiam e, mesmo assim, pouco bonitos. Esta ginástica física e vocal levam por vezes a sorrisos tímidos, muito semelhantes aos que se podem fazer quando se ouvem as gaffes de Ben Heppner. Mas Tomlinson ainda é audível e raramente desafina, aliando a isto uma presença forte em palco.
A Orquestra da Royal Opera e Pappano estiveram muito bem.
A encenação foi muito simples e pobre. Uma mesa com vários convidados ocasionais, cadeiras dispersas em palco, ambiente muito escuro... Foi a antítese do Tristão em Barcelona, muito colorido e infantil.
Estava há muito à espera do comentário do especialista para, sobre ele, dar umas pequenas notas pessoais. No geral, foi um espectáculo notável, ao nível do habitual em Covent Garden.
ResponderEliminarNina Stemme é a grande Isolda da actualidade. Penso que não tem rival no papel. Foi arrasadora e, se desse notas, teria dado 20 valores. Impressionante!
Também Sophie Koch e Michael Volle foram notáveis e contribuiram para a grande qualidade da récita.
Os aspectos negativos foram Ben Heppner, com um estoiro vocal monumental logo no início, mas a sua experiência permitiu-lhe enfrentar o último acto de forma digna. Mas o que realmente estragou a actuação foi o facto de, inconscientemente e depois daquele falhanço invulgar, se estar sempre à espera de novo episódio idêntico, quebrando a concentração.
A encenação também não ajudou nada. Uma parte da acção passava-se lá pelos fundos do palco e só ocasionalmente era revelada ao público e, na restante, longa, os cantores estiveram quase sempre encostados ao lado esquerdo do palco. Imagino que quem estava sentado desse lado não terá visto muito (embora, na verdade, não houvesse muito para ver).
Mas, apesar de tudo isto, desta vez concordo em absoluto com o wagner_fanatic. Foi um Tristão memorável!
Eu só quero realçar as qualidades vocais da Sophie Koch, menina que me tem agradado muito. Fico feliz por nao ter sido apenas uma magnifica Charlotte em Werther. :)
ResponderEliminarTem toda a razão, teve também uma interpretação inesquecível e a voz é estupenda!
ResponderEliminarEm Dezembro de 2008 também eu devia ter visto Salminen no papel de Filipe II, em Viena, mas ele foi substituído por doença. Acontece.
ResponderEliminarAdoro Nina Stemme, deve ter sido fantástico!
ResponderEliminarSim, as duas Senhoras, Nina Stemme e Sofie Koch, deram-nos interpretações inesquecíveis. Como escrevi, de entre as cantoras que tenho ouvido nos últimos anos, acho que Nina Stemme não tem rival e é uma digna sucessora dos grandes sopranos Wagnerianos do passado como Kirsten Flagstadt, Birgit Nilssen ou Astrid Varnay, para mencionar as três que conheço melhor. Curiosamente, todas escandinavas, como Nina Stemme. De facto, fantástica.
ResponderEliminarCara Elsa,
ResponderEliminarO Tristão foi realmente muito bom. Acho que podemos dizer que teve de tudo: Drama e Comédia. Nina Stemme simplesmente soberba e a Comédia a vir de Heppner e dos maneirismos que Tomlinson faz em palco para chegar aos agudos :)
Cumprimentos musicais.