domingo, 9 de janeiro de 2011

LA FANCIULLA DEL WEST, Met Live em HD; Fundação Gulbenkian, Janeiro de 2011

(Review in English below)

Um Western à antiga no Met!

La Fanciulla del West, de Giacomo Puccini com libretto de Guelfo Civinni e Carlo Zangarini é uma ópera que relata uma história passada nos finais do Século XIX na Califórnia, no período da corrida ao ouro. Está longe de ser uma das minhas preferidas, mas o espectáculo que nos foi oferecido ultrapassou as melhores expectativas.

Minnie, a dona de um Saloon, é desejada por todos os homens do lugar, incluindo o xerife Jack Range. Acaba por se apaixonar por um forasteiro, Dick Johnson, que é um bandido procurado localmente. Ela recebe-o em sua casa. Lá é encontrado e ferido pelo xerife. Após uma aposta num jogo de poker com Jack Range, em que Minnie faz batota, consegue a sua libertação. Contudo, Dick Johnson é novamente capturado e, quando está prestes a ser enforcado pelos mineiros, surge Minnie que pede a sua libertação, recordando a todos o que lhe devem. Os mineiros cedem e os dois partem juntos.

A encenação, de Giancarlo del Monaco, é convencional e fantástica. Faz-nos reviver um western “clássico” em que foram cuidados todos os pormenores: roupas, cartas, pistolas, espingardas, bebidas, charutos, todo o Saloon, a casa de Minnie e a rua local. Também excelente a movimentação em palco dos mineiros (coro e alguns cantores secundários) e a chegada dos protagonistas montados em cavalos. Só faltou aparecer o John Wayne…
Subitamente recordei os filmes da minha infância e o período em que recebíamos como prendas uma estrela de xerife, uma pistola e um chapéu de cowboy.

Mais um exemplo perfeito de como a ópera é para ouvir, mas também para se ver!

(algumas fotografias são de Ronald Blum)

Nicola Luisotti foi um maestro à altura da obra, tal como o foram a orquestra e o coro.

Em relação aos cantores, devo confessar que, até ao último minuto, alimentei a esperança de ver Elisabete Matos como Minnie, cantora que alternou com Débora Voigt e a havia substituído na récita anterior, por doença. Os relatos do sucesso de Elisabete Matos foram estrondosos e seria um orgulho para todos nós podermos ver a nossa grande cantora num dos mais importantes teatros de ópera do mundo. Para ela, seria uma projecção mundial da mais elementar justiça, sobretudo tendo em mente a forma infame como tem sido tratada pelo nosso único teatro nacional de ópera e como o seu sucesso tem sido ignorado pelos media nacionais. Mas, infelizmente, ainda não foi desta…


Minnie foi interpretada pelo soprano americano Deborah Voigt. Devo confessar que não gosto do timbre da cantora mas reconheço que teve um desempenho de qualidade. É curioso que, quando começava a cantar, parecia que tinha uma voz pequena mas, depois, revelou estar à altura das exigências da personagem, até sem aparentar grande esforço. Cenicamente também esteve bem.


Marcello Giordani, tenor italiano, foi um Dick Johnson que cumpriu o papel sem encantar. A voz é muito potente, não desafina, mas não é mais do que isso. Falta-lhe cor e emotividade expressiva. E achei ainda que o cantor não foi capaz de representar de forma convincente o papel que desempenhou, embora esta não tenha sido a exigência mais importante.


Também o barítono italiano Lucio Gallo ficou aquém do que seria desejável para Jack Range. Desinteressante na representação, a voz cumpriu sem encantar revelando pouca maleabilidade interpretativa.


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LA FANCIULLA DEL WEST, Met Live in HD; Fundação Gulbenkian, January  2011


A western in the Met like in the good old days!

La Fanciulla del West by Giacomo Puccini with libretto by Guelfo Civinni and Carlo Zangarini is an opera that tells a story set in the late nineteenth century in California during the gold rush. It is far from being one of my favourites, but the performance we were offered exceeded my highest expectations.

Minnie, the owner of a Saloon, is desired by all men of the place, including Sheriff Jack Range. She ends up falling in love with a stranger, Dick Johnson, who is a bandit chased locally. Minnie invites him to her house. There, he is found and wounded by the sheriff. After a bet with Jack Range in a poker game in which Minnie cheats, she gets his freedom. However, Dick Johnson is captured again and when he is about to be hanged by the miners, Minnie comes up asking for his release, reminding everyone what they owe her. The miners accept Minnie’s request and the two leave together.

The production, by Giancarlo del Monaco, is conventional and fantastic. It makes us revive a "classical" western where every detail was taken care of: clothes, letters, pistols, rifles, beverages, cigars, all the Saloon, the house of Minnie and the local streets. Also excellent were the movements of the miners on stage (chorus and some singers from high school) and the arrival of the artists on horseback. We only failed to see John Wayne appearing ...
Suddenly I recalled the films of my childhood and the period in which we received as gifts a sheriff's star, a gun and a cowboy hat.

This performance is another perfect example of how the opera is to hear, but also to see!

Maestro Nicola Luisotti directed the score with high quality. The same applies to the orchestra and the chorus.
Concerning the singers, I must confess that, until the last minute, I hoped to see Elisabete Matos as Minnie, that was also singing the role alternating with Deborah Voigt and that had replaced her, due to illness, in the previous performance. The reports of the success of Elisabete Matos were tremendous and it would be a pride to us all that we could see our great Portuguese singer performing in one of the most important opera houses in the world. For her, it would have been a world projection of the most elementary justice, especially bearing in mind the disgraceful way she has been treated by our national opera house, as well as how her success is being largely ignored by the national media. But, unfortunately, it was not yet this time ...

Minnie was interpreted by American soprano Deborah Voigt. I must confess I do not like the timbre of the singer but I recognize that she sang with quality. It is curious that when she started singing she seemed to have a small voice, but later she revealed to be at the highest demand of the character, even without apparent effort. Artistically she was also good.

Marcello Giordani, Italian tenor, was a Dick Johnson who sang the role without charm. The voice is very powerful, on tune, but no more than that. It lacks colour and expressive emotion. And I think the singer was unable to act convincingly the role he played, although this was not the most important requirement.

Italian baritone Lucio Gallo was also short of what is desirable for the role of Jack Range. The acting was not exciting and the voice was decent but did not reveal interpretive malleability.
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14 comentários:

  1. Já depois de ter escrito este texto ouvi Marcelo Rebelo de Sousa, no seu comentário semanal no telejornal da TVI, fazer um rasgado e merecidíssimo elogio a Elisabete Matos, descrevendo pormenorizadamente o seu sucesso como Minnie no Met e anunciando a sua participação na ópera Macbeth no Festival de Salzburgo. Finalmente, alguém fala na nossa excepcional cantora para o grande público!
    Em nome dos Fanáticos da Ópera, Obrigado Marcelo Rebelo de Sousa!

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  2. Caro FanaticoUm,

    Também gostava de ter podido assistir a esta récita com Elisabete Matos pelos motivos que refere. Mesmo assim, gostei no geral.

    Como já tive oportunidade de comentar noutro blog, e ao contrário do que tenho visto escrito, gostei de Voigt (da qual tenho poucas memórias positivas da sua Isolde em Barcelona 2010...).

    Todos parecem não gostar de Giordani mas a voz é potente e sinto-a expressiva. Há é sempre o receio constante que, pela potência que emana, alguma vez quebre em cena.

    Lucio Gallo teve presença para o papel e esteve bem.

    Não tenho grande termo de comparação porque nunca tinha visto a ópera e acredito que haverá possibilidade de reunir outros nomes mais fortes no papel mas, juntando-se a encenação muito bem conseguida, e os cantores que tivemos, passamos um agradável fim de tarde na Gulbenkian.

    Talvez tenha de ver o DVD com... Domingo :)

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  3. Caro wagner_fanatic,
    Com Domingo é vocalmente muito melhor, não tem comparação. Em expressão dramática é quase a antítese de Giordano. A versão que tenho em CD é com ele e com Mara Zampieri, uma cantora italiana que encheu o São Carlos com a sua voz durante muitos e bons anos e que muito contribuiu para a minha paixão por esta arte. Bons tempos, esses no nosso teatro de ópera...

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  4. Confesso que tive algumas dificuldades com Deborah Voigt. Conheci-a quando estava no auge da carreira (no youtube também podemos ouvir algumas das suas representações mais antigas) e a sua voz agora não me agrada nada. Como poucos dias antes tinha ouvido a transmissão em directo do Met com Elisabete Matos, passei o tempo a comparar as duas prestações mentalmente (mesmo sem querer).

    Escusado será dizer que até ao próprio dia ainda tive esperanças que Voigt desistisse.

    Giordani tem alguns problemas com os graves e não é muito expressivo, mas enfim.

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  5. Apesar de ter lido no seu blog valgirio que havia a transmissão da récita com Elisabete Matos, não pude ouvir dada a hora muito tardia e o facto de iniciar o meu trabalho diário pelas 7h30m. Mas confesso que no Sábado também alimentei a esperança de a Voigt desistir até ao último minuto. Infelizmente tal não aconteceu, mas estou certo que Elisabete Matos andará nas bocas do mundo e nos melhores teatros de ópera mundiais de agora em diante. Já anda e sem o empurrão (tantas vezes imerecido) de uma grande empresa discográfica, o que só eleva ainda mais o seu valor. Confesso que Oviedo me anda a atormentar, apesar de já não haver lugares decentes no teatro...

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  6. Também não duvido e acredito que voltará ao Met.
    A Oviedo não faltarei.

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  7. Há quanto tempo comprou bilhete? Eu distraí-me (o que não é nada habitual em mim) e agora não há nada de jeito. Talvez também porque os dias das récitas são difíceis para mim, mas cada vez ando com mais vontade.

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  8. Não posso precisar, mas penso que já há mais de um mês.

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  9. Já que se fala da tal gravação do Scala...
    Tenho-a desde o ano passado. Tive sorte porque, se bem me lembro, andava a fazer especulação de preços. Andava a 20 e tal, desceu até aos 17 euros e dias depois já desaparecera!
    É assim deste espectro:
    Maazel -> 20
    Zampieri -> 20
    Plácido -> 20
    Encenação -> 18

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  10. Hi FanaticoUm,

    I've heard that Ms. Voigt sang better, before she lost her weight. On the picture I see that she looks much slimmer than before. Well, voice or figure?

    Please let me know what's going on with your problem with BSO Munich, when you get answer from them. As I mentioned many people in Germany complain about the management of BSO.

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  11. Dear lotus-eater,
    Thanks for your comment.
    Ms. Voigt lost both weight and voice quality, although she still sings well (but she was much better). Of course, voice is far more important than figure.

    Concerning my adventure with the tickets for the Bayerische Staatsoper, as I told you, I received 2 sets of tickets in 2 different days (and was charged for both sets on the credit card!). I wrote a mail yesterday explaining the situation, they replyed immediately, apologising for the mistake and asking me to send them back the set of tickets that I do not want. I just have sent the tickets back this afternoon.
    I will keep you informed on how things will go on, but they were very rapid in answering and presenting their apologies.

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  12. Hi,

    Germen are well-known for their correctness. Such kind of thing happens very seldom, you know. Please don't be upset. I told your story to some of my friends. Their reaction: It can only happen at the BSO! They were just joking. You can trust BSO. But please check your credit card receit. Within next days your money will be back.

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  13. Dear lotus-eater,
    I am not upset at all. By the contrary, I am happy to have been able to get the tickets (I was afraid that for Lucrezia Borgia, with Gruberova, I could have difficulties). These things happen and I am sure they will correct the mistake as soon as they will get the tickets back.
    I know the German way of behaving is very correct and I envy the German people for having so many opera houses running with so many good seasons!
    As you know, Germany is one of my favourite countries in Europe, very organised and efficient. I wish I could go there more often than I do!

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