quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Teatro de São Carlos, Lisboa - Temporada 2010-2011


Finalmente foi tornada pública a Temporada Lírica 2010-2011 do Teatro Nacional de São Carlos.
Também se conhecem a Temporada Sinfónica, Bailado e Outras Iniciativas, mas abordarei apenas a temporada lírica.
Conta com 10 óperas, das quais apenas conheço cinco. Quero esquecer o período Dammann mas admito que ainda transborde para esta temporada algum do seu (mau) legado. Vou, contudo, dar o benefício da dúvida ao maestro Martin André, actual director artístico.


Aspectos positivos:

- A presença de muitos cantores portugueses em papeis de relevo em diversas óperas. Finalmente parece perder-se o preconceito de que os cantores estrangeiros (sejam eles quais forem) são melhores do que os nacionais, situação que foi totalmente negada nas passadas temporadas em que tivemos estrangeiros de má ou péssima qualidade (alguns ainda presentes em 2010-2011!). Há, de facto, cantores estrangeiros excelentes, mas não foram esses os trazidos ao São Carlos. É essencial dar oportunidades aos portugueses no principal palco de ópera nacional para que o público amante da lírica os possa apreciar convenientemente.

- O conceito “Contar uma Ópera”, se eficaz, poderá ser muito interessante. Serão duas as escolhidas – Cavalleria Rusticana e Gianni Schicchi.

- A apresentação de ópera para famílias e escolas – Hansel und Gretel.

- A direcção musical do próprio Director Artístico, Maestro Martin André, de três óperas – Cavalleria Rusticana, Gianni Schicchi e Blue Monday.

- A possibilidade de apreciar de novo José Fardilha, Jorge Vaz de Carvalho e, sobretudo, Dagmar Peckova.


Aspectos negativos:

- Uma temporada com poucas óperas dirigidas ao grande público, aquelas que, em minha opinião, poderão cativar novos espectadores para a ópera. (Apenas a Carmen está neste meu grupo). No que respeita a este importante aspecto a temporada é muito muito pobre.

- A falta de Mozart, Bellini, Donizetti, Rossini, Verdi, Wagner, para só referir alguns dos “imprescindíveis”.

- A presença contínua de cantores estrangeiros que já demonstraram não estar à altura das personagens que lhes foram atribuídas (Chelsey Schill, Leandro Fischetti, Musa Nkuna).

- A ausência, novamente, de Elisabete Matos.


Aspectos “de risco”:

- A apresentação de óperas pouco conhecidas ou em estreia. Abre-nos a possibilidade de ver coisas novas, o que é bom, mas pode ser um risco se for mau, sobretudo quando em número tão elevado numa só temporada, como é o caso.
Devo confessar que temo o pior!


As óperas anunciadas são:

- Dona Branca (Keil) em Setembro (29) e Outubro (1, 3 e 5). Transitou da temporada anterior. Aguardo com expectativa, apesar de em versão concerto.

- Cavalleria Rusticana (Mascagni) em Novembro (3, 4, 6 e 7). Também em versão concerto.

- Hansel und Gretel (Humperdinck) em Novembro (20, 21, 23, 24, 26, 27, 28 e 30) e Dezembro (2 e 4). No Teatro Camões.

- Paint me (Luís Tinoco) em Dezembro (17 e 18). Na Culturgest.

- Kátià Kabanová (Janácek) em Janeiro (8, 10, 12, 14, 16 e 18). Dirigida por Júlia Jones, poderá ser um dos melhores espectáculos da temporada.

- Gianni Schicchi (Puccini) e Blue Monday (Gershwin) em Fevereiro (10, 13, 15, 17 e 19).

- Banksters (Nuno Corte-Real) em Março (18, 20, 22, 24 e 26). Com libreto de Vasco Graça Mouta e encenação de João Botelho, uma estreia absoluta.

- Il Capello de Paglia di Firenze - O Chapéu de Palha de Itália (Rota) em Maio (14, 16, 18, 19 e 21).

- Carmen (Bizet) em Junho (11, 14, 16, 18, 21, 24 e 26). Se o espectáculo for bom, é um final de temporada em grande.

Todos os pormenores podem ser consultados em:
http://www.saocarlos.pt/

Uma última palavra para recordar que, nesta temporada, o São Carlos tem uma concorrência fortíssima na Gulbenkian, quer na quantidade (e, seguramente, qualidade) das óperas lá apresentadas em versão de concerto, quer na transmissão do Met Live. Mais uma razão para nos oferecer espectáculos de qualidade!

É esperar para ver e ouvir…
E cá estaremos para comentar.

22 comentários:

  1. É uma temporada muito pobrezinha, que conta essencialmente com a prata da casa (o que, não sendo possível trazer grandes cantores, também prefiro). E também quero acreditar que não foi possível fazer melhor dadas as circunstâncias. De resto, concordo com quase tudo o que aqui disse.

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  2. Mesmo "Kátìa Kabanová", para mim talvez o melhor da temporada, não é uma ópera de grande público.
    Penso que faria mais sentido pegar em produções antigas e colocar lá os nossos cantores; já se poupava. Ou fazer dois elencos em algumas óperas, um internacional (mas bom) e o outro da casa. Enfim, devo estar a parecer um director artístico de sofá.

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  3. Totalmente de acordo. Não é ser director artístico de sofá, é ter conhecimento do público e, sobretusdo, bom senso!

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  4. Comento o teu post com um post no meu blog :)

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  5. Caro Paulo,
    Obrigado pelo seu comentário. Quero crer que é como diz - nas circunstâncias actuais não é possível fazer melhor. Mas mais vale menor quantidade com maior qualidade. É esse o meu principal receio, pois há muito que, tal como para mim, deve ser desconhecido do grande público, o que não ajuda nada o São Carlos.
    Desta temporada nunca ouvi a Dona Branca, Paint me, Blue Monday, Banksters e Il Capelio de Paglia di Firenze. Parece-me excessivo que metade das óperas sejam tão pouco conhecidas, pois admito não estar isolado na condição de desconhecedor.

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  6. Para que não seja levantado qualquer conflito de interesses mantenho o anonimato.

    Em relação ao Il capello di paglia, recomendo em modo de pre-audição uma versão com Mariella Devia, Magda Oliveiro e Edorado Ginénez.

    http://www.amazon.co.uk/gp/product/B001HOXY2Y/ref=dm_sp_alb?ie=UTF8&qid=1284647848&sr=8-2

    Esta foi também a opera que ,basicamente catapultou Juan Diego Florez para o estrelato. Não sei se esta versão alguma vez foi editada, completa em áudio ou vídeo, no entanto existem vários excertos muito interessantes no youtube.

    Fica a diga.

    Cumprimentos.

    16 de Setembro de 2010 15:40

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  7. Muito obrigado pela dica!
    Como escrevi anteriormente, não conheço esta ópera, mas seguramente que tentarei fazer o "trabalho de casa" antes de a ir ver ao São Carlos.

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  8. Caríssimos,

    Com um orçamento cada vez mais reduzido,o problema da qualidade e quantidade da temporada do S. Carlos reside apenas na gestão dos corpos artísticos e na sua relação com o ignorante poder político.
    É perfeitamente claro que se poderia ter melhor qualidade em detrimento da quantidade,mas isso implicaria um corte em mais de metade das produções e deixaria os corpos artísticos do OPART(orquestra,coro e bailado)sem nada para fazer durante o resto do tempo.Isso não é justo para o cidadão contribuinte que pagaria para ter corpos artísticos de um teatro nacional parados,e o poder político(e não só!) aproveitar-se-ia do facto,para demonstrar que a cultura e os artistas são um servedouro de dinheiro sem qualquer utilidade.Para mim,como instrumentista da OSP,concordo com vocês sobre a fraca temporada,mas com o pouco "pilim" que existe,a quantidade sempre nos fará trabalhar e com inteligência tentar melhorar a nossa qualidade,contando com a vossa ENORME paciência e esperando por melhores dias.
    Saudações Musicais

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  9. Compreendo o seu ponto de vista. Mal vai um país que ache que a cultura (é do que estamos a falar afinal) é uma fonte de gastos de dinheiro sem utilidade. Sem cultura, o ser humano morre intelectualmente.
    Salientei como positivo o facto de se terem contratado muito mais cantores portugueses do que é habitual, sobretudo tendo em conta os maus cantores estrangeiros que, salvo raras excepções, são os que têm vindo (e alguns continuam) ao São Carlos. É bom para os artistas nacionais, como refere e o público não fica prejudicado.
    Mas não seria mais económico repor óperas mais conhecidas para as quais já deverá haver muito material preparado (cenários, adereços, etc.) e investimento feito? É o que vejo fazer nos grandes teatros de ópera mundiais - as produções são habitualmente repostas, alterando apenas os cantores e os maestros.
    Para além da economia em gastos de produção, será que a reposição de óperas mais conhecidas não atrairia mais público e mesmo novos públicos? É o tal investimento na cultura que referi.
    A presente temporada é, quase toda, um salto no desconhecido para quem não é um espectador assíduo da ópera. (Só a Carmen é claramente uma excepção, o que é manifestamente pouco). Preferiria ver mais duas ou três produções mais do apelativas para o público do que tantas produções novas e desconhecidas, que temo estarem condenadas ao insucesso. Penso que assim não vamos lá.

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  10. Caro FanaticoUM

    Concordo plenamente que repor óperas é algo que tem que começar a existir no futuro a breve prazo do Teatro São Carlos. No entanto garanto-lhe que neste momento não existem assim tantas produções que possam ser repostas. As produções próprias do teatro por não se fazerem há tantos anos estão em tão mau estado que restaura-las seria o mesmo que fazer um produção do zero...algumas foram mesmo destruídas a machada para poderem sair do palco...:P Quanto as co-produções estas são devolvidas ao teatro de origem não ficam nos armazéns do teatro. A não ser que seja uma produção fantástica, também o custo de voltar a trazer uma produção já feita e que se encontra fora do pais custa tanto quanto trazer uma produção nova.

    Cumprimentos.

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  11. Registo com surpresa (mas sem qualquer dúvida quanto à veracidade) este seu relato. Estar fora do "sistema" leva-nos a pensar, ingenuamente, que se podem recuperar, pelo menos, aquelas produções que, à data da sua apresentação, foram referenciadas como "nova produção do TNSC".
    Tenho tido a sorte de poder assistir a espectáculos em grandes teatros de ópera e vejo que é uma rotina a reposição frequente (por vários anos) da mesma produção. Por que motivo um teatro como o São Carlos não poderá fazer o mesmo, dado que o dinheiro não abunda?
    Como "fanático", gosto de ver boa ópera e faço questão de convidar amigos (alguns até pensam que não gostam de ópera) para usufruirem desta experiência única. Frequentemente, no passado, tive reacções surpreendentemente agradáveis. Infelizmente, tal não vai acontecer nesta temporada (só a Carmen o permitirá, se for decente, mas é a última a ser levada à cena).
    Sinto tristeza porque, em cada ano que passa, cada vez me convenço mais que, para disfrutar de boa ópera, é necessário emigrar.
    É uma pena, é lamentável, mas é a verdade.

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  12. POR FAVOR ALGUÉM MELHORE O ATENDIMENTO TELEFÓNICO DA BILHETEIRA!!! É UMA VERGONHA!

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  13. Caro Anónimo,
    Deverá enviar a sua queixa directamente para o Teatro de São Carlos.
    E, se lá for para comprar bilhetes, vá prevenido com cheques ou dinheiro porque ontem, quando a bilheteira abriu, os terminais de multibanco (da bilheteira) não estavam a funcionar!

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  14. Tendo presente todas as dificuldades artístico-económicas, ou melhor, económico-artísticas, acabamos por assistir a uma apresentação de nova Temporada no TNSC que, mais uma vez, deixa muito a desejar.

    Se no ano passado ainda jubilámos com o Crepúsculo (várias vezes já debatido neste blog que o Anel foi uma das melhores produções que pudemos ver nos últimos anos no nosso Teatro), custa-me não vislumbrar nada que me possa chamar particularmente ao TNSC.

    Joga-se com falta de recursos e gere-se maioritariamente um elenco fixo ou pseudo-fixo, que nem sempre conseguirá cobrir um repertório como esperaríamos.

    Vai-se procurando chamar um público novo à Ópera, com as iniciativas "Contar uma Ópera" e produções em português direccionadas principalmente a um público muito jovem, mas o que se oferece a quem já ama a Ópera e ama e respeita o seu país e Teatro Nacional? Muito pouco ou quase nada. Podem-se mudar directores mas o problema não reside nem nunca terá residido aí. Por exemplo, ao abrirmos um programa do Liceu de Barcelona, são inúmeras as entidades privadas que patrocinam o Teatro. Se do Estado pouco ou nada vem, onde estão estas entidades para o TNSC? Será que ninguém tem interesse no patrocínio da Ópera? O interesse nesta forma de Arte tem vindo a ser crescente pela sociedade portuguesa por isso o que falta para esse apoio? Não sei como tudo isto funciona...

    Como já referido num comentário prévio de outro blogger, a Katia Kabanova é talvez a melhor ópera da Temporada. Conheço a ópera apenas "de nome", aliás como todas as outras de Janacek mas gosto muito e conheço bem Dagmar Peckova desde o Tristão e Isolda da Culturgest há uns anos. Fez uma excelente Brangane. Talvez essa possa ser a minha única aposta na temporada se ainda conseguir bilhete.

    Aconselho vivamente a quem gosta de Ópera a apostar na temporada do Metropolitan de Nova Iorque na Gulbenkian. Bem sei que não é a mesma coisa que assistir "in loco" mas acharão o vosso dinheiro melhor empregue (é muito mais barato...) e sairão da Fundação de barriga cheia.

    Boas escolhas.

    Cumprimentos musicais.

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  15. Li todos os comentários. Parece-me o tema dos cenários a parte com mais "nevoeiro".

    De que vale guardar cenários se, em última análise, não se reutilizam? Só me ocorre uma resposta: falta de gestão de recursos à Tuga. Tem de se racionalizar o espaço de modo a que o que lá fica não apodreça. E, acima disso, tem de haver uma coisa que não se faz muito por aqui: MANUTENÇÃO. Não é apenas gastar à grande e à francesa e depois deixar tudo cair de podre. Mas calma aí, posso estar enganado no segundo ponto. Pelo menos no primeiro estou certo; porque se não, o segundo verificar-se-ia. Ok. Então, estou certo. OK??

    Quanto às bilheteiras por telefone, lembrem-se que uma das senhoras da bilheteira está grávida... e que o pessoal de lá até é competente.

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  16. Li alguns dos comentários e concordo com muito do que aqui se disse. No entanto eu, que não vivo em Lisboa, não porei os pés no S. Carlos este ano. A temporada não vale o esforço, físico e financeiro.

    Apenas chamo a atenção para o facto de no últimos anos se ir dizendo: a temporada X não foi boa por causa do director; este ano foi mau, para o ano será melhor, etc, etc.

    A desculpa deste ano e a crise.

    Caramba! Se os outros conseguem, porque não conseguimos nós? E já nem falo em boas temporárias com elencos e encenações de luxo. Falo de coisas razoavelmente boas e a custos controlados. Nem que seja mais vezes utilizada a versão concerto, o o duplo elenco...

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  17. Caro Alberto,
    Infelizmente, acho que tem a razão do seu lado! É triste, mas é o que nos querem dar. E é tão pouco, tendo em conta mesmo só a "prata da casa". Resumindo, é uma tristeza (tomara que estes comentários sejam injustos, mas cá estaremos para o testemunhar. No meu caso, serei o primeiro a retratar-me, se for caso disso mas, infelizmente, temo que tal não vá acontecer...)

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  18. É sem dúvida uma pena Portugal deixar de parte ou não demonstrar tanto destaque a esta Maravilha de arte musical que é a Ópera. Temporada Lírica sem dúvida um pouco fraca em comparação a outros países. Mas se falarmos de orçamentos, penso que não é por aí, pois gastasse tanto dinheiro em futebol, em tantas coisas efémeras no nosso país porque não gastar em coisas como a cultura da Opera. Eu sou jovem e não compreendo porque no nosso país estando nós na União Europeia e considerando um país evoluído em tantos aspectos porque não evoluir em relação à cultura interior que é a mais valiosa para todos nós. É uma pena os jovens não saberem apreciar estar maravilha da terra, que nos faz sonhar acordados. Porque é que temos que ir a outros países para vermos o que é realmente um teatro de Ópera veramente poderoso?
    Obrigado Fanáticos da Ópera

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  19. Caro L Andreia,
    É realmente uma pena que, no nosso principal teatro de ópera - o Teatro Nacional de São Carlos - se anunciem temporadas tão pobres.
    Muito do que se poderia fazer sem grande incremento nos custos, pensamos nós, já foi referido nos comentários anteriores. Infelizmente, parece que temos, há anos, um poder político pouco conhecedor e que persiste em investir mal.
    Resta-nos a esperança de que, um dia, voltaremos a ter espectáculos de ópera decentes no São Carlos, como aconteceu não há muitos anos, na era Pinamonti.
    Contudo, acho que os tempos de glória (em que o nosso teatro de ópera era um dos grandes da Europa ou uma porta de entrada na Europa para novos artistas) estão, definitivamente, perdidos!

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  20. Que pobreza! É mais um retrato do país.

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  21. Só uma pequena correcção. No São Carlos não cantam cantores estrangeiros porque existe preconceito em relação aos portugueses. Cantam estrelas com renome internacional que podem ser estrangeiras ou portuguesas. Não é que não venham cantores estrangeiros maus. Mas é que as pessoas lá fora não sabem que em Portugal existem cantores. Essa situação só agora começa a mudar.

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  22. Caro Daniel,
    Não estou de acordo consigo (pelo menos no que diz respeito às últimas temporadas) quando diz que no São Carlos cantam estrelas com renome internacional. Tirando algumas escassíssimas excepções, infelizmente temos tido cantores bastante maus, sobretudo os estrangeiros. Muitos deles penso que são pouco conhecidos a nível internacional também. Felizmente os cantores portugueses de qualidade começam a ser mais notados, tanto cá como no estrangeiro.
    Muito obrigado pelo seu comentário.

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