terça-feira, 16 de agosto de 2022

SIEGFRIED, Festival de Bayreuth / Bayreuther Festspiele, Agosto / August 2022

(review in English below)


O Siegfried continuou a ser complexo e pouco claro para mim. Quase tudo se continua a centrar numa família abastada disfuncional, muito afastado da ideia original de Wagner. 

O 1º acto passa-se numa casa de um artista ambulante (Mime), que prepara uma festa de aniversário ao Siegfried. Mime aparece vestido com uma capa azul com estrelas, tipo mágico, interage com bonecos que senta à sua roda e aparece numa janela lateral iluminada como num teatro de marionetes. Reaparece uma pintura da máscara vermelha alada. Siegfried destroi grande parte dos bonecos e finalmente forja uma espada (o primeiro dos objectos simbólicos originais da obra), mas as pistolas continuam omnipresentes. 



O 2º acto é no interior da casa abastada já vista anteriormente. O dragão Fafner é aqui um velho moribundo com enfermeira privada e numa cama articulada. Morre de ataque cardíaco e não pela mão do Siegfried. O ouro do Reno (em forma de soqueira) é retirado ao moribundo e dado pelo Siegfried ao acompanhante de Fafner, o Hagan jovem (o rapaz raptado no Ouro do Reno, agora um jovem adulto), vestido de castanho e preto e com o boné. Comporta-se como amigo do Siegfried, talvez para ganhar a sua confiança mais para diante, quando se confrontarem. 



No 3º acto a Erda passeia com a pirâmide iluminada que está presente desde a primeira ópera, mas o significado continua sem se perceber. A libertação do anel de fogo da Brünhilde pelo Siegfried é substituída nesta produção pelo tirar das ligaduras da cara e cabeça, após a cirurgia plástica (o que até funciona bem dado que é uma cantora diferente). O Grane, aqui um homem apaixonado pela Brünhilde, está sempre entre ela e o Siegfried, perturbando a cena de amor final.



O maestro Cornelius Meister teve hoje melhor prestação, com a Orquestra do Festival ao mais alto nível. 


Os cantores foram excelentes. O tenor Andreas Schaeger, com comportamento muitas vezes ridículo (culpa da encenação), foi fantástico na interpretação. A voz é grande, extensa e aguentou com valentia toda a enorme extensão do papel, embora no final os agudos tenham quase desaparecido. O Mime do tenor Arnold Bezuyen foi muito bom, tem um tipo de voz bem adequado ao papel e o timbre é agradável. O baixo-barítono Tomasz Konieczny foi excelente mais uma vez como “wanderer” (Wotan) e, nesta produção, tem um papel central em toda a acção. Achei que foi melhor aqui que na Valquíria, voz sólida, forte, impositiva e convincente. 

O barítono Ólafur Sigurdarson esteve novamente bem. Tem um poderio vocal invejável. A Erda da mezzo Okka von der Damerau cumpriu com nobreza e a ave do bosque, a soprano Alexandra Steiner, não tendo um timbre bonito, ouviu-se sempre bem. Finalmente, a soprano Daniela Köhler foi uma Brünhilde fantástica, de voz muito potente, sempre afinada mas pouco flexível. Contudo, o público deu-lhe uma das maiores ovações da noite. Aliás, todos os cantores foram intensamente ovacionados e, até o maestro, escapou aos protestos.




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SIEGFRIED, Bayreuther Festspiele, August 2022

Siegfried continued to be unclear to me. Almost everything continues to focus on a dysfunctional wealthy family, far removed from Wagner's original idea. 

The 1st act takes place in the house of a street artist, who is preparing a birthday party for Siegfried. Mime appears dressed in a blue cape with stars, magical type, interacts with puppets that he sits around him and appears in a lighted side window like in a puppet theater. A red winged mask painting reappears. Siegfried destroys many of the puppets and forges a sword (the first of the opera's original symbolic objects), but pistols remain ubiquitous.

The 2nd act is inside the wealthy house seen previously. The dragon Fafner is here a dying old man with a private nurse and a folding bed. He dies of a heart attack and not by Siegfried's hand. The Rhine gold (in the form of a brass knuckle) is taken by Siegfried from the dying man and given to Fafner's companion, the young Hagan (the boy abducted from in the Rhine Gold, now a young adult), dressed in brown and black and with the cap . He behaves like Siegfried's friend, perhaps to gain his trust later on when they clash.

In the 3rd act, Erda walks with the illuminated pyramid that has been present since the first opera, but the meaning remains unclear. The release of Brünhilde's ring of fire by Siegfried is replaced in this production by removing the bandages from her face and head, after plastic surgery (which even works well given that she is a different singer). Grane, here a man in love with Brünhilde, is always between her and Siegfried, disturbing the final love scene.

Conductor Cornelius Meister had a best performance today, with the Festival Orchestra at the highest level. 

The singers were excellent. Tenor Andreas Schaeger, whose behavior is often ridiculous (guilty of the staging), was fantastic in the interpretation. The voice is big, extensive, and he has valiantly endured the entire vast expanse of the role., although at the end, the top notes almost disappeared. Tenor Arnold Bezuyen's Mime was very good, he has a type of voice that is well suited to the role and the timbre is pleasant. Bass-baritone Tomasz Konieczny was once again excellent as “wanderer” (Wotan) and, in this production, plays a central role in all the action. I thought it was better here than in Valkyrie, solid, strong, imposing and convincing voice.

Baritone Olafur Sigurdarson was again well. He has enviable vocal power. The Erda of mezzo Okka von der Damerau performed nobly and the bird of the forest, the soprano Alexandra Steiner, not having a beautiful timbre, was always heard well. Finally, soprano Daniela Köhler was a fantastic Brünhilde, with a very powerful voice, always in tune but not very flexible. However, the audience gave her one of the biggest ovations of the night. In fact, all the singers received intense ovations and, even the conductor, escaped the protests.

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1 comentário:

  1. Lohengrin
    Produção de Sharon de 2018
    Christian Thielemann é brilhante na direção musical e faz toda a diferença
    A emoção está presente do inicio ao fim
    O coro superlativo canta maravilhosamente
    Klaus Florian Vogt o melhor Lohengrin dos últimos anos com o seu timbre doce e gentil e ao mesmo tempo poderoso sem denotar qq esforço, debita magia durante toda a ópera
    Camilla Nylund é uma Elsa perfeita de timbre suave ligeiramente escurecido
    Zeppenfeld é um valor seguro com uma capacidade vocal impressionante
    Gantner fez um Telramund superior com a sua voz escura e agreste adequado ao papel
    Petra Lang foi uma Ortrude correta sem brilhar nem transmitir a malvadez que o papel exige
    Weldon em grande voz

    Seguramente a melhor recita da temporada

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