sexta-feira, 9 de março de 2018

PARSIFAL, Zurique, Março 2018 / Zurich, March 2018


(text in English below)

Cinco anos depois da última visita, Zurique está igual :) Duas lojas mudaram, as obras em frente à Ópera estão terminadas.

Mas vamos mas é ao que interessa: primeiro de 4 ou 5 Parsifais da minha temporada.
Vim atrás da encenação do Guth (esta foi a 6ª vez que vi esta produção ao vivo)... o elenco inicial era imprevisível, destacando-se claramente como estrela (isolada...) a Nina Stemme. Há umas semanas o Amfortas e o Parsifal do elenco inicial foram substituidos por Lauri Vasar e Stefan Vinke.


Estava ciente de que não ia encontrar a espectacularidade do mesmo Parsifal a 6 de Abril de 2016 em Madrid e cheguei a pensar que me tinha entusiasmado demasiado com base só na encenação quando decidi vir... E o que é certo é que, no final do primeiro acto achei que este ia ser o primeiro “barrete” da temporada. As coisas melhoraram um bocadinho no 2o e 3o acto mas não o suficiente para considerar uma noite de “papo cheio”.

Pormenorizando...

A Orquestra deu umas 6 fífias, 4 delas nos metais que aqui se notam muito mais e se sobrepõem em sonoridade ao restante conjunto. A Simone Young teve uma direcção irregular. Teve algumas passagens de maior coerência dramática mas, no geral, muito apressada, entradas precipitadas, e deixando a sensação de ensaio pouco cuidado. Não conseguiu criar o ambiente “Montsalvatiano”, claramente. O mesmo se notou em algumas passagens cénicas - alguns dos pormenores da encenação encontram na música a indicação para serem feitos (e Wagner deve os ter escrito) - por exemplo, a música prepara e indica em que altura o Parsifal deve tirar a máscara/capacete no 3º acto e revelar-se a Gurnemanz e Kundry - aqui não foi no local indicado (em Madrid foi na altura certa). Estes pormenores não são secundários e elevam o drama. Não sei como é que alguns cantores não o fazem correctamente...



A Nina Stemme esteve excelente. Só lhe aponto um aspecto negativo - antes dos agudos parece fazer uma pequena pausa entre o abrir a boca e o sair som.





Vão-se rir mas, para mim, o mais perfeito cantor da noite foi... o Klingsor. Um chinês, Wenwei Zhang. Grande voz, timbre muito bonito, muito expressivo... é só mesmo aquele impacto de ver um oriental neste papel...



O Vinke também me surpreendeu pela positiva, principalmente no dueto com a Kundry, após o beijo. Muito seguro, expressivo em consonância com o drama, e não cantando como se fosse o Siegfried (como o vi a cantar o Parsifal na Deutsche Oper). Contudo acho que frequentemente tem oscilações de timbre e amplitude de som (e às vezes afinação) que fariam pensar em técnica vocal menos cuidada mas deve ser só característica da voz porque senão, a cantar tantos Siegfried, já se tinha rebentado todo Villazon-like.



O Amfortas de Lauri Vasar (no final do mês oiço-o também em Berlim, igualmente com a Stemme) é correcto (mantenho o meu comentário habitual sobre os Amfortas... ainda não foi desta). Voz boa, timbre bonito, expressivo qb mas não tem agudos... felizmente são poucos na personagem mas esticou-se todo para a frente e para cima quando teve de os fazer e mesmo assim soaram forçados e baixos...



O Gurnemanz de Christoff Fischesser foi muito bom. Parece é ter pouca presença e carisma para o papel em palco. Alto, magro e pareceu pouco confiante e tímido. Talvez tenha sido das primeiras vezes a cantar o papel (?!). Não fez esquecer outros grandes nomes que já ouvi na personagem.





O Titurel (Pavel Daniluk) foi uma miséria. Falhou a entrada num dos momentos mais importantes do papel e que é o dizer: Enthullet den Gral! E o coro de fora de palco antes também foi abafado pela Orquestra.


Para colmatar tudo, descobri mais uma variante daquilo a que eu chamo (não sei se mais alguém usa este termo com este sentido) “ratos de teatro de ópera” - variante “rinítico suspirante”. É aquele espectador que não limpa as fossas nasais antes, apita do nariz ou emite a turbulência da passagem do ar, mas que faz frequentes inspirações profundas e expirações prolongadas, o que aumenta o tempo a que alguém que está ao lado tem de ouvir barulho e ficar desconcentrado. Este barulho, juntamente com o som de alguém a comer com a boca aberta, dá-me cabo da paciência e juízo!



Regresso amanhã mas não, espero, sem antes me “vingar” numa salsicha com rösti e molho de cebola e talvez uma bola de gelado de café Movenpick. A salada grega do Coop e a bola de pão com crosta já foram agora ao jantar. A tradição, enquanto der, tem de se manter :)




Texto de wagner_fanatic



PARSIFAL, Zurich, March 2018

Five years after the last visit, Zurich remains identical :) Two shops have changed, the works in front of the Opera are finished everything else remains identical and attractive.

But let's go to what matters: this was the first of 4 or 5 Parsifals of my season.
I came here because of Guth’s production of (this was the 6th time I saw this production live) ... the initial cast was unpredictable, with Nina Stemme clearly standing out as the star. A few weeks ago the initial singers for the roles of Amfortas and Parsifal were replaced by Lauri Vasar and Stefan Vinke.

I was aware that I was not going to find the same spectacular Parsifal as on April 6, 2016 in Madrid and I even thought I was too excited about the staging when I decided to come ... And what is certain is that, at the end of the first act I thought this was going to be the first "disappointment" of the season. Things improved a little bit in the 2nd and 3rd acts but not enough to consider a "full achieved" night.

Detailing ...

The Orchestra made 6 mistakes, 4 of them in the metals that here are noticed much more and they overlap in sonority the rest of the instruments. Simone Young had an erratic direction. There were a few passages of greater dramatic coherence but, overall, very rushed, rushed entries, and leaving the essay feeling uncared for. She could not create the "Montsalvatian" environment, clearly. The same is noted in some scenic passages - some of the details of the staging find in the music the indication to be made (and Wagner must have written them) - for example, the music prepares and indicates in what height Parsifal should take off the mask / helmet in the 3rd act and reveal himself to Gurnemanz and Kundry - here that was not in the correct time (in Madrid was at the right time). These details are not secondary and raise the drama. I do not understand why some singers do not do it properly ...

Nina Stemme was excellent. I'm only pointing out a negative issue - before the top notes, she seems to pause between the opening of the mouth and the emission of the sound.

You are going to laugh, but to me the most perfect singer of the night was ...  Klingsor, a Chinese, Wenwei Zhang. Great voice, very beautiful timbre, very expressive ... it's just that impact of seeing an Oriental in this role ...

Vinke also positively surprised me, especially in the duet with Kundry after the kiss. Very confident, expressive in consonance with the drama, and not singing as if he were Siegfried (as I saw him sing the Parsifal at the Deutsche Oper). However, I think that there are often oscillations of timbre and amplitude of sound (and sometimes tuning) that would make one think of less well-liked vocal technique, but it should be only a characteristic of the voice because otherwise, to sing so many Siegfrieds, he had already been broken Villazon-like.

Amfortas by Lauri Vasar (at the end of the month I will hear him also in Berlin, also with Stemme) was correct (I keep my usual comment about the Amfortas ... it has not yet been this one). Strong voice, beautiful timbre, expressive but without top notes ... fortunately few are needed in this role but he stretched all the way up and up when he had to sing them and even so sounded forced and low ...

Christoff Fischesser's Gurnemanz was very good. He seems to have little presence and charisma for the role on stage. Tall, thin, and he looked unconfident and shy. Maybe it was the first few time to sing the role (?!). It did not made me forget other big names I've heard in the role.

Titurel (Pavel Daniluk) was a misery. He failed the entry into one of the most important moments of the role when he should say: Enthullet den Gral! And the off-stage choir was also muffled by the Orchestra.

To fill it all, I discovered another variant of what I am calling (I do not know if anyone else uses this term in this sense) "opera rats" - variant "sighing rhinitic." It is that viewer who does not cleanse the nasal passages before, whistles the nose or emits the turbulence of the passage of the air, but who does frequent deep breaths and prolonged expirations, which increases the time that someone next to him has to hear noise and be unfocused. This noise, along with the sound of someone eating with open mouth, put me out of my mind in the theater!

I'll be back tomorrow but, I hope, not before I first getting "avenged" on a sausage with rösti and onion sauce and maybe a ball of Movenpick coffee ice cream. Coop ‘s Greek salad and the crusty bread ball have just been our dinner. Tradition, while possible, must be kept :)

Text by Wagner_fanatic.


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