A opera Semiramide de G Rossini foi apresentada numa nova produção de David Alden na Royal Opera House de Londres em Novembro de 2017.
No templo de Baal
o padre Oroe é informado que os babilónios e outros povos esperam que a rainha
Semiramide, viúva do rei Nino, anuncie o nome do sucessor do trono, com quem se
casará. Idreno, um príncipe indiano é um dos candidatos e Assur é outro, que
sempre foi leal a Semiramide ao longo dos anos. Contudo, ela adia a decisão
porque espera um jovem comandante das suas forças, Arsace. Este chega, está
apaixonado pela princesa Azema que também o ama desde que foi salva por ele.
Contudo, Assur e o Idreno são dois rivais dado que ambos querem também casar
com Azema. Oroe informa Arsace que o rei Nino foi traído e assassinado.
Semiramide reune todos em volta do túmulo do rei Nino e anuncia que se casará
com Arsace que será o próximo rei e que Idreno se casará com Azema. Há uma
tempestade, o túmulo abre-se e ouve-se a voz do rei dizer que Arsace será rei
mas antes terá que ser vingado um crime que foi cometido.
Semiramide e
Assur recriminam-se mutuamente pela morte do rei em que ambos participaram.
Oroe revela a Arsace a sua verdadeira identidade, Ninia, filho do Rei Nino e de
Semiramide e dá-lhe a espada que fora de Nino para se vingar. Arsace revela a
Semiramide que é seu filho e perdoa-lhe o crime que ela cometeu. Dirige-se ao
túmulo de Nino para matar Assur, mas na escuridão acaba por apunhalar
Semiramide, que morre. Oroe evita que se mate e o povo aclama-o como novo rei
da Babilónia.
A encenação
procura representar um país ditatorial actual, com o culto da personalidade do
líder, que todos veneram, lêem e obedecem cegamente. A ópera inicia-se com uma
enorme estátua do líder morto no centro (de que inicialmente só se vê a metade
inferior). Nos grandes painéis laterias e posterior aparecem fotografias do
líder (de óculos escuros) isolado, com a mulher ou com a mulher e o filho em
criança. O líder é Nino, ex-marido de Semiramide assassinado por ela em conluio
com Assur e a criança é o filho de ambos, que desaparece e é dado como
presumivelmente morto, mas regressa como Arsace, um comandante vitorioso por
quem Semiramide se apaixona e com quem quer casar. A figura da criança, com um
cavalo de peluche, está frequentemente presente. O chão, os painéis e o próprio
palco por vezes estão cobertos por telas ou cortinas com desenhos de padrões
islâmicos e os trajos dos elementos do coro, os masculinos com grandes
turbantes e os femininos com a cabeça coberta, são também muito sugestivos.
Aparece um enorme
lustre como nas grandes salas onde se reúnem os comités dos partidos comunistas
ditatoriais e os painéis são dinâmicos, permitindo uma encenação original e
interessante.
A direcção
musical foi do maestro Christopher
Willis.
No papel
principal, Semiramide, a mezzo Joyce
DiDonato foi arrasadora! É uma cantora que muito aprecio e, mais uma vez,
esteve no seu melhor. Tem uma voz magnífica e é uma cantora rossiniana por
excelência. Abordou a partitura com elegância, desenvoltura, sentimento e
mostrou uma coloratura invejável. Em palco tem sempre uma presença
electrizante.
Também ao mais
alto nível esteve a mezzo Daniela
Barcellona como Arsace, o comandante guerreiro por quem Semiramide se
apaixona e quer casar mas que é, afinal, o seu filho desaparecido. A voz é
também muito poderosa, melodiosa e afinada. Nos duetos com a DiDonato, as duas foram
fabulosas.
Outra voz de topo
foi a do tenor Lawrence Brownlee que
interpretou o príncipe indiano Idreno. Teve uma excelente presença cénica,
muito bem caracterizado e a voz é de invulgar beleza, de tenor lírico com
agudos abertos e luminosos.
O príncipe Assur,
cúmplice de Semiramide no assassinato do marido e pretendente ao trono, foi
interpretado pelo baixo Mirco Palazzi.
Foi mais uma boa interpretação, tanto cénica como vocal.
Nos papéis secundários
outro baixo de voz imponente foi Bálint
Szabó que interpretou o padre Oroe. A soprano Jacquelyn Stucker como Azema, Konu
Kim como Mitrane e a voz de Simon
Shibambu, como espírito do rei Nino assassinado completaram o elenco.
Um espectáculo
notável!
*****
SEMIRAMIDE,
Royal Opera House, December 2017
G Rossini's opera Semiramide
was staged in a new production by David
Alden at the Royal Opera House
in London in November 2017.
In the
temple of Baal the high priest Oroe is informed that the Babylonians and other
peoples expect that the queen Semiramide, widow of the king Nino, announces the
name of the successor of the throne, with whom she will marry. Idreno, an
Indian prince, is one of the candidates, and Assur is another, who has always
been loyal to Semiramide over the years. However, she postpones the decision
because she expects a young commander of her forces, Arsace. He arrives, is in
love with the princess Azema who also loves him since he saved her in the past.
However, Assur and Idreno are two rivals since both also want to marry Azema.
Oroe tells Arsace that King Nino was betrayed and murdered. Semiramide reunites
all around the tomb of king Nino and announces that she will marry Arsace that
will become the next king, and that Idreno will marry Azema. There is a storm,
the tomb opens and the king's voice is heard to say that Arsace will be king
but beforehand a crime that has been committed will have to be avenged.
Semiramide
and Assur reproach each other for the death of the king in which both
participated. Oroe reveals to Arsace his true identity, Ninia, son of King Nino
and of Semiramide and gives him the Nino’s sword to take revenge. Arsace
reveals to Semiramide that he is her son and forgives the crime she committed.
He goes to the tomb of Nino to kill Assur, but in the darkness he ends up
stabbing Semiramide, who dies. Oroe avoids that he kills himself and the people
acclaim him as the new king of Babylon.
The staging
seeks to represent a current dictatorial country, with the cult of the leader's
personality, which everyone venerates, reads and obeys blindly. The opera
begins with a huge statue of the dead leader in the centre (from which only the
lower half is initially seen). On the large side and back panels appear
photographs of the leader (of dark glasses) alone, with his wife, and with his
wife and son as a child. The leader is Nino, Semiramide's ex-husband
assassinated by her in collusion with Assur and the child is their son, who
disappeared and was given as presumably dead, but returns as Arsace, a
victorious commander whom Semiramide falls in love with and wants to marry. The
figure of the child, with a stuffed horse, is often present on stage. The
floors, panels, and the stage itself are covered with screens or curtains with
Islamic patterns, and the choral elements, male with large turbans and female
heads with covered heads, are also very suggestive.
The panels
are dynamic, a very suggestive chandelier appears similar to the ones in large
rooms where the committees of the current dictatorial communist parties meet,
and the stage is very dynamic, allowing an original and interesting staging.
The musical
direction was by maestro Christopher
Willis.
In the lead
role, Semiramide, mezzo Joyce DiDonato
was fabulous! She is a singer who I really appreciate and, once again, she was
at her best. She has a magnificent voice and is a Rossinian singer by
excellence. She approached the score with elegance, resourcefulness, emotion
and showed an enviable coloratura. On stage she has always an electrifying
presence.
Also at the
top level was mezzo Daniela Barcellona
as Arsace, the warrior commander for whom Semiramide falls in love and wants to
marry but that is, after all, his missing son. The voice is also very powerful,
melodious and in tune. In the duets with DiDonato, the two were fantastic.
Another top
voice was that of tenor Lawrence Brownlee who played the Indian
prince Idreno. He has an excellent stage presence, very well characterized and
the voice is of unusual beauty, of lyrical tenor with open and luminous top
notes.
Prince
Assur, accomplices of Semiramide in the murder of her husband and pretending to
the throne, was interpreted by the bass Mirco
Palazzi. It was another good interpretation, both vocal and on stage.
In the secondary
roles there was another imposing bass, Bálint
Szabó who played high priest Oroe. Soprano Jacquelyn Stucker as Azema, Konu
Kim as Mitrane, and the voice of Simon
Shibambu as the ghost of the murdered King Nino completed the cast.
A
remarkable performance!
*****
Arrasadora, acredito. É um homem de sorte, Fanático_Um. Acho que a Semiramide já é por si uma oportunidade rara, para mais com a Didonato. Só ouvi pela Sutherland e a Horne, que dão vontade de não ouvir mais ninguém, mas a Joyce tem-se provado à altura. Só desconfio que não ia gostar da encenação.
ResponderEliminarComo sempre, obrigado por me fazer "viver" um pouco as suas experiências.