quarta-feira, 13 de setembro de 2017

MITRIDATE, RE DI PONTO, Royal Opera House, Londres / London, Julho / July 2017

(review in English below)

A opera Mitridate, Re di Ponto, escrita por WA Mozart quando tinha apenas 14 anos, com libretto de Vittorio Cigna-Santi, esteve em cena na Royal Opera House.



A encenação foi de Graham Vick. Há duas grandes paredes encarnadas dos lados e painéis também encarnados verticais que, ao longo da ópera, se vão movendo, criando os diversos cenários. Outros adereços são escassos. Muito vistosos e coloridos são os fatos usados pelas personagens, à moda do Séc. XVIII. A ópera é muito barroca, dominada por arias onde as personagens expressam as suas emoções, intercaladas por recitativos.



Mitridate, rei de Ponto é dado como morto enquanto combate os romanos. Farnace, o filho mais velho tenta conquistar Aspasia, noiva do pai, mas ela está apaixonada por Sifare, o irmão mais novo. Mitridate regressa e traz consigo a princesa Ismene, uma noiva para Farnace. Ao saber da aproximação de Farnace aos romanos, Mitridate manda prendê-lo. O filho diz-lhe que Sifare ama Aspasia. Mitridate manda matar a noiva e os filhos, o que acaba por não acontecer. O rei vai combater os romanos e os filhos decidem acompanhá-lo. Os romanos oferecem o trono a Farnace que, arrependido, decide ajudar o pai a derrotá-los. Mortalmente ferido, Mitridate aprova os casamentos de Sifare e Aspasia e de Farnace e Ismene.



O maestro e cravista continuo foi Christophe Rousset que dirigiu com qualidade a orquestra que não esteve isenta de algumas notas falhadas, sobretudo nos sopros.

Nos solistas houve uma série de substituições dos inicialmente anunciados, penso que todas elas para pior. Sifare, filho mais novo de Mitridate foi o soprano georgiano Salome Jicia (substituiu Anett Fritsch). Tem uma voz algo áspera, com agudos estridentes e pouco emotiva na expressividade.


Aspasia, prometida a Mitridate foi a soprano russa Vlada Borovko (substituiu Albina Shagimuratova). Tem uma voz grande mas um timbre pouco agradável, coloratura deficiente e perde muita qualidade no registo agudo.



Marzio, tribuno romano foi tenor inglês Rupert Charlesworth (substituiu Andrew Tortsie) que o pouco que se ouviu foi desinteressante.

Arabate, governador de Nymphaeum foi a soprano irlandesa Jennifer Davis (do Jette Park Young Artists Programme). Enfim...

Farnace, filho mais velho de Mitridate foi o contra tenor americano Bejun Mehta e este foi um dos grandes intérpretes da noite. Sempre audível sobre a orquestra, voz bem colocada, ágil e, nas árias mais introspectivas teve grande qualidade.



Mitridate foi o tenor americano Michael Spyres, outra grande interpretação da noite. Voz com uma paleta de cores muito interessante, sempre afinada e de marcada qualidade em todos os registos. Cenicamente foi também muito bem.



A grande grande intérprete da noite foi a soprano britânica Lucy Crowe no papel de Ismene, filha do rei de Pártia. Fantástica em tudo. Cenicamente parecia uma boneca, movimentação muito graciosa e viva. A voz, um colosso. Um soprano de elevadíssima qualidade, cheio de matizes interessantes que tanto impressionava quando quase sussurrava como quando emitia notas agudas estratosféricas, sempre audíveis em perfeita afinação. Fabulosa!


Um espectáculo raro e de qualidade.




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MITRIDATE, RE DI PONTO, Royal Opera House, London, July 2017

The opera Mitridate, Re di Ponto, written by WA Mozart when he was only 14, with libretto by Vittorio Cigna-Santi, was on stage at the Royal Opera House.

The staging was by Graham Vick. There are two large red walls on the sides and also red vertical panels that, throughout the opera move, creating the different scenarios. Other props are scarce. Very colorful are the dresses used by the characters, in the style of the 18th century. The opera is very baroque, dominated by arias where the characters express their emotions, interspersed by recitatives.

Christophe Rousset was the harpsichord continuous and directed the orchestra that was not perfect.

In the soloists there were a lot of replacements of the initially announced artists, I think all for the worse. Sifare, Mitridate's youngest son was the Georgian soprano Salome Jicia (replacing Anett Fritsch). She has a rather rough voice, with shrill trebles and unemotional expressiveness.

Aspasia, promised to Mitridate was the Russian soprano Vlada Borovko (replacing Albina Shagimuratova). She has a big voice but the timbre is unpleasant, the coloratura poor, and loses quality in the high register.

Marzio, Roman tribune was English tenor Rupert Charlesworth (replacing Andrew Tortsie) that was heard with difficulty.

Arabate, governor of Nymphaeum was Irish soprano Jennifer Davis (of the Jette Park Young Artists Program). She was ok…

Farnace, the eldest son of Mitridate was American tenor Bejun Mehta and this was one of the great interpreters of the night. Always audible over the orchestra, well placed voice, agile and, in the most introspective arias, had great quality.

Mitridate was American tenor Michael Spyres, another great interpretation of the night. The voice has a very interesting color palette, always tuned and of marked quality in all registers. On xstage he was also very good.

The great great interpreter of the night was the British soprano Lucy Crowe in the role of Ismene, daughter of the king of Partridge. Fantastic in everything. On stage she looked like a doll, very graceful and lively. The voice, a colossus. A very high-quality soprano, full of interesting nuances that equally impressed when she almost whispered as when she emitted sharp stratospheric notes, always audible in perfect tuning. Fabulous!


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