Após ter visto em
Outubro passado a produção de Michael
Grandage do Don Giovanni de W.A. Mozart na Metropolitan Opera de Nova Iorque, tive oportunidade de a rever 7
meses depois, com novo maestro e novos intérpretes. Infelizmente, a qualidade
deficiente do espectáculo não melhorou substancialmente.
Como escrevi aqui, é uma encenação clássica, feia, escura e pouco
imaginativa, passada numa cidade espanhola no Sec. XVIII (assim diz o programa).
Mas apenas se vêm três andares de janelas exteriores. Há alguma mobilidade do
palco mas nada é interessante. Apenas a
cena final em que o Don Giovanni é consumido pelas chamas foi um pouco
diferente da rotina em que tudo o resto decorreu, mas ainda assim sem originalidade.
A direcção
musical foi de Placido Domingo. Como
cantor, é uma referencia incontornável nas últimas décadas e, penso que por
isso, é tolerado como maestro nesta grande catedral da ópera. Mas a direcção
musical da excelente Orquestra da Metropolitan Opera foi má. Sempre muito
“empastelada” desde a abertura, desencontros frequentes e sem alma mozartiana.
Em relação aos
solistas, mais uma vez, um conjunto heterogéneo de cantores:
A soprano Angela Meade
foi um erro de casting na Donna Anna. A voz é grande, afinada e sempre bem audível sobre a orquestra.
Mas é totalmente desprovida da sensibilidade e lirismo da personagem. Meade é
uma boa intérprete verdiana, mas Mozart não é para ela. Em cena foi um traste.
Pelo contrário, a soprano Marina
Rebeka foi uma
Dona Elvira de grande qualidade. Tem de voz lírica sempre afinada, de timbre
muito agradável e uma presença em palco muito boa.
A Zerlina da mezzo Isabel Leonard
foi também muito boa. A cantora tem uma voz agradável, muito expressiva, sempre
bem audível. E também representou ou papel, não se limitando a cantar.
O Don Giovanni foi interpretado pelo barítono Mariusz Kwiecien. Fez um Don Giovanni de voz potente e bem timbrada, sempre audível sobre a
orquestra. Foi convincente na prestação cénica, encarnando uma personagem vil e
sem escrúpulos. Excelente.
O baixo Erwin Schrott fez um Leoporello muito
agradável. Muito bem vocalmente, foi um verdadeiro actor cómico em todo o espectáculo.
O tenor Matthew Polenzani fez um Don Ottavio aceitável. A voz tem um timbre agradável
mas a emissão foi algo irregular e cenicamente cumpriu sem deslumbrar.
Os dois baixos tiveram interpretações distintas. Jeongcheol Cha foi um Masetto de voz feia e frequentemente abafada
pela orquestra
mas Stefan Kocan
impôs a sua qualidade vocal como Comendador.
***
DON
GIOVANNI, METropolitan Opera, April 2017
After
seeing Michael Grandage's production
of Don Giovanni by W.A. Mozart last October at the
Metropolitan Opera in New York, I had the opportunity to review it 7 months
later with a new conductor and new interpreters. Unfortunately, the poor
quality of the show has not improved substantially.
As I wrote here, it is a classic, ugly, dark and unimaginative
staging, played in a Spanish city in the XVIII Century (so says the program).
But we only see three floors of exterior windows. There was some stage mobility
but nothing interesting. Only the final scene in which Don Giovanni was
consumed by the flames was a little different from the routine in which
everything else took place, but still without originality.
The musical
direction was by Placido Domingo. As
a singer, he has been a reference in the last decades and I think that is the
reason why he is tolerated as a conductor in this great cathedral of the opera.
The musical direction of the excellent Orchestra of the Metropolitan Opera was
bad. Always very "jammed" since the overture, frequent small
disconnections and no mozartian soul.
Concerning
the soloists, once again, a heterogeneous set of singers:
Soprano Angela Meade was a casting error as
Donna Anna. The voice is large, tuned and always well audible over the
orchestra. But she is totally devoid of the character's sensitivity and
lyricism. Meade is a good Verdian interpreter, but Mozart is not for her. On stage
she was also to forget.
On the
contrary, soprano Marina Rebeka was
a high-quality Dona Elvira. She has a lyrical voice always in tune, with a very
pleasant tone and a very good stage presence.
Zerlina by
mezzo Isabel Leonard was also very
good. The singer has a pleasant voice, very expressive, always well audible.
And she also played the character, not just singing.
Don
Giovanni was interpreted by baritone Mariusz
Kwiecien. He was a Don Giovanni with a powerful and well-marked voice,
always audible over the orchestra. He was convincing in the scenic performance,
embodying a vile and unscrupulous character. Excellent.
Bass Erwin Schrott was a very pleasant Leoporello.
Very well vocally, he was a real comic actor in the whole performance.
Tenor Matthew Polenzani was an acceptable Don
Ottavio. The voice has a nice timbre but the emission was something irregular
and on stage he was ok without dazzling.
The two
basses had different interpretations. Jeongcheol
Cha was a Masetto with an ugly voice and often muffled by the orchestra but
Stefan Kocan imposed his vocal
quality as Commendatore.
***
Nem Placido Domingo no Met garante uma boa récita. Ao que a Ópera chegou. Nunca gostei de Angela Meade, o timbre é feio e a expressividade nula.
ResponderEliminarSe conseguir, vou ver o Orfeu de Monteverdi a Edimburgo, dirigido por Gardiner (que depois vai a Salzburgo). Nunca vi. Mas pensava estar livre de encenações disparatadas - não ! Já conto com o pior...