domingo, 10 de abril de 2016

ANNA BOLENA, METropolitan OPERA, Nova Iorque, Outubro de 2015 / October 2015

(review in English below)

Na recente encenação de David McVicar, tive oportunidade de ver esta representação da Anna Bolena, de G. Donizetti, na Metropolitan Opera.


Já transmitida na MetLive, a encenação é sóbria e eficaz, fiel ao libreto. O maestro foi Marco Armiliato e, mais uma vez, a Orquestra e o Coro da Metropolitan Opera estiveram ao mais alto nível.



A ópera é um pitéu de belcanto o que, para quem gosta, como é o meu caso, pode ser um excelente espectáculo. E assim foi, graças aos cantores que o tornaram verdadeiramente inesquecível.

Sondra Radvanovsky, soprano norte americano, foi uma Anna Bolena fabulosa. Para além da correcta presença em palco, a interpretação vocal foi, a todos os títulos, de excepção. Já a ouvira anteriormente e a potencia vocal avassaladora não foi para mim uma surpresa. Mas desta vez, para além do volume, foram alguns aspectos interpretativos que não lhe conhecia. Grande emotividade vocal e uns pianíssimos fabulosos foram algumas das muitas características com que nos brindou. O público reconheceu a grande qualidade da cantora que foi, justamente, uma das mais aplaudidas da noite.


Mas a verdadeira heroína do espectáculo foi Jamie Barton, jovem mezzo norte americana que cantou a  Giovanna (Jane Seymour). Quase roubou o protagonismo a Radvanovsky, tal o impacto vocal da sua interpretação. Voz aberta, belíssima, penetrante e segura em todos os registos. Faltou-lhe apenas um pouco de suavidade, mas isso foi um pequeno pormenor numa tão marcante prestação vocal. O dueto das duas protagonistas no início do 2º acto foi arrepiante. Em palco é prejudicada pela figura obesa e menos ágil, mas no canto é sensacional!


Também a um nível insuperável esteve o baixo russo Ildar Abdrazakov como Enrico (Henrique VIII). Já o ouvi várias vezes e mantém uma qualidade vocal de topo. Voz firme, muito melodiosa e sempre afinada. Não é um baixo eslavo típico, o que em nada prejudica a actuação. O cantor tem uma boa figura e é muito ágil, o que ajuda na caracterização da personagem.


Smeaton foi muito bem interpretado pelo mezzo norte americano Tamara Mumford que mostrou sempre uma voz segura, afinada, sem floreados exagerados e, sobretudo, muito eficaz em todas as intervenções.



O baritono David Crawford foi um Lord Rochefort digno que não destoou dos cantores solistas.


Quem ficou aquém do esperado foi o tenor americano Stephen Costello que interpretou o Riccardo Percy. Tem uma boa presença em palco e esteve globalmente bem. A sua coluna vocal impressionou no registo médio pela segurança e beleza, mas quando subiu aos agudos tudo se transformou. A voz perdia qualidade, mal se ouvia e ficava fora de tom. Penso que algo se passa com Costello pois nunca o tinha ouvido com esta fragilidade tão notável no registo agudo. Espero que a ultrapasse rapidamente pois parece ser um tenor com grande potencial.


Mas a noite foi das Senhoras que nos ofereceram um espectáculo inesquecível!





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Anna Bolena, Metropolitan Opera, New York, October 2015

In the recent staging of David McVicar, I had the opportunity to see this performance of Anna Bolena by G. Donizetti, at the Metropolitan Opera. Already seen in MetLive, the staging is sober and effective, faithful to the libretto.
The conductor was Marco Armiliato and, once again, the Orchestra and the Metropolitan Opera Choir were at the highest level.
This opera is a delicacy of belcanto which, for those who like it, as is my case, can be a great spectacle. And so it was, thanks to the singers who have made it truly unforgettable.

Sondra Radvanovsky, North American soprano, was a fabulous Anna Bolena. In addition to the correct presence on stage, her vocal interpretation was, in all respects, exceptional. I had heard her before and the overwhelming vocal power was not a surprise to me. But this time, in addition to the volume, she offered some interpretive aspects unknown to me. Great vocal emotion and fabulous pianissimos were some of the many characteristics with which we were offered. The public recognized the great interpretative quality of the singer, as she was one of the most applauded of the night.

But the real heroin of the performance was Jamie Barton, young North American mezzo who sang Giovanna (Jane Seymour). She almost stole the star leadership of Radvanovsky, such was the impact of vocal interpretation. She has an open, beautiful, penetrating and secure voice in all registers. She only lacked some softness, but this was a small detail in a so remarkable vocal performance. The duet of the two protagonists at the beginning of the 2nd act was fabulous. On stage she is not so exciting because she is big and less agile, but the singing is sensational!

Also unsurpassed was Russian bass Ildar Abdrazakov as Enrico (Henry VIII). I've heard him several times and his performance remains at top quality. The voice is firm, very melodious and always in tune. He is not a typical Slavic bass, which is not at all harmful to the interpretation. The singer has a good figure and is very agile, which helps the character on stage.

Smeaton was very well interpreted by the American mezzo Tamara Mumford who always showed a firm, tuned voice, without exaggerated flourishes and, above all, very effective in all parts.

Baritone David Crawford was a Lord Rochefort also at a high performance level when compared to the other soloist singers.

Who was below expectations was the American tenor Stephen Costello who played Riccardo Percy. He has a good stage presence and was generally very good. His vocal column impressed in the middle register, secure and beautiful, but when he had to rise to top notes everything changed. The voice lost quality, one could hardly listen, and was out of tune. I think something's wrong with Costello because I had never heard him with this so remarkable weakness in the higher register. I hope he overcomes quickly as he seems to be a tenor with great potential.

But the night belonged to the ladies who gave us an unforgettable vocal performance!


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1 comentário:

  1. Thank you for such an interesting post. I agree with you, Armiliato IS the ideal conductor nowadays for Donizetti . I enjoyed a lot his Lucia di Lammermoor , recently, and it must be a joy to be in the MET listening to his Anna Bolena, what a great conductor and what a great orchestra¡¡¡ Thank you for the post. Sondra IS Anna Bolena¡¡ I simply consider her voice the ideal for the role, simply.

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