(review in English below)
Na recente encenação
de David McVicar, tive oportunidade
de ver esta representação da Anna Bolena,
de G. Donizetti, na Metropolitan Opera.
Já transmitida na
MetLive, a encenação é sóbria e eficaz, fiel ao libreto. O maestro foi Marco Armiliato e, mais uma vez, a Orquestra e o Coro da Metropolitan Opera estiveram ao mais alto nível.
A ópera é um
pitéu de belcanto o que, para quem gosta, como é o meu caso, pode ser um excelente
espectáculo. E assim foi, graças aos cantores que o tornaram verdadeiramente
inesquecível.
Sondra Radvanovsky, soprano norte americano, foi uma Anna Bolena
fabulosa. Para além da correcta presença em palco, a interpretação vocal foi, a
todos os títulos, de excepção. Já a ouvira anteriormente e a potencia vocal
avassaladora não foi para mim uma surpresa. Mas desta vez, para além do volume,
foram alguns aspectos interpretativos que não lhe conhecia. Grande emotividade
vocal e uns pianíssimos fabulosos foram algumas das muitas características com
que nos brindou. O público reconheceu a grande qualidade da cantora que foi,
justamente, uma das mais aplaudidas da noite.
Mas a verdadeira
heroína do espectáculo foi Jamie Barton,
jovem mezzo norte americana que cantou a
Giovanna (Jane Seymour). Quase roubou o protagonismo a Radvanovsky, tal
o impacto vocal da sua interpretação. Voz aberta, belíssima, penetrante e
segura em todos os registos. Faltou-lhe apenas um pouco de suavidade, mas isso
foi um pequeno pormenor numa tão marcante prestação vocal. O dueto das duas
protagonistas no início do 2º acto foi arrepiante. Em palco é prejudicada pela
figura obesa e menos ágil, mas no canto é sensacional!
Também a um nível
insuperável esteve o baixo russo Ildar
Abdrazakov como Enrico (Henrique VIII). Já o ouvi várias vezes e mantém
uma qualidade vocal de topo. Voz firme, muito melodiosa e sempre afinada. Não é
um baixo eslavo típico, o que em nada prejudica a actuação. O cantor tem uma
boa figura e é muito ágil, o que ajuda na caracterização da personagem.
Smeaton foi muito
bem interpretado pelo mezzo norte americano Tamara Mumford que mostrou sempre uma voz segura, afinada, sem
floreados exagerados e, sobretudo, muito eficaz em todas as intervenções.
O baritono David Crawford foi um Lord Rochefort
digno que não destoou dos cantores solistas.
Quem ficou aquém
do esperado foi o tenor americano Stephen
Costello que interpretou o Riccardo Percy. Tem uma boa presença em palco e
esteve globalmente bem. A sua coluna vocal impressionou no registo médio pela
segurança e beleza, mas quando subiu aos agudos tudo se transformou. A voz
perdia qualidade, mal se ouvia e ficava fora de tom. Penso que algo se passa
com Costello pois nunca o tinha ouvido com esta fragilidade tão notável no
registo agudo. Espero que a ultrapasse rapidamente pois parece ser um tenor com
grande potencial.
Mas a noite foi
das Senhoras que nos ofereceram um espectáculo inesquecível!
*****
Anna Bolena,
Metropolitan Opera, New York, October 2015
In the recent
staging of David McVicar, I had the
opportunity to see this performance of Anna
Bolena by G. Donizetti, at the Metropolitan Opera. Already seen in
MetLive, the staging is sober and effective, faithful to the libretto.
The
conductor was Marco Armiliato and,
once again, the Orchestra and the
Metropolitan Opera Choir were at the
highest level.
This opera
is a delicacy of belcanto which, for those who like it, as is my case, can be a
great spectacle. And so it was, thanks to the singers who have made it truly
unforgettable.
Sondra Radvanovsky, North American soprano, was a fabulous Anna
Bolena. In addition to the correct presence on stage, her vocal interpretation
was, in all respects, exceptional. I had heard her before and the overwhelming
vocal power was not a surprise to me. But this time, in addition to the volume,
she offered some interpretive aspects unknown to me. Great vocal emotion and
fabulous pianissimos were some of the many characteristics with which we were
offered. The public recognized the great interpretative quality of the singer,
as she was one of the most applauded of the night.
But the
real heroin of the performance was Jamie
Barton, young North American mezzo who sang Giovanna (Jane Seymour). She almost
stole the star leadership of Radvanovsky, such was the impact of vocal
interpretation. She has an open, beautiful, penetrating and secure voice in all
registers. She only lacked some softness, but this was a small detail in a so
remarkable vocal performance. The duet of the two protagonists at the beginning
of the 2nd act was fabulous. On stage she is not so exciting because she is big
and less agile, but the singing is sensational!
Also
unsurpassed was Russian bass Ildar
Abdrazakov as Enrico (Henry VIII). I've heard him several times and his
performance remains at top quality. The voice is firm, very melodious and
always in tune. He is not a typical Slavic bass, which is not at all harmful to
the interpretation. The singer has a good figure and is very agile, which helps
the character on stage.
Smeaton was
very well interpreted by the American mezzo Tamara Mumford who always showed a firm, tuned voice, without
exaggerated flourishes and, above all, very effective in all parts.
Baritone David Crawford was a Lord Rochefort also
at a high performance level when compared to the other soloist singers.
Who was
below expectations was the American tenor Stephen
Costello who played Riccardo Percy. He has a good stage presence and was generally
very good. His vocal column impressed in the middle register, secure and beautiful,
but when he had to rise to top notes everything changed. The voice lost
quality, one could hardly listen, and was out of tune. I think something's
wrong with Costello because I had never heard him with this so remarkable
weakness in the higher register. I hope he overcomes quickly as he seems to be
a tenor with great potential.
But the
night belonged to the ladies who gave us an unforgettable vocal performance!
*****
Thank you for such an interesting post. I agree with you, Armiliato IS the ideal conductor nowadays for Donizetti . I enjoyed a lot his Lucia di Lammermoor , recently, and it must be a joy to be in the MET listening to his Anna Bolena, what a great conductor and what a great orchestra¡¡¡ Thank you for the post. Sondra IS Anna Bolena¡¡ I simply consider her voice the ideal for the role, simply.
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