Capa do Programa : Cavaleiros do Graal e Escudeiros. Foto: Ruth
Walz (17 de Março de 2015), distribuído 2016.
(English
version below)
Autor: De Moura MC, Lisboa
O
“Fanáticos da Ópera” agradece a De
Moura MC mais um texto de qualidade superlativa que muito enriquece o blogue e
os seus leitores.
Assisti
ao PARSIFAL no Schiller Theater, em 25 de Março de 2016. Parsifal, “uma peça de festival
para a consagração de um palco “ (“ein
Bühnenweihfestspiel “) como intitulado por Wagner, foi criada para o seu teatro de Bayreuth onde estreou em 26
Julho de 1882. É a ultima opera de Wagner. Sabe-se que Wagner encontrou
a história de Parsifal (Parzivâl) num poema épico de Wolfram von Eschenbach, do
século XIII, que leu em 1845. A opera teve uma longa gestação, Wagner estudou
outros textos medievais e a “Estoire du Graal” de Chréthien de Troyes. Em 1877 completa a
versão final. Praticamente todos os aspectos da opera tem sido objecto de
controvérsia. Para uns uma obra sublime,
essencialmente religiosa, para outros uma opera sacrílega, de erotismo
religioso. Ainda hoje Parsifal é apresentada em teatros de opera de todo o
mundo como um evento incluído na Páscoa. Como este Parsifal que vi na
Sexta-Feira Santa integrado no Berlin
Festtage 2016.
A acção
decorre no que parece ser uma região remota no norte da Espanha num tempo
medieval, ou talvez mítico. Aqui se encontra o Castelo de Montsalvat onde vivem
os Cavaleiros do Graal. Amfortas é o guardião dos Cavaleiros mas está tão
abalado pelos seus pecados e as suas limitações espirituais, que se considera
indigno de celebrar o culto do Graal. Os Cavaleiros desiludidos transportam
Amfortas para o tratamento de uma ferida que não cura. Parsifal, um jovem
ignorante de tudo (nem sabe o nome), chega ao reino do Graal. O que sabe desta
comunidade conta-lhe um Cavaleiro mais idoso, Gurnemanz,
que suspeita que ele pode ser o “tolo inocente” da profecia , o que vai
aprender a compaixão, ser capaz de curar Amfortas e salvar a comunidade.
Palco do Teatro Schiller, Berlim, antes do início da opera
Parsifal , Março 25, 2016
Wagner
introduz na história uma personagem crucial. Kundry é uma mulher intemporal e
amaldiçoada, corresponde ao arquétipo feminino
do “Judeu Errante“. Perpetuamente atormentada consigo própria Kundry viaja
entre dois mundos e muitas vidas. Vive nos arredores do Castelo, serve os
Cavaleiros com humildade, leva mensagens aos cruzados distantes, e regressa com
balsamos para curar a ferida de Amfortas. Kundry anseia pela redenção e
libertar-se de uma maldição passada pela morte. Desaparece regularmente e entra
nos domínios do mágico Klingsor que a utiliza como escrava sexual:
seduzir os Cavaleiros do Graal que se desviam no seu território.
Amfortas não resistiu à beleza de Kundry. Klingsor tirou-lhe a lança sagrada e
provocou a ferida que não fecha. Nenhum tratamento pode curar Amfortas, mas uma
visão anuncia a chegada de um tolo, ignorante e de muita compaixão. Todos
esperam o redentor...
Podem ler uma extensa sinopse em língua portuguesa, bem como o libreto traduzido, num link incluído pelo “Fanático Um”
numa recente critica de Parsifal.
Mattias Hölle (Titurel), Wolfgang Koch ( Amfortas ) Foto: Ruth
Walz, cena do final do I Acto.
Gostei
imenso da encenação do russo Dmitri Tcherniakov,
que levanta varias questões na interpretação do drama musical sem pretender apresentar
soluções definitivas. A sua visão de um culto fechado sobre si mesmo, destinado
a repetir os seus rituais com uma intensidade doentia, é irresistível e
inquietante. Na concepção de Tcherniakov estamos perante uma comunidade de
teologia Cristã que se desencaminhou. No presente, num local incerto, talvez na
Rússia. A comunidade continua a querer acreditar ou pelo menos comporta-se como
se ainda acredite. Um mundo de homens russos “santos”, semelhantes aos Crentes Velhos da opera “Khovanshchina”. Amfortas identifica-se mais com a figura de Cristo,
do que em outras das produções que vi. Perturbador, na cena final do acto I,
vemos não só a ferida de Amfortas a sangrar mas também uma certa forma de
transubstanciação reversa do seu próprio sangue. O sangue é retirado e
misturado com água (?) no cálice e depois distribuído pelos membros que ficam
revigorados. Ainda mais intrigante, esta
cerimónia é dirigida pelo Rei Titurel, um ditador sinistro. Os membros da
comunidade querem de forma desesperada que Titurel os toque. É chocante a forma
como Amfortas é ignorado pelos companheiros depois da cerimónia violenta.
Parsifal, jovem ignorante, de mochila ás costas, não entende nada do que vê e Gurnemanz
expulsa-o.
Andreas Schager ( Parsifal) , Tómas Tómasson ( Klingsor), ao
fundo as Meninas Flor. Violenta morte de Klingsor. II Acto. Opera Critic Internet)
O
segundo acto, no mesmo cenário do I Acto, bem iluminado, de cores claras e certa aura de mistério, apresenta
um culto paralelo. Tcherniakov vai
explorar a sexualidade, principalmente as tendências pedófilas da sociedade
actual. O mágico Klingsor, construiu um refúgio para si, um mundo feminino,
onde vive com as suas inúmeras filhas, as Meninas Flores. As Meninas Flores não
são as tentadoras habituais, mas um grupo de raparigas, todas de vestidos
floridos; o efeito é arrepiante. Um velho, repugnante e nervoso, a verdadeira
imagem do monstro pedófilo, distribui balões
e bonecas. Kundry, uma filha mais velha ou uma perceptora (?) deste estranho “kindergarten”, é também abusada por Klingsor, porque está sob
o seu domínio. Klingsor anuncia-lhe a chegada do herói puro que ela deve
seduzir. Kundry usa uma táctica de sedução Freudiana e aborda o passado de
Parsifal, a educação pela mãe que o adorava, encenando as suas memórias.
Herzeleide e o filho eram muito próximos, talvez demasiado. A mãe fica furiosa
quando vê o primeiro contacto sexual do adolescente com uma rapariga. O jovem
foge e abandona a mãe. Parsifal pensa
que é culpado da morte da mãe e fica desesperado. Para confortar Parsifal, Kundry abre-lhe os braços. A confrontação
Kundry/Parsifal está brilhantemente encenada. O que se passa realmente fica por esclarecer porque o momento do “longo
beijo“ – ou talvez mais do que um beijo, ocorre fora do palco. A transformação
que provoca não deixa duvidas: o conflito brutal entre um homem que rejeita o
sexo e uma mulher ofendida. Quando surge Klingsor para ajudar Kundry, Parsifal com
a lança mata-o brutalmente.
René Pape ( Gurnemanz ) e Waltraud Meier ( Kundry ) Inicio do
III Acto. Foto: Ruth Walz.
No Acto
III, passaram-se vários anos. A comunidade está ao abandono. Não há mais
ritual. Aparece um desconhecido e só
mais tarde Gurnemanz e Kundry reconhecem Parsifal. Os olhares entre Parsifal e
Kundry e os contactos físicos discretos
e meigos de ambos, sugerem um enamoramento. Os membros desta comunidade
perdida, sem saber da chegada de Parsifal com a lança sagrada, reúnem-se para
tentar mais uma vez a cerimónia da partilha. A fúria raivosa de Amfortas contra
o cadáver de Titurel. Rejeita tudo. Na
sequência final do libreto de Wagner, Parsifal cura a ferida de Amfortas com a
lança sagrada, torna-se o seu sucessor e preside pela primeira vez ao Graal. Na
encenação de Tcherniakov não é assim. Parsifal
entrega a lança a Anfortas. Kundry abraça-se amorosamente a Amfortas.
Expira suavemente. Sugestão de que Gurnemanz a tenha morto pelas costas? Parsifal
com Kundry nos seus braços afasta-se e sai. A comunidade entra num transe
extático. A sobrevivência dos fieis não parece estar assegurada. Quem foi redimido? A redenção parece ser uma ilusão?
Esta
produção, apresentada pela primeira vez no Berlin Festtage de 2015, dirigida
por Daniel Barenboim, respeita a
obra de Wagner, a sua história e os seus significados, mesmo quando Tcherniakov
diverge em alguns aspectos particulares do libreto. Merece destaque a riqueza
simbólica dos cenários, concebidos por Tcherniakov, a colaboração notável de Elena Zaytseva (figurinos) e de Gleb Filshtinsky (desenho de luzes). Importante o trabalho do dramaturgo
Jens Schroth, nos detalhes da
encenação e da régie milimétrica.
Membros do coro da Staatsoper. Imagem final. Foto: Ruth Walz.
Um
elenco de excelência. Andreas Schager (Parsifal)
confirmou a sua reputação de melhor heldentenor do momento. Um timbre
belíssimo, voz de enorme qualidade, inteiramente dedicada ao texto. Excelente
em cena, bem no adolescente tímido, depois transformado num homem de paz (ou de fanatismo?). Waltraud Meier é Kundry. Será sempre especial. Foi o papel
que a tornou famosa em Wagner e em Bayreuth. A sua voz tem um timbre impar, a
dicção impecável e as suas qualidades de actriz extraordinária - para mais com
um refulgente registo dos agudos, raro numa mezzo, fizeram dela uma das mais
importantes cantoras wagnerianas das ultimas décadas. Galvanizou a audiência do
Schiller Theater, grande ovação de pé
no final. Baixo alemão René Pape (Gurnemanz),
excepcional, cantou com beleza e autoridade, dicção incisiva. Barítono alemão Wolfgang Koch (Amfortas) emocionante, soou por vezes
como Wotan. Fez sentir a agonia imensa de Amfortas. Barítono
islandês Tómas Tómasson (Klingsor) e
o baixo alemão Matthias Hölle (Titurel),
alto nível. Coro da StaatsOperanChor ( Director Martin Wright) soberbo.
Daniel Barenboim domina,
como nenhum dos outros maestros
Wagnerianos do momento, a partitura belíssima de Parsifal. Maestro superlativo
teve uma interpretação extraordinária que manteve a um nível impressionante
durante toda a longa duração, mais de cinco horas, do Parsifal. Poucos condutores
são capazes de manter o Prelúdio num ritmo tão lento sem sacrificar a
intensidade; menos ainda os que tem o sentido fino de como cada momento se encaixa
na grande arquitetura dramática de Wagner. Barenboim sublinha os mais pequenos
detalhes, doseia força e potência, as sonoridades, os silêncios, englobando o
todo num grande elã. O crescendo do Encantamento da Sexta Feira Santa, permanece
um dos grandes momentos da sua osmose excepcional com o drama musical de
Wagner. Staatskapelle Berlin soberba. Interpretação sublime.
Aplauso final : Esq.
para Dir. : Meninas-Flor (quatro), Tómas Tómasson (Klingsor), René Pape (Gurnemanz), Wolfgang Koch (Amfortas), Waltraud Meier ( Kundry), Maestro
Daniel Barenboim, Andreas Schager (Parsifal), Matthias Hölle (Titurel),
Cavaleiros (dois). Ao fundo a orquestra da Staatskapelle Berlin.
Em resumo, há uma grande sinergia entre a interpretação musical, a actuação dos
cantores e a encenação fascinante. Sobretudo a colaboração inteligente entre o
maestro e o encenador: em múltiplos tempos, a riqueza e a força da partitura é
acentuada por gestos, movimentos ou agrupamento das personagens. Talvez o
melhor Parsifal que ouvi e vi até ao momento.
Aplauso
final (destaque): Wolfgang Koch ( Amfortas ), Waltraud Meier (Kundry), Maestro
Daniel Barenboim, Andreas Schager (Parsifal).
“PARSIFAL”, Staatsoper unter den Linden at the Schiller Theater, March
25, 2016.
De Moura MC , Lisboa
I saw the performance of PARSIFAL at the Schiller
Theater, on 25 March 2016. Parsifal “a festival play with which to dedicate a stage” (a
literal translation of “Bühnenweihfestspiel “) as Wagner called the work, was created for his theatre in Bayreuth where it was first performed on 1882. It is Wagner´s last opera. Wagner found the story of
Parsifal (Parzivâl) on
the epic poem by Wolfram von Eschenbach , from the XIII century, that he
read in 1845. This opera had a long gestation. Wagner studied other medieval
texts and “Estoire du Graal“ by Chréthien de Troyes. He completed the libretto
in 1877. Practically all the aspects of this opera have been subject of
controversy. For some it is a sublime work, entirely religious, for others a
sacrilegious opera, full of religious eroticism. Even today, Parsifal is
presented in many theatres throughout the world as an event included in Easter.
As it happened with the Parsifal I saw, at the Berlin Festtage 2016 , on Good Friday.
The story occurs in what appears to be a remote region
of Northern Spain in medieval, or perhaps mythic, times. There stands the
Castle of Monsalvat where the knights of the Grail live. Amfortas is the leader
of the knights but is so shattered by his own sins and spiritual shortcomings
that he feels unworthy of celebrating the cult of the Grail. Carried on a
sickbed by his dispirited knights Amfortas suffers from a wound that will not
heal. Parsifal, a young forest boy, who knows nothing, even his own name, is
led to the scene. What he knows about this closed community is told to him by a
senior knight (Gurnemanz). Gurnemanz wonders whether Parsifal could be the
innocent fool who, it has been prophesized, will learn compassion and bring
healing to Amfortas and save the brotherhood of knights.
Wagner introduces in the plot a pivotal character:
Kundry is an ageless and cursed woman, a feminine counterpart of the “Wandering
Jew”. Perpetually tormented with herself she wanders between two worlds and
many lives. She lives in the outskirts of the castle, serves the knights with
humility, carries messages to crusaders in distant places returning with
healing balms for Anfortas wound. Kundry longs for redemption and release from an
age-old curse that condemns her. She regularly disappears and enters into the
lands of the magician Klingsor who knows how to kindle her seductive passions
and uses her as a sexual slave. Klingsor forces her to seduce the knights that
enter his den. Amfortas did not resist the beautiful Kundry that Klinsor sent
him. Klingsor stole the holy spear and injured Amfortas with a side wound that
refuses to heal. No treatment can heal Amfortas but a prophecy announces that
the wound can only be healed by a “pure fool, enlightened by compassion“. Everything
awaits the redeemer…
You can read an
extensive synopsis in English, for example, on Wikipedia.
I found the Berlin
Festtage 2016 production of Parsifal challenging and thought-provoking. In his staging the Russian director Dmitri Tcherniakov poses more questions than he answers, but his
vision of an inward-looking cult, destined to repeat its rituals with a
sickening intensity, is compelling and disquieting. In his vision there
is here a Christian theological community gone wrong. Set
in the present day, in a forsaken location, may be Russia. Gurnemanz and the knights are part of a cult or sect,
shut off from the outside world. The crowd continues to believe or at
least act as if still believed. A world of Russian holy men, like the Old
Believers in the opera “Khovanshchina”.
Amfortas is identified more with the figure of Christ that in previous
productions I have seen. More disturbingly, we see during the first act finale not
only Amfortas´s wound bleeding but also some form of reverse transubstantiation
of his own blood. The “Grail itself”, a chalice
filled with holy water (?) and blood from the wound of Amfortas, provided
glorious renewal as the knights drank from it.
All is commanded by King Titurel,
a sinister dictator. The knights are desperate for him to touch them. It is
appalling how they ignore Amfortas after this violent ceremony. Parsifal, an
ignorant teenager, a backpacker, does not
understand what he has seen and Gurnemanz dismisses him.
The second Act, visually the same version
of the Act I set, but well lit and eerily white walled, presents a parallel
cult. Tcherniakov is
exploring sexuality in a different world, the paedophiliac tendencies of our present
society. The magician Klingsor has created a realm of his own, where he lives
with many women, his countless daughters, the Flower Maidens. The Flower Maidens are not the traditional temptresses,
but a crowd of girls, all in floral dresses; the effect is chilling. A dirty and
nervous old man, the very image of the paedophile monster, distributes
to them balloons and dolls. Kundry, an older
daughter or a preceptor (?) in this strange kindergarten, is also abused, and
remains in his power. Klingsor announces that the pure hero is approaching and
that she must seduce him. Kundry uses a Freudian seduction strategy and reminds
Parsifal of his past, the education by his loving mother, and stages his
memories. Herzeleide and his son were
close, perhaps to close. The mother reacts furiously when she sees his boy
first sexual exploration with a girl.
The youngster runs away from home. Parsifal thinks he is guilty of his mothers’
death and despairs. To comfort Parsifal, Kundry opens his arms to him. The Kundry/Parsifal confrontation is brilliantly handled.
Quite what happens remains unclear, since “the long kiss”, or is it more than that?
takes place off stage. The transformation it effects leaves no doubts; the
brutal conflict between a man who refuses sex and a woman that feels hurt. When
Klingsor arrives to help Kundry, Parsifal kills him brutally with the spear.
Third act, many years have passed. The order has
disintegrated. The knights no longer gather for service, everything is
abandoned. A stranger appears. Gurnemanz and Kundry fail to recognize him as
Parsifal. The glimpses and the light physical touches between Parsifal and
Kundry suggest a love fascination? The knights, unaware of Parsifal arrival
with the sacred spear, meet again for a last ceremony; they enforce Amfortas
that enrages against Titurel dead body. Rejects everything. In the final
sequence of the Wagner´s drama, Parsifal steps forward and touching the wound
of Amfortas with the sacred spear heals it, becomes his successor and presides
for the first time the cult of the Grail. In Tcherniakov staging it is not so. Parsifal suddenly arrives and returns the
spear to Amfortas. Kundry grasps Amfortas in a
carnal embrace and she expires. Killed at Gurnemanz´s hand? Parsifal carries
her in his arms and leaves the community. The remaining knights quiver in frenzy
ecstasy. The survival of the believers is not so assured. Who is redeemed? Redemption, it seems, is only an illusion.
This production, first performed in the Berlin
Festtage 2015, conducted by Daniel
Barenboim, is respectful of the work, its history and meanings, even when
the Russian designer Tcherniakov
diverges from some of the libretto’s particulars. I was impressed by the symbolic
detail of the scenery, all done by Tcherniakov, and the impressive work by Elena Zaytseva, (costumes) and Gleb Filshtinsky (lightening). Jens
Schroth was the splendid dramaturge that gave support to the designer and
the stunning precise régie of Tcherniakov.
An excellent cast. Andreas Schager confirms his reputation as the best Heldentenor of
the moment. Beautiful tone,voice of enormous quality, dedicated to the text. A
superior scenic performance from the timid adolescent, later a transformed man of peace (or of fanaticism?). Waltraud Meier is Kundry. She will
always be special. It was this role that made her famous in Wagner and in
Bayreuth. The voice has an unique tone, a faultless diction, and her quality of
a natural stage animal, associated with a superior acute registry, rare in a
mezzo, made her one of the most important Wagnerian singers of the last
decades. Her magnetic presence galvanized the audience of the Schiller Theater,
receiving a loud standing ovation at the end.
The German bass René Pape (Gurnemanz) was exceptional, beautiful and authoritative singing and
diction crisp. The German baritone Wolfgang Koch (Amfortas) was moving, sometimes sounded like a
Wotan. Koch genuinely touched the heart by highlighting Amfortas’ intense
agony. The Iceland baritone Tómas
Tómasson (Klingsor), and the German
bass Matthias Hölle (Tirurel), both great. The choral singing
( StaatsOperanChor) and acting were of the highest
standard, a credit to Tcherniakov, to Barenboim and to the chorus director, Martin Wright.
Daniel
Barenboim feels and controls, as no other
Wagnerian conductor of the moment, the beautiful score of Parsifal. A
superlative maestro, he delivers an extraordinary performance that maintained a
terrifying level of focus for the whole of Parsifal’s more than five-hour
duration. There are few conductors who could take the Prelude at such a slow
pace without sacrificing any of its intensity; there are even fewer who have
such a keen sense of how each moment fits into Wagner’s larger dramatic
architecture. Barenboim emphasizes
the smallest details, doses the force and potency, the sonorities, the
silences, mixing them all in a great élan. The crescendo of the Enchantment of
Good Friday remains one of the great moments of his exceptional osmosis with
Wagner´s musical drama. The Staatskapelle
Berlin sounded superb. An amazing
performance.
In summary, there was a complete synergy
between the musical performance, the acting, the singing and the compelling
staging. Above all the imaginative collaboration of conductor and director:
time after times, the power of the score was enhanced by gestures, movements or
groupings of the characters. This was most probably the best “Parsifal” I have ever
heard and seen.