(in English below)
Depois de
resistir muitos anos, acabei por assistir a um primeiro espectáculo de ópera na
English National Opera, companhia
residente no Coliseu de Londres.
Aqui todas as óperas são cantadas em inglês. Neste teatro o público pode levar
os copos com as bebidas compradas no intervalo para a sala, o que é outro
aspecto muito negativo porque há sempre alguém por perto a levar um copo à boca
e a pousá-lo no chão.
Vi La Bohème, de Puccini. A encenação de Benedict
Andrews tem pouco impacto. Trás a acção para os anos 60
– 70 do século passado, em ambientes casuais (aqui bem), mas há muitas incoerências
cénicas (por exemplo baguetes de pão embrulhadas individualmente, garrafas de
água de plástico). Mas o pior foi mesmo ter sido cantado em inglês. Nunca
consegui abstrair-me desse facto, apesar da beleza da partitura musical.
A direcção
musical foi de Xian Zhang e os
cantores foram o melhor da récita. Todos cantavam bem, eram jovens, magros e
ágeis, condições que dão grande credibilidade ao espectáculo.
Mimi foi
interpretada pelo soprano Corinne
Winters. Esteve sempre afinada, a voz é bem audível, muito expressiva, e
foi excelente em palco.
O tenor Zach Borichevsky foi um Rodolfo com um
timbre muito bonito e uma projecção vocal excelente, para além de ter
transmitido grande emotividade.
O Marcello do
barítono Duncan Rock também esteve
sempre ao mais alto nível, com uma voz potente e muito agradável. Num patamar
mais abaixo mas, ainda assim, de qualidade, estiveram o soprano Rhian Lois como Musetta, o baixo Nicholas Masters como Colline e o
barítono Ashley Riches como
Schaunard.
Um bom
espectáculo, sobretudo à custa dos cantores.
***
La Bohème,
English National Opera, November 2015
After
resisting many years, I ended up watching a first opera performance by the English National Opera, at the London Coliseum. Here all the operas
are sung in English. In this theater the audience can take the glasses with
drinks bought at the intermission into the main room, which is another very
negative issue because there is always someone around to take a glass to his
mouth and put it down on the floor.
I saw La Bohème by Puccini. The staging of Benedict
Andrews has little impact. The action was placed
around the years 60-70 of the last century, in common settings (here OK), but there are
several inconsistencies (eg baguettes of bread wrapped individually, plastic
water bottles). But the worst was even been sung in English. I never got me
abstract thereof, despite the beauty of the musical score.
The musical
direction was Xian Zhang and the singers
were the best in the performance. All sang very well, they were young, lean and
agile, conditions that give great credibility to the show.
Mimi was
interpreted by soprano Corinne Winters.
She was always in tune, the voice is well audible and she was excellent on
stage. The tenor Zach Borichevsky
was a Rodolfo with a beautiful timbre, emotive and excellent vocal projection. Baritone
Duncan Rock’s Marcello always sang
at the highest level.
A level
below but still with good quality, were soprano Rhian Lois as Musetta, bass Nicholas
Masters as Colline, and baritone Ashley
Riches as Schaunard.
A good
performance, especially at the expense of the singers.
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Fanático_um,
ResponderEliminarvenho cá sempre ler as suas notas sobre récitas de ópera, mas raramente comento porque (1) percebo pouco de ópera (2) tenho raras oportunidades de assistir (3) fico muito desiludido com os seus comentários à encenação.
Tenho reparado que costuma mostrar-se satisfeito com os cantores e a direcção musical, mas acha as encenações pobres, ou de maus gosto, ou ineficazes... é uma tristeza ! Eu talvez me aventurasse a ir a Covent Garden, ao Scala ou ao MET , mas empreender uma aventura dessas com expectativas de fealdade da encenação não me tenta nada. Ouvir, ouço em casa com boa qualidade. Ópera é uma obra musical para se 'ver', acho eu. Entristece-me a moda que se impôs de reinterpretar os compositores com encenações modernas desajustadas, ou minimalistas ao ponto da completa miséria visual.
Parece-me que destruiram o autêntico espectáculo operático, na inversa medida do que se fez com a restituição de autenticidade à música barroca. Parece-me que, incapaz de fazer impôr a música erudita moderna/contemporânea atonal e electrónica, o meio musical dominante tentou e conseguiu subverter o sucesso popular da ópera submetendo-a a critérios de encenação aberrantes e pirosos de modernidade.
Admiro que continue a frequentar os grandes teatros de ópera, e fico grato pelas suas reportagens; mas entristece-me, de cada vez, constatar que a encenação, enfim.
Fico à espera de um dia ter a sorte de ler aqui, grande encenação de...
Mário, agradeço muito os seus comentários e discordo totalmente da sua afirmação que percebe pouco de ópera! Basta ler o seu blog O Livro de Areia (http://olivrodaareia.blogspot.pt/) para se perceber como tenho razão!
EliminarFelizmente tenho a sorte de ter uma actividade profissional em que me desloco frequentemente ao estrangeiro e, nessas ocasiões, tento sempre ver o que está em cartaz no que à ópera respeita.
Concordo com todos os seus comentários. Tenho tido o privilégio de ver (sim, ver!) muitas óperas nos últimos anos e, num número muito apreciável de casos, as encenações foram, para mim, decepcionantes. Mas ocasionalmente tenho sido surpreendido com excelentes espectáculos e espero sempre o melhor! :-)