quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

LA BOHÈME, English National Opera, Novembro de 2015


(in English below)

Depois de resistir muitos anos, acabei por assistir a um primeiro espectáculo de ópera na English National Opera, companhia residente no Coliseu de Londres. Aqui todas as óperas são cantadas em inglês. Neste teatro o público pode levar os copos com as bebidas compradas no intervalo para a sala, o que é outro aspecto muito negativo porque há sempre alguém por perto a levar um copo à boca e a pousá-lo no chão.



Vi La Bohème, de Puccini. A encenação de Benedict Andrews tem pouco impacto. Trás a acção para os anos 60 – 70 do século passado, em ambientes casuais (aqui bem), mas há muitas incoerências cénicas (por exemplo baguetes de pão embrulhadas individualmente, garrafas de água de plástico). Mas o pior foi mesmo ter sido cantado em inglês. Nunca consegui abstrair-me desse facto, apesar da beleza da partitura musical.

A direcção musical foi de Xian Zhang e os cantores foram o melhor da récita. Todos cantavam bem, eram jovens, magros e ágeis, condições que dão grande credibilidade ao espectáculo.
Mimi foi interpretada pelo soprano Corinne Winters. Esteve sempre afinada, a voz é bem audível, muito expressiva, e foi excelente em palco.



O tenor Zach Borichevsky foi um Rodolfo com um timbre muito bonito e uma projecção vocal excelente, para além de ter transmitido grande emotividade.



O Marcello do barítono Duncan Rock também esteve sempre ao mais alto nível, com uma voz potente e muito agradável. Num patamar mais abaixo mas, ainda assim, de qualidade, estiveram o soprano Rhian Lois como Musetta, o baixo Nicholas Masters como Colline e o barítono Ashley Riches como Schaunard.





Um bom espectáculo, sobretudo à custa dos cantores.

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La Bohème, English National Opera, November 2015

After resisting many years, I ended up watching a first opera performance by the English National Opera, at the London Coliseum. Here all the operas are sung in English. In this theater the audience can take the glasses with drinks bought at the intermission into the main room, which is another very negative issue because there is always someone around to take a glass to his mouth and put it down on the floor.

I saw La Bohème by Puccini. The staging of Benedict Andrews has little impact. The action was placed around the years 60-70 of the last century, in common settings (here OK), but there are several inconsistencies (eg baguettes of bread wrapped individually, plastic water bottles). But the worst was even been sung in English. I never got me abstract thereof, despite the beauty of the musical score.

The musical direction was Xian Zhang and the singers were the best in the performance. All sang very well, they were young, lean and agile, conditions that give great credibility to the show.
Mimi was interpreted by soprano Corinne Winters. She was always in tune, the voice is well audible and she was excellent on stage. The tenor Zach Borichevsky was a Rodolfo with a beautiful timbre, emotive and excellent vocal projection. Baritone Duncan Rock’s Marcello always sang at the highest level.
A level below but still with good quality, were soprano Rhian Lois as Musetta, bass Nicholas Masters as Colline, and baritone Ashley Riches as Schaunard.

A good performance, especially at the expense of the singers.


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2 comentários:

  1. Fanático_um,

    venho cá sempre ler as suas notas sobre récitas de ópera, mas raramente comento porque (1) percebo pouco de ópera (2) tenho raras oportunidades de assistir (3) fico muito desiludido com os seus comentários à encenação.

    Tenho reparado que costuma mostrar-se satisfeito com os cantores e a direcção musical, mas acha as encenações pobres, ou de maus gosto, ou ineficazes... é uma tristeza ! Eu talvez me aventurasse a ir a Covent Garden, ao Scala ou ao MET , mas empreender uma aventura dessas com expectativas de fealdade da encenação não me tenta nada. Ouvir, ouço em casa com boa qualidade. Ópera é uma obra musical para se 'ver', acho eu. Entristece-me a moda que se impôs de reinterpretar os compositores com encenações modernas desajustadas, ou minimalistas ao ponto da completa miséria visual.

    Parece-me que destruiram o autêntico espectáculo operático, na inversa medida do que se fez com a restituição de autenticidade à música barroca. Parece-me que, incapaz de fazer impôr a música erudita moderna/contemporânea atonal e electrónica, o meio musical dominante tentou e conseguiu subverter o sucesso popular da ópera submetendo-a a critérios de encenação aberrantes e pirosos de modernidade.

    Admiro que continue a frequentar os grandes teatros de ópera, e fico grato pelas suas reportagens; mas entristece-me, de cada vez, constatar que a encenação, enfim.

    Fico à espera de um dia ter a sorte de ler aqui, grande encenação de...

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    1. Mário, agradeço muito os seus comentários e discordo totalmente da sua afirmação que percebe pouco de ópera! Basta ler o seu blog O Livro de Areia (http://olivrodaareia.blogspot.pt/) para se perceber como tenho razão!
      Felizmente tenho a sorte de ter uma actividade profissional em que me desloco frequentemente ao estrangeiro e, nessas ocasiões, tento sempre ver o que está em cartaz no que à ópera respeita.
      Concordo com todos os seus comentários. Tenho tido o privilégio de ver (sim, ver!) muitas óperas nos últimos anos e, num número muito apreciável de casos, as encenações foram, para mim, decepcionantes. Mas ocasionalmente tenho sido surpreendido com excelentes espectáculos e espero sempre o melhor! :-)

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