Não é frequente, e atrevo-me
a dizer que é raríssimo, assistir a um concerto como o que hoje pude ver na
Gulbenkian. Se o primeiro acto de A Valquíria é frequentemente apresentado em
versão concerto, o mesmo já não se pode dizer do primeiro acto de Siegfried.
Como penso já ter referido anteriormente neste blog, o Siegfried foi sempre a
ópera da Tetralogia que menos me entusiasma, embora esta ideia se tenha indo
dissipando, de há uns anos a esta parte. E para tal têm contribuído algumas
experiências interessantes, na qual vou passar a incluir o concerto de hoje.
Kirill Petrenko dirigiu de
forma convicta e precisa a Orquestra Gulbenkian que, na minha opinião, tem
vindo a crescer ao longo desta temporada, no que diz respeito à interpretação
operática e, felizmente, em Wagner.
Peter Galliard foi Mime e
ofereceu-nos uma interpretação magnífica, quer do ponto de vista vocal quer do
ponto de vista cénico. Todas as nuances vocais de Mime, sem exageros de
caracterização, estiveram presentes. O timbre é perfeito e a afinação é
sublime.
Scott MacAllister foi
Siegfried e teve uma interpretação de elevada qualidade, embora seja difícil
imaginá-lo fisicamente como o jovem e possante herói. Voz em excelente forma,
incomodando ligeiramente no final dos “Hoho! Hoho! Hohei!” mas terminando a
última cena com uma convicção e garra tocantes ao dizer “So schneidet
Siegfrieds Schwert”.
O papel de Viandante é sim um
verdadeiro papel para Wolfgang Koch, ao contrário de Hans Sachs. Imponente e
solene, com uma voz potente capaz de se sobrepor à orquestra na sua maior
força, foi simplesmente fenomenal.
Apesar de em versão de
concerto, todos deram muito mais do que a voz, sendo a interpretação física
muito boa mas destoando no conjunto por uma “dependência independente” da
partitura na estante.
Siegfried - 1st act - Calouste Gulbenkian Foundation -
May 3, 2012
It is not usual, and I dare say that it is rare, to
attend a concert like the one I I could see today at the Gulbenkian. If the
first act of The Valkyrie is often presented in concert version, the same cannot
be said of the first act of Siegfried. As I think I have already mentioned
before in this blog, Siegfried was always the opera of the tetralogy that
excited me less, though I have learnt to see its qualities. To this it has
contributed some interesting experiences, which will now include the today’s
concert.
Kirill Petrenko led the Gulbenkian Orchestra in a
convincing and secure way. In my opinion, this Orchestra has been growing
throughout this season regarding the operatic interpretation and, fortunately,
in Wagner.
Peter Galliard was Mime and offered us a magnificent
interpretation of either the vocal and physical view. All the vocal nuances of
Mime, without an exaggerated characterization, were present. The tone is
perfect and the pitch is sublime.
Scott MacAllister was Siegfried and had a high quality
interpretation, although it is hard to imagine him physically as the young and
powerful hero. Voice in excellent shape, slightly disturbing at the end of
"Hoho! Hoho! Hohei!", but ending the last scene with a touching conviction
by saying" So schneidet Siegfrieds Schwert ".
The role of Wanderer is a true role for Wolfgang Koch,
unlike Hans Sachs. Stately and solemn, with a powerful voice capable of overlap
the orchestra in its greatest power, he was just phenomenal.
Although in concert version, all singers gave much
more than the voice, with a very good physical interpretation diverging from
the ensemble by an “independent dependence” of the score on the shelf.
Também assisti a este concerto.
ResponderEliminarAchei que a orquestra nunca chegou a "levantar vôo". O maestro Petrenko, apesar do grande reconhecimento internacional que detém, foi muito inferior ao jovem Afkham que pudemos apreciar há poucas semanas. Esse sim, verdadeiramente espectacular!
Quanto aos cantores achei que Peter Galliard (Mime)e Wolfgang Koch (wanderer) foram óptimos, mas Scott MacAllister (Siegfried) foi inferior e, só no final, se fez ouvir sobre a orquestra.
Mas foi um bom concerto.
Caro Wagner_fanatic,
ResponderEliminarTive oportunidade de assistir a este concerto.
Ia com muito entusiasmo ouvir Wagner e, de facto, depois do que ouvi, fico certo de que desconhecer Wagner é um sacrilégio!
O texto é muito interessante de seguir e a música é óptima. Confesso que, musicalmente, não me fica no ouvido, nem me entusiasma como os italianos, mas é de elevadíssima qualidade e a forma como suporta o texto em todas as suas nuances é extraordinária.
Quanto à Orquestra: concordo com o Fanático_Um. Acho que, realmente, nunca levantou voo e que não soou totalmente wagneriana, muito embora tenha vindo a crescer (e muito!) ao longo do ciclo Wagner+. Kirilenko, ainda transportando a música Afkhamiana na cabeça, não me surpreendeu. E pecou por não ter colaborado grandemente com os cantores, dificultando-lhes muito a tarefa, abafando-os muitas vezes com uma orquestra muito sonante.
Peter Galliard foi um Mime muito interessante. Tentou "encenar" o seu papel e fê-lo com mestria. Interpretativamente em evidência, pecou por alguma dificuldade em projectar a voz.
Scot MacAllister foi um Siegfried mediano. Para mim foi quem esteve menos bem. Apresentou muita dificuldade em fazer ouvir-se, embora tenha interpretado bem.
Quanto a Wolfgang Koch, concordo inteiramente consigo. Tem uma voz muito poderosa, com um negro óptimo para o papel, e interpretou de um modo magnífico. Para mim foi o elemento mais destacado da récita.
Saudações
Como sempre uma boa crônica. Como diz o Fanático Um: este é um blog de visita obrigatória. Um grande abraço
ResponderEliminarCaros colegas de blog,
ResponderEliminarÉ impossível esperar, do primeiro acto do Siegfried, uma orquestra como podem encontrar em A Valquíria ou no Crepúsculo porque simplesmente, a trama e, consequentemente, a própria orquestração não são da mesma intensidade. Talvez por esse motivo, o Siegfried nunca tenha sido para mim, como referi, a ópera mais apreciada da Tetralogia.