sexta-feira, 25 de maio de 2012

MADAMA BUTTERFLY, METropolitan Opera, Nova Iorque / New York, Março de 2012


(text in english below)

Madama Butterfly é uma ópera de Giacomo Puccini com libretto de Guiseppe Giacosa e Luigi Illica. O enredo pode ler-se aqui.


A encenação de Anthony Minghella é assombrosa! Foi, de longe, a encenação mais conseguida que vi desta ópera e penso que melhor é impossível. Há um respeito absoluto pelo conteúdo da ópera e pelo que pensamos serem as tradições japonesas. O palco, escuro e com uma escadaria ao fundo, está quase vazio. Mas um jogo de biombos móveis extremamente eficaz, associado às luzes coloridas, assegura uma acção sempre em movimento e de uma eficácia absoluta. Também o vistoso e colorido guarda-roupa contribui para a beleza plástica do espectáculo.


Toda a encenação é de uma beleza indescritível mas há partes inolvidáveis. No final do primeiro acto, no dueto amoroso entre Cio-Cio-San e Pinkerton, a “dança” das lanternas esféricas traz verdadeira magia à cena. A neve é outra mais valia assinalável. Também de efeito cénico marcante é o momento em que Butterfly está com o seu marido americano e, subitamente, ele desaparece, à passagem de um biombo.


O recurso a marionetes japonesas Bunarku é o aspecto mais original e um dos mais marcantes da encenação. O filho de Cio-Cio-San e Pinkerton é uma delas. Têm cerca de metade da dimensão de um ser humano, não são manipuladas por fios mas sim por dois ou três especialistas, quase invisíveis pelo público, cada um responsável por uma parte corporal diferente da marionete. Fabuloso!

(Fotografia da Met Opera / Photography from Met Opera)


A direcção musical esteve a cargo de Placido Domingo. Foi má e quase conseguiu estragar a qualidade superior da produção. Impôs à orquestra uma prestação irregular e, sobretudo, amorfa e monótona ao longo de toda a representação. Nunca conseguiu evidenciar os momentos de exaltação amorosa, nem os de angústia e desespero. Lamentável!
Não percebo por que razão Domingo, um dos maiores nomes do canto lírico dos últimos tempos, insiste em apresentar-se como maestro. Nessa função é medíocre ou mau e, só graças ao seu prestígio como cantor, consegue que os grandes teatros de ópera o tolerem como maestro. Uma pena.


Patrícia Racette, soprano americano,  foi uma Butterfly convincente. A cantora está longe de ter os 15 anos de Cio-Cio-San (nenhuma os tem!) mas desempenha o papel (no qual é especialista) com grande convicção. As notas mais altas já não lhe saem como outrora, mas continua a impressionar pela qualidade interpretativa, cénica e vocal.


B.F. Pinkerton foi interpretado pelo tenor italiano Roberto de Biasio. Esteve muito bem, a voz tem assinalável qualidade e beleza e os agudos surgem sem esforço aparente. Cenicamente esteve também irrepreensível.


 Maria Zifchak, mezzo americano, foi uma Suzuki de alta qualidade. A voz grave impõe-se com facilidade e esteve sempre bem em todas as intervenções.


Merece relevo o cônsul americano Sharpless, a cargo do barítono francês Laurent Naouri. A voz tem um belo timbre e potência assinalável, o que permitiu ao cantor um bom desempenho.


Gostaria ainda de deixar uma referência muito positiva ao barítono Tony Stevenson que fez um Goro notável, vocal como cenicamente.




Em conclusão, assisti, no Met, a mais uma récita deslumbrante que nem a má direcção musical de Placido Domingo conseguiu estragar.
Já tinha visto esta produção na televisão. Mas é um dos casos em que só ao vivo se consegue desfrutar de toda a grandiosidade e beleza do espectáculo.

*****



Madama Butterfly, Metropolitan Opera, New York, March 2012

Madama Butterfly is an opera by Giacomo Puccini with libretto by Giuseppe Giacosa and Luigi Illica.
The plot can be read here.

The staging of Anthony Minghella is stunning! It was by far the most successful staging of this opera that I saw and I think best is impossible. There is an absolute respect for the content of the opera and what we think are Japanese traditions. The stage, dark and with a staircase to the bottom, is nearly empty. But a set of highly effective mobile screens, coupled with colored lights, ensured an action always moving and wholly effective. Also the gaudy and colorful costumes contribute to the visual beauty of the show.

The whole scenario is absolutely beautiful but there are unforgettable parts. At the end of the first act, during the love duet between Cio-Cio-San and Pinkerton, the "dance" of spherical lanterns brings real magic to the scene. The
snow is another notable effect.
Also striking is the scenic effect is the moment when Butterfly is with her American husband, and suddenly he disappears, at the passage of a screen.

The use of Japanese Bunarku puppets is the most unique and one of the most striking features of the production. The son of Cio-Cio-San and Pinkerton is one of them. They have about half the size of a human being, are not handled by wires but by two or three persons, barely visible by the public, each responsible for a body part of the puppet. Absolutely fabulous!

The musical direction was by Placido Domingo. He was bad and almost succeeded in ruining the superior quality of the production. The orchestra, under his direction, provided an irregular, amorphous and flat sound throughout the performance. Never managing to show the loving moments of exaltation, nor the anguish and despair parts. Regrettable!
I do not understand why Domingo who is one of the biggest names in opera singing in recent years, insists on presenting himself as a conductor. In this he is mediocre or bad. Only due to his reputation as a singer, can the important opera houses tolerate him as a conductor.
A pity.

Patricia Racette, American soprano, was a convincing Butterfly. The singer is far from the 15-year-Cio-Cio-San (no singer has them!) But she played the role (in which she is a specialist) with great conviction. The higher notes are no longer as good as before, but she still impressed by the quality of her performance, vocal and artistic. 

BF Pinkerton was played by Italian tenor Roberto de Biasio. He was very good, the voice has remarkable quality and beauty, and top notes came without apparent effort. Artistically he was blameless.

Maria Zifchak, American mezzo, was a remarkable Suzuki. The low register was sang with ease and she was always well in all interventions.

The American consul Sharpless was French baritone Laurent Naouri.
The voice has a beautiful tone and remarkable power, which allowed the singer to perform well.

I would also leave a very positive reference to baritone Tony Stevenson who made a high quality Goro, both vocal and artistic.

In conclusion, I saw, at the Met, a most dazzling performance, that even a bad musical direction of Placido Domingo could not spoil.

I had seen this production on television before. But only live one can enjoy all the grandeur and beauty of the show.

*****

4 comentários:

  1. Caro Fanático,
    bela crônica. O detalhe da direção musical do Plácido Domingo é uma nota triste! Mas enfim ninguém é perfeito...
    um grande abraço

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  2. Caro Fanático Um,

    Fico cheio de vontade de assistir a esta encenação para si tão marcante. Tendo eu a sua opinião muito em conta, vou procurar encontrar modo de ver ao menos na televisão.
    Plácido Domingo é um artista de mão cheia que, apesar de já passar dos 70 anos, continua a apresentar-se vocalmente em grande nível. É pena que a experiência que acumulam os seus anos não lhe tenham dado a humildade para reconhecer alguns défices, nomeadamente na direcção de orquestra. Quanto ao seu todo como artista: continua a ser enorme e é, para mim, o mais completo tenor das últimas décadas!
    Saudações

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  3. Caro FanaticoUm,
    Tenciono estar em passeio por Espanha em Julho. Em Madrid, estará a passar "Il postino", com Plácido Domingo, e em Barcelona, a Butterfly com a encenação de Londres.
    Na Butterfly, vão alternar Patricia Racette e Amarilli Nizza. No dia 25 vai ser Ermonela Jaho. Qual sugere?
    Adicionalmente, os Pinkertons serão, respectivamente, Stefano Secco, Roberto Aronica e Jorge de León.

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    1. Caro PZ,
      A Racette faz uma boa Butterfly, a Nizza não conheço. Apesar de nunca a ter ouvido como Butterfly, não hesito em recomendar a Jaho. É uma cantora extraordinária e completa.
      Espero que goste e depois conte como foi!
      Cumprimentos

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