segunda-feira, 22 de março de 2010

Tamerlano - Royal Opera House, Covent Garden - Londres - 20 Março 2010

Handel espectacular este fim-de-semana em Londres (Royal Opera House, Covent Garden)!!!

Comprei bilhetes em Setembro para esta produção. Lembro-me das duas opções no site: "Tamerlano with Kurt Streit" e "Tamerlano with Domingo". Claro está que, como grande fã do Maestro (aparte de ser também grande wagneriano), escolhi "Tamerlano with Domingo" No final de Fevereiro recebi a triste notícia de que, por problemas de saúde, Domingo não iria cantar nesta produção. Frustração completa! Não foi por Handel que decidi ir a Londres, foi por Domingo. Tudo parecia menos interessante agora. Confesso que a ideia de ir foi a de não perder o dinheiro já investido, em passagens low-cost (como quase sempre e com grande antecedência) e nos próprios bilhetes (na gama dos mais em conta mas em lugar onde se vê bem - Anfiteatro - com sorte nas primeiras filas por ser Friend of Covent Garden) embora me tenham oferecido 20% de desconto num vale por Domingo já não cantar (nem todas as casas de Ópera o fariam - tiro o chapéu à Royal Opera que considero a minha Casa de Ópera Mãe por me ter estreado em Julho de 2005 na Ópera ao vivo lá, com uma então espectacular Valquíria - Placido Domingo, Waltraud Meier, Bryn Terfel).

Antes ainda de começar, um pequeno papel no programa e mais tarde uma figura feminina em palco, dão conta que Christianne Stotijn não cantaria e seria substituída por Tara Vendetti.

Confesso que não sou versado em Handel. Tenho alguns CDs com árias (sim, incluíndo o do Villazon... não o considero tão mau como muitos pensam neste repertório) e algumas que prefiro mas nunca tinha assistido a nenhuma ópera deste compositor ao vivo.

No lugar de Domingo estava então Kurt Streit, que acordou em cantar as récitas de Domingo para além das suas a 13 e 17 de Março. Nunca pensei dizer isto mas acho que a récita tinha sido pior de Domingo tivesse cantado. Kurt Streit foi espectacular. Voz perfeita para Handel, ao contrário de Domingo que, pelos excertos que vi no youtube canta Handel como se fosse Verdi, com a sua voz não limpida e por vezes arfada quando tenta transmitir o sentimento. Isso não funciona em Handel, como penso que todos concordarão. Mas não se pense que Streit não foi capaz de transmitir emoção. Claro que sim, e sem perder a beleza na voz. Só achei que parecia demasiado novo em palco para imaginarmos que era pai de Asteria, mas o que é isso ao pé do que se ouviu? Nada de importante.




Asteria foi cantada por Christine Schafer. Como a única coisa que ouvi dela previamente foi um CD de árias de Mozart e Strauss, pareceu-me que cantava Handel mas soava-me a Mozart. Este sentimeto dissipou-se ao longo da ópera e logo no 1º acto. Que voz espectacular. conseguiu sem dúvida transmitir o drama interior da personagem (apaixonada por Andronico e ter de casar com Tamerlano por vontade deste, contra o pai Bajazet, e contra a sua própria vontade, tendo tentado matar Tamerlano com punhal, depois com veneno, quase obrigada a escolher em matar o pai ou o seu amante... enfim... quem conhece sabe o que refiro, quem não conhece acha que isto é um contínuo de parvoíces...).
A grande surpresa para mim foi Sara Mingardo. Haverá melhor voz para o papel que ela? Que contralto!!! Soberbo!!! Fico fã e espero poder ter a possibilidade de a ouvir novamente. Voz forte, rica, timbre único e capacidade emotiva superlativa.


Tara Vendetti, embora substituta, esteve igualmente espectacular como Tamerlano. Voz de mezzo perfeita!! Excelente actriz!!! Mais uma boa surpresa.


Renata Pokupic, desconhecida para mim, surpreendeu (mais uma vez igualmente) com uma voz fantastica, potente, emotiva. Viva aos Mezzo-sopranos e Contraltos - esta é a ópera deles (talvez outras existam mas ainda não as conheço)!!!

A encenação de Graham Vick (aquele que "baralhou" a sala do São Carlos para um Anel que foi das melhores coisas que tivemos neste teatro nos últimos anos), jogando com preto e branco, meio clássica no traje, meio abstracto no resto, foi interessante e não desorientadora. Houve até um pequeno apontamento de humor, embora por erro técnico. Um dos elefantes azuis que foram andando no palco durante o 1º acto acabou por tombar e lá foram conseguindo endireitá-lo de forma a que concluísse o percurso. Muitos se riram, enquanto Christine Schafer nos brilhantava com uma das árias... eu incluído (sorry...).

A Orquestra (Orchestra of the Age of Enlightenment) esteve à altura das vozes, sem falhas, guiada soberbamente por Ivor Bolton, mostrando-me algo que tinha de certa maneira esquecido com tanto Wagner e Verdi (após muito tempo de Bach...): o barroco foi um dos períodos mais produtivos e imaginativos da História da Música, com árias capazes de nos penetrar a alma e de lá não sair para sempre.


Obrigado Handel!!!


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