sábado, 21 de novembro de 2009

UN BALLO IN MASCHERA – Royal Opera House, Londres, Julho de 2009

Un ballo in maschera (um baile de máscaras) de Giuseppe Verdi passa-se em Boston, onde Riccardo, o governador, ama Amelia, mulher do seu secretário Renato. Riccardo consulta uma uma vidente, Ulrica, que lhe diz que será morto pelo próximo homem que lhe apretar a mão e, quem o faz, é Renato. Também Amelia consulta Ulrica para a ajudar a esquecer o seu amor por Riccardo. Para tal, terá que ingerir uma bebida feita com uma erva mágica que deverá colher à noite nos arredores de Boston. Amélia vai procurar a erva e é seguida por Riccardo. Trocam palavras de amor. Surge Renato que avisa o governador para se afastar porque há uma conspiração contra ele. Assim faz, pedindo a Renato para proteger a mulher, sem tentar saber a sua identidade. Renato promete, mas chegam os conspiradores e, na confusão, a identidade de Amélia é revelada. Convicto da traição, Renato jura vingança. Junta-se aos conspiradores e aceita um convite do governador para um bailde de máscaras, onde irá com Amélia. No baile Riccardo recebe do pagem Oscar um aviso anónimo que corre risco de ser assassinado. Amélia reconhece-o e pede-lhe para fugir, mas surge Renato que o apunhala. Riccardo diz a Renato que Amélia está inocente, perdoa os conspiradores e morre.

A encenação, de Mario Martone, foi bastante pobre no início, mas melhorou no 2º acto e, no final, uma engenhosa colocação de espelhos teve um efeito invulgar, inicialmente vendo-se todo o teatro e depois o baile de máscaras em planos não habitualmente vistos.
A orquestra, dirigida por Maurizio Benini, esteve muito bem e foi, talvez, o melhor de todo o espectáculo.
Passando aos cantores (que não foram actores!):
Riccardo, o papel principal, esteve a cargo do tenor mexicano Ramón Vargas, o único que conhecia. Como referi, não houve representação, apenas canto. Como tenor foi regular, mas com fragilidades no registo mais agudo e uma emissão não tão potente como seria desejável para um teatro como a ROH. A figura é má (baixo e gordo) e, no último acto, onde tem a aria principal, salvou a interpretação, mas esteve muito aquém do desejado. Ainda teve o despudor de se fazer aos aplausos o que, em Londres, não é habitual (e, neste caso, nem sequer merecido).
O rival, Renato, foi cantado pelo barítono eslovaco Dalibor Jenis. Uma voz potente mas nada mais que isso. Parecia que nem tinha ensaiado. Desafinou várias vezes, não teve qualquer preocupação com a representação e cantou sem alma e sem presença. Teve força mas faltou-lhe tudo o resto. A figura era excelente – novo, magro e alto, o que ainda salientou a má prestação cénica.
O soprano principal, Amelia, foi cantado pela chilena Angela Marambio. Mais uma vez uma ausência total de representação ou de capacidades cénicas. Voz muito potente, mas sem qualquer cor. Estridente nas notas mais agudas, tendência para gritar e nenhum sentimento na expressão, apesar de o papel ser bem desenhado para isso. A potência foi proporcionalmente inversa ao lirismo. A figura, muito má (gorda, quase não se mexia em palco e sem qualquer expressão – e eu estava sentado num lugar excelente em que tudo isto era bem visível!).
A vidente Ulrica –um dos mais interessantes papeis de contralto de Verdi – foi entregue à russa Elena Manistina. Foi a pior Ulrica que me lembro de ver. Apesar da emissão de notas graves, estas estiveram muito aquém da potência e da intensidade dramática necessárias. A senhora, também com má figura mas que até se adapta ao papel, precisa de umas lições de italiano pois até eu achei que cantou com sotaque russo! Mas não é cantora para um teatro como a ROH. Se há coisa que me lembro das Ulricas que vi anteriormente, é que se fazem ouvir bem e, as melhores, com uma voz cavernosa mas bem colocada que dá grande credibilidade à personagem. Nada disso aconteceu aqui.
Finalmente uma palavra para o pagem Oscar, um papel secundário cantado por um soprano – Anna Christy – que, nesta produção, foi talvez o melhor elemento em cena.
As restantes personagens secundárias estiveram muito bem. Se os cantores tivessem trocado com os principais, talvez a coisa tivesse resultado melhor!
Em suma, foi um bailde de máscaras sem qualquer momento de exaltação, susceptível de ser visto e ouvido em qualquer teatro de ópera de média categoria.

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