segunda-feira, 19 de abril de 2021

PARSIFAL, Ópera de Viena, Wiener Staatsoper, transmissão / streaming Abril / April 2021

(review in English below)

A Ópera de Viena transmitiu recentemente a nova produção da ópera Parsifal de R. Wagner com encenação do russo Kirill Serebrennikov.

A Orquestra e o Coro da Ópera de Viena, sob a direcção de Philippe Jordan estiveram ao mais alto nível. O maestro foi excelente.

A acção foi trazida para a actualidade. O 1º e o 3º actos passam-se numa prisão russa. É retratada a forma desumana como os presos são tratados, a corrupção, as relações entre os reclusos e destes com os guardas. Parsifal recorda o passado e a acção é assim retratada, com o Parsifal actual (o cantor Jonas Kaufmann muitas vezes “à parte” da acção) e outro Parsifal (um actor), mais jovem e o principal sujeito da acção. No 1º acto a Kundry é uma jornalista que entrevista e fotografa os presos (os cavaleiros do Graal). As tatuagens são centrais na encenação e representam grande parte da simbologia da ópera. É uma encenação cativante e de grande intensidade psicológica.


O 2º acto passa-se numa redacção de uma revista de moda, Schloss, onde Parsifal é o modelo esperado. Klingsor é o dono da agência e Kundry uma executiva. A cena de sedução da Kundry sobre o Parsifal é excelente. No final, ela mata o Klingsor a tiro.



O 3º acto, novamente na prisão, é o menos interessante. Titurel foi cremado e em vez de caixão o Amfortas traz uma pequena urna com as cinzas, coloca-as na sua face e lança-as sobre os outros. No final Parsifal abre as celas e todos saem em liberdade.


É uma encenação de gosto discutível e que nada tem a ver com a ideia original de Wagner, mas é cativante, rica, psicologicamente intensa e está muito bem conseguida.

Quanto aos cantores, melhor seria impossível.

Georg Zeppenfeld foi um Gurnemanz muito competente, voz excelente e interpretação sempre eficaz.


Ludovic Tézier fez um Amfortas excepcional, tanto na interpretação vocal como cénica. Esteve sempre excelente mas, no 1º acto, foi memorável. 


Elina Garanca, para mim, foi a melhor da récita. Interpretou a Kundry com uma potência vocal assinalável, timbre magnífico, afinação perfeita e, em cena, foi uma actriz de topo. Excelente!!


 Jonas Kaufmann fez um Parsifal de qualidade, sobretudo no 2º acto, onde foi excelente. Como teve um “duplo” (actor Nikolay Sidorenko), por vezes as suas intervenções cénicas pareceram algo bizarras.



Finalmente Wolfgang Koch foi um Klingsor convincente. Este cantor é excelente para os papéis maléficos das óperas de Wagner.


O Parsifal não é uma ópera para principiantes mas este é um espectáculo de excelente qualidade que pode ser visto no site abaixo durante as próximas semanas:

 https://www.arte.tv/en/videos/102879-000-A/richard-wagner-parsifal/

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PARSIFAL, Wiener Staatsoper,  streaming April 2021

The Vienna State Opera recently broadcast the new production of R. Wagner's opera Parsifal staged by Russian director Kirill Serebrennikov.

The Vienna Opera Orchestra and Choir, under the direction of Philippe Jordan were at the highest level. The conductor was excellent.

The action was brought up to date. The 1st and 3rd acts take place in a Russian prison. It portrays the inhumane way prisoners are treated, corruption, the relationships between prisoners and between them and the guards. Parsifal remembers the past and the action is thus portrayed, with the current Parsifal (the singer Jonas Kaufmann often "apart" from the action) and another Parsifal (an actor), younger and the main subject of the action. In the first act, Kundry is a journalist who interviews and photographs prisoners (the Knights of the Grail). Tattoos are central to staging and represent a large part of opera symbology. It is a captivating staging and of great psychological intensity.

The 2nd act takes place in an editorial of a fashion magazine, Schloss, where Parsifal is the expected model. Klingsor is the owner of the agency and Kundry an executive. Kundry's seductive scene on Parsifal is excellent. In the end, she shoots Klingsor.

The 3rd act, again in prison, is the least interesting. Titurel was cremated and instead of a coffin, Amfortas brings a small urn with the ashes, places them on his face and throws them over the others. At the end Parsifal opens the cells and everyone leaves in freedom.

It is a staging of debatable interest that has nothing to do with Wagner's original idea, but it is very showy, psychologically intense and is very well done.

As for the singers, better would be impossible.

Georg Zeppenfeld was a very competent Gurnemanz, with an excellent voice and always efficient interpretation.

Ludovic Tézier did an exceptional Amfortas, both in vocal and scenic interpretation. He was always excellent, but in the first act, he was memorable.

Elina Garanca, for me, was the best of the night. She played Kundry with remarkable vocal power, magnificent timbre, perfect pitch and, on the stage, was a top actress. Fabuloust!!

Jonas Kaufmann was a quality Parsifal, especially in the 2nd act, where he was excellent. As he had a “double”, sometimes his scenic interventions seemed somewhat bizarre.

Finally Wolfgang Koch was a convincing Klingsor. This singer is excellent for the evil roles of Wagner's operas.

Parsifal is not an opera for beginners but this is a performance of excellent quality that can be seen on the website below for the next few weeks:

 https://www.arte.tv/en/videos/102879-000-A/richard-wagner-parsifal/

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domingo, 11 de abril de 2021

LES CONTES D’HOFFMANN, Zürich Opernhaus

(Review in English below)

A Ópera de Zurique transmitiu em directo a estreia da opera Os Contos de Hoffmann de Offenbach no dia 11 de Abril. A gravação está disponível no site do teatro (https://www.opernhaus.ch/en/) até final do mês.

A encenação de Andreas Homoki foi muito agradável e eficaz. Teve poucos adereços visuais. Ao longo de toda a ópera manteve-se um pavimento de quadrados de bom efeito, uma pipa de vinho e, em cada acto, um adereço dominante como um sofá ou um piano.

A Orquestra e o Coro, dirigidos pelo maestro Antonino Fogliani estiveram noutra sala, longe do teatro e foi interessante ver a explicação de como tudo funcionou.


Foi um espectáculo muito agradável, com os cantores solistas em grande forma.

Saimir Pirgu foi o Hoffmann e esteve ao mais alto nível. Gosto muito deste tenor, nunca me desiludiu e, mais uma vez, foi óptimo. 

Alexandra Kadurina, que não conhecia, foi uma Musa / Nicklausse excelente, tanto na interpretação cénica como vocal.

A Olympia foi interpretada por Katrina Galka. Vocalmente esteve sempre afinada, foi poderosa (apesar de sabermos que, nas gravações, tudo soa sempre bem) mas exagerou na coloratura. Não gostei da interpretação cénica, era claramente um boneco mas, em grande parte da actuação, não se comportou como tal.


Ekaterina Bakanova foi uma Antonia fantástica na sensível interpretação cénica e vocal. A cantora tem um timbre muito bonito e este registo dramático adapta-se muito bem ao seu soprano.

A Guilietta foi interpretada correctamente por Lauren Fagan


O vilão Lindorf / Coppélius / Miracle / Dapertutto foi um excelente Andrew Foster-Williams que associou uma interpretação vocal convincente a um bom desempenho cénico, muito ajudado pelo guarda-roupa.


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LES CONTES D’HOFFMANN, Zürich Opernhaus

Zurich Opera live broadcasted the premiere of Offenbach's The Tales of Hoffmann on 11 April. The recording is available on the theater website (https://www.opernhaus.ch/en/) until the end of April.

Andreas Homoki's staging was very pleasant and effective. There were few visual props. Throughout the opera, a square pavement with good effect was maintained, a kite of wine and, in each act, a dominant adornment such as a sofa or a piano.

The Orchestra and the Choir were in another room, far from the theater and it was interesting to see the explanation of how everything worked.

It was a very pleasant performance, with the soloist singers with great performances.

Saimir Pirgu was Hoffmann and was at the highest level. I like this tenor very much, he never disappointed me and, once again, he was great.

Alexandra Kadurina, who I did not know, was an excellent Muse / Nicklausse, both in scenic and vocal interpretation.

Olympia was interpreted by Katrina Galka. Vocally, she was always in tune, she was powerful (although we know that, in the recordings, everything always sounds good) but she exaggerated in the coloratura. I didn't like the scenic performance, she was clearly a puppet but, for the most part of the performance, she didn't behave as such.

Ekaterina Bakanova was a fantastic Antonia in sensitive stage and vocal interpretation. The singer has a very beautiful timbre and this dramatic register adapts very well to her soprano.

Guilietta was interpreted correctly by Lauren Fagan.

The villain Lindorf / Coppélius / Miracle / Dapertutto was an excellent Andrew Foster-Williams who combined a convincing vocal interpretation with a good scenic performance, greatly aided by the dresses.

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sexta-feira, 9 de abril de 2021

LES CONTES D’HOFFMANN, Zürich Opernhaus, Transmissão em directo / Live, 11 Abril /April 18h00 (Lisboa) / 19h00 (Zürich)

(text in English below)

A Ópera de Zurique vai transmitir em directo a estreia da opera Os Contos de Hoffmann de Offenbach no próximo dia 11 de Abril às 18h00 (Lisboa) / 19h00 (Zurique).

Se a encenação de Andreas Homoki for boa teremos oportunidade de assistir a um espectáculo interessante. Nos cantores solistas há vários que deverão assegurar grandes interpretações.

Saimir Pirgu vai ser o Hoffmann e tenho grandes expectativas. É um tenor excelente. Alexandra Kadurina será a Musa / Nicklausse. No curto mas exigente papel de Olympia teremos Katrina Galka, uma estreia para mim. A Antonia será a excelente soprano Ekaterina Bakanova que há dois anos nos encantou com a sua magnífica Violetta na última Traviata apresentada no São Carlos. A Guilietta será Lauren Fagan, a Stella Erica Petrocelli e o mau da noite (Lindorf, Coppélius, Miracle, Dapertutto) Andrew Foster-Williams.

No site da ópera de Zurique:

https://www.opernhaus.ch/en/


LES CONTES D’HOFFMANN, Zürich Opernhaus, Live Stream, 11 April 18h00 (Lisbon) / 19h00 (Zürich)

Zurich Opera will broadcast live the premiere of the opera The Tales of Hoffmann de Offenbach on the 11th of April at 18.00 (Lisbon) / 19.00 (Zurich).

If Andreas Homoki's production is good we will have the opportunity to see an interesting show. In the soloists there are several singers that should ensure great interpretations.

Saimir Pirgu is going to be Hoffmann and I have great expectations. He's an excellent tenor. Alexandra Kadurina will be Musa / Nicklausse. In the short but demanding role of Olympia we will have Katrina Galka, a new one for me. Antonia will be the excellent soprano Ekaterina Bakanova who two years ago enchanted us with her magnificent Violetta at the last Traviata presented at São Carlos Opera House in Lisbon. Guilietta will be Lauren Fagan, Stella will be Erica Petrocelli and the bad guy (Lindorf, Coppélius, Miracle, Dapertutto) Andrew Foster-Williams.

At Zurich Opera website:

https://www.opernhaus.ch/en/

segunda-feira, 5 de abril de 2021

GÖTTERDÄMMERUNG / O CREPÚSCULO DOS DEUSES, Wiener Staatsoper, Transmissão / Streaming, Abril / April 2021

 


Das óperas do Anel do Nibelungo de R Wagner recentemente transmitidas pela Ópera de Viena, também tive oportunidade de ver O Crepúsculo dos Deuses, sob a competente direcção musical de Adam Fischer.

A encenação clássica de Sven-Eric Bechtolf é clássica, agradável e cumpre.

Os cantores principais foram Monika Bohinec (Primeira Norna), Ulrike Helzel (Segunda Norna) e Ildikó Raimondi (Terceira Norna) que cumpriram sem encantar.

O Siegfried foi bem interpretado por Christian Franz.


O Gunther foi Boaz Daniel (bem), a Gutrune Regine Hangler (boa) e o Hagen Eric Halfvarson (muito bom).


A Waltraute foi Anna Larsson, bem.


E a Brünhilde foi a Linda Watson, também bem.

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Götterdämmerung, Wiener Staatsoper, streaming, April 2021

From the operas of R Wagner's Ring of Nibelung recently transmitted by the Vienna Opera, I also had the opportunity to see The Twilight of the Gods, under the competent musical direction of Adam Fischer.

The classic direction by Sven-Eric Bechtolf is classic and pleasant.

The main singers were Monika Bohinec (First Norna), Ulrike Helzel (Second Norna) and Ildikó Raimondi (Third Norna), who fwere ok without enchantment.

Siegfried was well sung by Christian Franz.

Gunther was Boaz Daniel (good), Gutrune was Regine Hangler (good) and Hagen was Eric Halfvarson (very good).

Waltraute was Anna Larsson, also good.

And Brünhilde was Linda Watson, ok.

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quinta-feira, 1 de abril de 2021

A VALQUÍRIA / DIE WALKÜRE, Ópera de Viena / Wiener Staatsoper, Transmissão / Streaming, Março / March 2021


(Text in English below)

A Ópera de Viena ofereceu-nos esta semana a transmissão das 4 óperas do Anel do Nibelungo de R. Wagner. Aqui deixo as minhas impressões sobre a 2ª ópera do ciclo: A Valquíria.

A encenação de Sven-Eric Bechtolf é clássica e bem conseguida. Em cada acto o cenário mantém-se constante. O 3º acto é o mais original, com os 9 cavalos das valquírias sempre presentes no palco. A direcção musical foi de Adam Fischer.



Os cantores solistas foram todos impressionantes:

O Siegmund foi Christopher Ventris.


A Sieglinde foi Waltraud Meier, sempre ao mais alto nível.


O Hunding foi Ain Anger, excelente.


A Brünhilde foi Linda Watson.


A Fricka foi óptima, Michaela Schuster.




E o Wotan foi Tomasz Konieczny, para mim, o melhor. Tem um timbre muito bonito, canta sempre afinado e em palco é muito bom.

A ópera é um espectáculo para ouvir e para ver, apesar de tudo ser relativamente irreal. Neste caso houve uma grande dissociação entre as personagens e os cantores que as interpretaram: A Sieglinde e o Siegmund muito velhos e, sobretudo, o Wotan que parecia filho da Brünhilde e não o seu pai.

Mas foi um espectáculo excelente.

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THE VALKYRIE / DIE WALKÜRE, Wiener Staatsoper, Streaming, March 2021

This week the Vienna Opera offered us the transmission of the 4 operas of R. Wagner's Ring of the Nibelung. Here I leave my impressions about the 2nd opera of the cycle: The Valkyrie.

Sven-Eric Bechtolf's staging is classic and well accomplished. In each act the scenario remains constant. The 3rd act is the most original, with the 9 horses of the Valkyries always present on the stage. The musical direction was by Adam Fischer.

The soloist singers were all impressive: Siegmund was Christopher Ventris. Sieglinde was Waltraud Meier, always at the highest level. Hunding was Ain Anger, excellent. Brünhilde was Linda Watson. Fricka was great, Michaela Schuster. And Wotan was Tomasz Konieczny, for me, the best. He has a very beautiful timbre, he sings in tune and is very good on stage.

The opera is a spectacle to hear and to see, although everything is relatively unreal. In this case there was a great dissociation between the characters and the singers who played them: Too old Sieglinde and Siegmund and, above all, Wotan who looked like Brünhilde's son and not her father.

But it was an excellent show.

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