sexta-feira, 25 de agosto de 2017

PARSIFAL, Bayreuth, Agosto / August 2017


(text in English below)

O wagner_fanatic concretizou este ano um objectivo de sempre – assistir ao Parsifal em Bayreuth. Aqui ficam alguns dos seus comentários a essa experiência única:



Numa palavra: Mágico! A acústica é fenomenal! A sensação que se sente é que as vozes têm uma projecção maior do que noutros teatros e a orquestra, que como se sabe, não se vê, preenche sonoramente a sala quer quando em forte quer quando em piano, nunca abafando as vozes. Parece que há uma harmonia incapaz de ser quebrada entre a orquestra e as vozes. 


E que récita! O Zeppenfeld foi insuperável, a Pankratova também - os agudos são de tirar o nosso fôlego, sem gritar e conseguindo colocar na voz a emoção de uma maneira que arrepia – que Kundry! E o Andreas Schager, meu Deus, é sublime! O 2º acto foi claramente o melhor que assisti de algum tenor a cantar este papel. Ele é o Parsifal! Tudo lhe sai da alma e sente-se isso, mesmo para alguém que não conheça a obra.


O ritual do festival também é interessante. Tem as fanfarras a anunciar que faltam 10min para começar o acto. Lá dentro o carreiro de luzes por cima das colunas desligam... passado um pouco ouve-se uma campainha, os assistentes fecham as portas que ficam entre as colunas, correm cortinas sobre as portas, as outras luzes nas colunas fecham e começa a magia!



As cadeiras é que são muito desconfortáveis – são mesmo de madeira e, embora tenham um revestimento de veludo, este é muito fino e não ajuda. Tomei um paracetamol antes e acho que me ajudou um pouco mas, mesmo assim, ainda me doeu no final dos actos. 



E, embora eu ache que assim é que fica como Wagner quereria, podia ter legendas... por muito que se conheçam as obras, às vezes perde-se um pouco por não se saber alemão. No Parsifal não sinto tanto isso porque já sei praticamente todas as falas mas, num Tristão ou num Siegfried ou Crepúsculo, perde-se muita informação.






PARSIFAL, Bayreuth, August 2017

Wagner_fanatic has made this year an all-time goal - to watch Parsifal in Bayreuth. Here are some of his comments on this unique experience:

In one word: Magical! The acoustics are phenomenal! The feeling is that the voices have a larger projection than in other theaters and the orchestra, which, as we all know, can not be seen, fills the room either when it is forte or when in piano, never muffling the voices. It seems that there is a harmony that can not be broken between the orchestra and the voices. And what a performance! Zeppenfeld was insurmountable, Pankratova as well - the top notes are to take our breath, without shouting and managing to put the emotion in a voice in a way that shivers – what a Kundry! And Andreas Schager, my god, is sublime! He was clearly the best that I saw among tenors singing this role. He is the Parsifal! It all comes out of his soul and you feel it, even for someone who does not know the opera.

The festival ritual is also interesting. There are fanfares to announce that they have 10 min to start the act. Inside the path of lights above the columns turn off ... after a little bell is heard, the assistants close the doors that remain between the columns, curtains run over the doors, the other lights in the columns close and the magic begins!


The chairs are very uncomfortable - they are really made of wood and although they have a velvet lining, this is very thin and does not help. I took a paracetamol before and I think it helped me a bit, but it still hurt me at the end of the acts. And although I think that's how it goes as Wagner would want it, it could have subtitles ... no matter how much the works are known, sometimes we get lost a little because we do not know German. In Parsifal I do not feel that much because I already know practically all the speeches but in Tristan or Siegfried or Götterdämmerung, much information is lost.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

PARSIFAL, Wiener Staatsoper, Abril / April 2017


(review in English below)


O wagner_fanatic foi ver o Parsifal a Viena e aqui ficam as suas impressões:

Este novo Parsifal de Viena supera em larga escala a encenação anterior. E é uma encenação que se tem que digerir bem porque se não a enquadrarmos devidamente no tempo e na ideia do encenador, corremos o risco de não a entendermos e de facilmente cairmos nos agitares de cabeça em tom reprovador das pessoas que estavam ao meu lado. Fiquei naquele lugar tipo camarote em cima do palco e é espectacular! Temos a orquestra em frente mas a acústica é excelente, uniforme, sem aquela sensação de se estar a ouvir o som só de um ouvido ou então só metade dos instrumentos em forte e o resto muito ao longe. Encostei-me ao pilar e meio de lado vi o palco todo. É quase o equivalente ao Stalls circle da Royal Opera House e uma alternativa mais económica que a plateia mas não menos recompensadora.

A ópera passa-se no início do sec XIX num Hospital Psiquiátrico (Wagner Spital aparece escrito no topo da parede de fundo de janelas altas em tons de verde pastel). Gurnemanz é um Psiquiatra, tem um gabinete à esquerda do palco, com estantes altas com livros, cérebros e uma secretária, tudo ao estilo da época; no início estão vários doentes em maca e a abertura começa com Gurnemanz a por a funcionar uma grafonola. Há aqui algumas semelhanças com a encenação do Guth... Amfortas tem ferida em ambas as regiões temporais. Kundry aparece com um colete de forças meio atado, trazendo o bálsamo clássico e depois da sua intervenção é colocada numa cama de hospital enjaulada. A narração de Gurnemanz é feita para os doentes e, como acontece várias vezes ao longo da ópera, quando há narração de algo que sai um pouco à encenação, desce uma parede de pano, também com impressão da parede de janelas do hospital, onde são projectadas imagens tipo em iluminura e com texto ao lado com fonte de letra fazendo remontar aqueles livros escritos à mão por monges. O Parsifal aparece com armadura de tronco, o cisne é um cisne. O Graal é uma estrutura tipo cúpula metálica e que desce do tecto, tendo também um similar em formato pequeno e que é trazido para o centro do palco, cobrindo um cérebro que se ilumina na celebração pelo Amfortas; quem assiste são os doentes e homens vestidos de fato da época (serão talvez outros médicos ou funcionários do hospital), além do Gurnemanz e Parsifal. Antes do Vom bade... a cama-jaula de Kundry é entregue a Klingsor (vestido de fato, outro médico da altura) que a leva para fora do palco. 



O 2o acto inicia-se com Klingsor e ajudantes sobre um cadáver em maca como que em experiência de neurobiologia, dando carga eléctrica com bateria ao crânio trepanado. Este cadáver virá a revelar-se o da Mãe de Parsifal (Kundry no dueto com Parsifal fala da sua Mãe, diz-lhe que morreu de desgosto, como sabe, e nessa altura destapa este cadáver a que Parsifal assiste). O fundo é o mesmo do hospital psiquiátrico e estão dispostas macas de cadáveres, com pés descalços à vista e com lençol branco por cima. Este primeiro cadáver não reage à experiência e vem o próximo que, ao ser destapado, revela Kundry. Esta acorda com a corrente eléctrica e prossegue a cena clássica mas num gabinete similar ao de Gurnemanz, do outro lado do palco, onde também está uma grafonola mas temos um divã psiquiátrico em vez de secretária. Acho que no fundo são diferentes aspectos das neurociências - um Gurnemanz mais neuropsiquiátrico e um Klingsor mais neurobiológico, e assim se consegue uma diferenciação de ambos os mundos do original. As mulheres flor são os cadáveres que se elevam das macas, vestidas como que com vestidos de renda, que despem, deixando combinações de roupa interior da época. Kundry aparece vestida com traje brilhante, cabelo longo e tiara com duas estruturas circulares parecendo a Princesa Lea da Guerra das Estrelas. No palco está um cérebro branco grande com a lança a trespaçá-lo. No final do acto, Parsifal remove a lança e parte, Klingsor apoia Kundry e coloca-a no divã e observa em postura interpretativa de clínico.

O último acto passa-se novamente com enfermaria no fundo, gabinete do Gurnemanz. Kundry regressa e deita-se em cama de hospital, no centro do palco. Parsifal surge em armadura completa com a lança e escudo. De resto tudo similar ao clássico - lava pés, enxuga com cabelos da Kundry, baptismo pelo Gurnemanz (sempre de bata). A cena final do Amfortas também muito clássica com o caixão do Titurel mas os doentes e médicos (supostamente os cavaleiros), aparecem com armaduras incompletas ou chapéus de cavaleiros da idade média e outros com asas associadas nos capacetes. No final é Kundry que destapa o Graal e a tal cúpula desce sobre o cérebro branco gigante que está no palco desde o início do acto.



No fundo, acho que o encenador transforma o Parsifal numa viagem de constituição da personalidade e da mente. Parsifal é o puro tolo, no fundo é uma mente não educada ou controlada, equivalente à ideia de Id freudiana. Por isso ele mata o cisne, move-o as suas pulsões mas não mede nem conhece a relevância dos seus actos. Amfortas deixou-se também cair às pulsões do Id ao se envolver sexualmente com Kundry e a ferida que tem é na cabeça, regiões temporais, e que são as marcas da lança, lança essa que é do graal e que corresponderá ao Ego e Superego freudianos. A culpa e memória dos actos atormentam-no (dai a ferida temporal - local de gestão da memória). Percebo a razão pela qual o Parsifal vem de armadura numa encenação em que nada terá a ver com tempo cronológico da mesma - a armadura procura simbolizar um Parsifal que no início é só Id (só tem armadura de tronco) mas que após ter visto Amfortas e compreendido o seu sofrimento através do beijo de Kundry, conseguiu formar a sua própria personalidade (ensinamento e dominação do
Id através do exemplo, no fundo aquilo que se vai fazendo aos bebés com o "não" e que funciona como controlador e orientador na formação da personalidade) e toda a armadura é o efeito do ego e superego no seu controlo do Id. Tudo se enquadra bem apesar de poder parecer ridículo e levar a comentários como os das pessoas ao meu lado. É uma metáfora que se enquadra bem e que permite que alguns aspectos clássicos da ópera possam mesmo assim estar presentes. 



Durante a ópera fui tentando compreender isto tudo e tentar ver mais além mas senti que precisava de revisitar as minhas aulas de psiquiatria e tentar compreender mais sobre Freud. Talvez o camo_opera seja a pessoa ideal para a ver e nos ajudar a assimilar a sua mensagem. É uma encenação para se ver várias vezes como a do Guth até se chegar completamente a todos ou quase todos os pormenores como eu senti em Madrid no ano passado, depois de já ter visto a encenação 4 vezes antes...



Em relação à interpretação da encenação acho que pode por que a encenação é sobre a formação da personalidade, com as pulsões do Id freudiano personificados na sucumbência sexual de Amfortas a Kundry e na morte do cisne por Parsifal. O Graal no fundo é a consciência das normas civilizacionais, o papel do ego e superego no controlo dessas pulsões e que são incutidas em cada um de nós pela educação dos pais e pares. Será por isso que Parsifal, iluminado pelo graal, ao ver o sofrimento de Amfortas resultante de imposição do Id ao ego e superego, acaba por passar de puro tolo (regido pelo Id, sem regras) a iluminado, controlado civilizacionalmente por valores simbolizados do ego e superego freudianos. Por isso ele pode aparecer de armadura no 3o acto sem chocar a encenação e sendo fiel à ideia original da ópera. A armadura aqui é simbólica e reflete esse ego e superego con a lança incluida (a lança é parte do graal/ego/superego). No seu percurso até voltar ao Hospital precisa de os ter para sobreviver às adversidades psicológicas do caminho que é a própria vida mas ali no Hospital não precisa (e pode retira-los como acontece) porque é ali no hospital psiquiátrico que a consciência é trabalhada pelo melhor e onde tudo é feito no sentido de abrir a mente às pulsões para as trabalhar e integrar de forma aceite em comunidade. Por isso é que o Amfortas está nesse Hospital. A ferida não sara porque só pode sarar com o exemplo de alguém, com a educação por alguém (como os pais aos filhos no crescimento e modulação da personalidade) e, mais uma vez, com o simbolismo do toque da mente (Amfortas tem a ferida no crânio) pela lança que é o Ego/Superego. Penso que existirá também uma ideia paralela de emancipação das mulheres na encenação. No início do século as mulheres seriam ainda vistas como pouco importantes na sociedade, simbolo do pecado original - bicho sexual (como Kundry sempre foi apresentada na ópera) e nesta encenação, a Kundry não morre no final e sai por uma porta que diz por cima Die Zeit, depois de ser ela a destapar a cúpula do graal - sai pela porta do tempo, um tempo futuro onde a mulher já não é esse símbolo biblico de pecado, e também ela tem esse ego e superego controlando essas pulsões do Id, igual ao homem, e por isso também ela pode fazer tudo o que o homem faz na sociedade.



Do ponto de vista musical achei de nível elevadíssimo. A Orquestra mas esteve bem, embora ache que Bychkov fez mais magia sonora com a orquestra do Teatro Real do que a de Viena - algumas entradas dos metais ligeiramente menos sincronizadas e por vezes uma dinâmica mais apressada.



Em relação às vozes: estiveram todos a um nível estrelar mas, quem mais se destacou foi, sem dúvida, o Rene Pape. Esteve simplesmente genial e de tudo o que já o ouvi fazer em Wagner acho que foi do mais perfeito que se pode esperar. O Gerald Finley é um Amfortas excelente mas o seu primeiro monólogo podia ter sido ainda mais expressivo - muita expressão física mas a vocal tem de ir mais além; este monólogo, na minha opinião, é das passagens mais difíceis de Wagner porque o cantor tem de sair do registo de canto e misturá-lo com discurso quase falado para conseguir ter o efeito sofredor tocante que pede; estou sempre à procura de alguém que o faça como eu gosto mas ainda não foi desta; o último monólogo é mais ou linear e aí esteve excelente; o Klingsor muito bom; Titurel cavernoso mas com excelente dicção; e agora a dupla Kundry - Parsifal :) Este 2o acto foi o mais cativante que eu alguma vez ouvi! O Ventris fez tudo como deve ser, a entoação, os gestos, a expressividade no desprezo ao beijo de Kundry, sentiu-se verdadeiramente a transição de um Parsifal tolo para um iluminado e isso consegue-se com aquela expressividade que eu falava no Amfortas; as coisas só são credíveis se se sair ligeiramente do registo de canto e colocar habilmente nele o registo de discurso; por isso é que eu dou para trás no Vogt e até mesmo no Kaufmann naquele Metlive... a Kundry da Stemme é muito boa, principalmente para quem hoje cantou a sua 2a récita no papel; só achei uma coisa que acho que ela não faz como Isolda ou Brunnhilde e que é, antes de cada agudo da Kundry, faz uma pequena pausa de tipo fracção de segundo como que a preparar a colocação do agudo, o que interrompe a linha melódica e fica feio.





É assim o Parsifal :)



PARSIFAL, Wien Staatsoper, April / April 2017

This new Parsifal of Vienna surpasses in large scale the previous staging. And it is a staging that has to be digested well because if we do not fit it properly in the time and the idea of ​​the director, we run the risk of not understanding it and easily fall into the head shakes in disapproving tone like the people who were seating next to me. I stayed in that cabin-like place on the stage and it's awesome! We have the orchestra in front of us but the acoustics are excellent, even without that feeling of hearing the sound of only one ear or only half of the instruments are strong and the rest far away. I leaned against the pillar and half a side saw the whole stage. It is almost equivalent to the Stalls circle of the Royal Opera House and a more economic alternative but not less rewarding.

The opera takes place at the beginning of the 19th century in a Psychiatric Hospital (Wagner Spital appears written on top of the back wall of tall windows in shades of pastel green). Gurnemanz is a Psychiatrist, has a cabinet to the left of the stage, with tall bookcases with books, brains and a desk, all in the style of the time; At the beginning there are several patients in stretcher and the opening begins with Gurnemanz to put to play an old record player. There are some similarities here to the staging of Guth ... Amfortas has wounds in both temporal regions. Kundry appears with a half-tied waistcoat, bringing the classic balm and after her intervention she is placed on a caged hospital bed. Gurnemanz's narration is made for the sick and, as it happens several times throughout the opera, when there is narration of something that goes out a little to the staging, a wall of cloth descends, with impression of the windows of the hospital, where are projected type images in illuminated and with text to similar to letter font of old books written by hand by monks. Parsifal appears in trunk armor, the swan is a swan. The Grail is a metallic dome-like structure that descends from the ceiling, also having a similar one in small format and that is brought to the center of the stage, covering a brain that lights up in the celebration by Amfortas; Those who watch are the sick and men dressed in dresses of the time (they will perhaps be other doctors or hospital employees) besides Gurnemanz and Parsifal. Before Vom bade ... Kundry's cage bed is delivered to Klingsor (dressed in suit, another doctor of the day) who takes her off the stage.

The 2nd act begins with Klingsor and helpers on a corpse in litter as if in neurobiology experience, giving electric charge with battery to the operated skull. This corpse will turn out to be that of the Mother of Parsifal (Kundry in the duet with Parsifal speaks of his Mother, tells him that she died of sorrow, and at that time uncovers the corpse and Parsifal watches). The bottom is the same as the psychiatric hospital and body beds are laid out, with bare feet in sight and with white sheets on top. This first corpse does not react to the experience and comes the next that, when uncovered, reveals Kundry. This wakes up with the electric current and continues the classic scene but in a cabinet similar to that of Gurnemanz, on the other side of the stage, where there is also a gramophone, but we have a psychiatric couch instead of a desk. I think deep down are different aspects of the neurosciences - a more neuropsychiatric Gurnemanz and a more neurobiological Klingsor, and thus a differentiation of both worlds of the original is obtained. The flower women are the corpses that rise from the stretchers, dressed as if in lace dresses, which undress, leaving combinations of underwear of the time. Kundry appears dressed in bright costume, long hair and a tiara with two circular structures resembling Princess Leia of Star Wars. On the stage is a big white brain with the spear to trespass it. At the end of the act, Parsifal removes the lance and parts, Klingsor supports Kundry and places her on the couch and observes her as a clinician.

The last act has again the infirmary in the background, Gurnemanz's office. Kundry returns and lies in a hospital bed in the center of the stage. Parsifal comes in full armor with the spear and shield. Besides everything similar to the classic - washes feet, wipes with hair from Kundry, baptism by Gurnemanz (always in suit). The final scene of Amfortas is also very classic with Titurel's coffin but the sick and medical (supposedly the knights) appear with incomplete armor or hats of middle-aged knights and others with associated wings on helmets. In the end it is Kundry who uncovers the Grail and such a dome descends on the giant white brain that has been on stage since the beginning of the act.

After all, I think the director makes Parsifal´s a journey of constitution of personality and mind. Parsifal is the pure fool, is an uneducated or controlled mind, equivalent to the idea of ​​Freudian Id. So he kills the swan, moves his drives but does not measure or know the relevance of his actions. Amfortas also let himself fall to the drives of the Id when engaging sexually with Kundry, and the wound he has is in the head, temporal regions, which are the marks of the spear, and which correspond to the Freudian Ego and Superego. The guilt and memory of the acts torment him (hence the temporal wound - place of memory management). I realize the reason why Parsifal comes in armor in a staging in which nothing has to do with chronological time - the armor seeks to symbolize a Parsifal that at first is only Id (only has trunk armor) but after having seen Amfortas and understanding his suffering through Kundry's kiss, he was able to form his own personality (teaching and domination of the Id go through the example, in the background what is done to babies with the "no" and that functions as controller and guiding in the formation of the personality) and the whole armature is the effect of the ego and superego in its control of the Id. Fits well even though it may seem ridiculous and lead to comments like those of people by my side. It is a metaphor that fits well and that allows some classic aspects of opera to still be present.

During the opera I tried to understand all this and try to see further, but felt that I needed to revisit my psychiatry classes and try to understand more about Freud. Maybe camo_opera is the ideal person to interpret this staging and help us assimilate the message. It is a staging to see several times like Guth's until it reaches completely or almost every detail as I felt in Madrid last year, after already having seen the staging 4 times before ...

Concerning the interpretation of the staging I think it may be because the staging is about the formation of the personality, with the drives of the Freudian Id personified in the sexual approach of Amfortas to Kundry and in the death of the swan by Parsifal. The Grail in the background is the awareness of civilizational norms, the role of the ego and superego in the control of these drives and which are instilled in each of us by the education of parents and peers. This is why Parsifal, enlightened by the grail, seeing the suffering of Amfortas resulting from the imposition of the Id to the ego and superego, ends up going from pure fool (ruled by the Id, without rules) to enlightened, civilizationally controlled by symbolized values ​​of the ego And super-ego. So he can appear in armor in the 3rd act without hatching the staging and being faithful to the original idea of ​​the opera. The armor here is symbolic and reflects that ego and superego with the spear included (the spear is part of the grail / ego / superego). On his way back to Hospital he needs to have them to survive the psychological adversities of the path that is life itself, but there he does not need to (and can take them away) because it is there in the psychiatric hospital that the conscience is worked by the better and where everything is done in order to open the mind to the drives to work them and to integrate in an accepted way in community. That's why Amfortas is at this hospital. The wound will not heal because it can only heal by someone's example, by education by someone (such as parents to children in the growth and modulation of personality) and, again, by the symbolism of the touch of the mind (Amfortas has the wound in the skull) by the spear that is the Ego / Superego. I think there will also be a parallel idea of ​​the emancipation of women in staging. At the beginning of the century women would still be seen as unimportant in society, a symbol of original sin - sexual beast (as Kundry was always introduced in the opera) and in this staging, Kundry does not die at the end and goes out through a door that says over Die Zeit, after being uncovering the dome of the grail - goes out the door of time, a future time where the woman is no longer this biblical symbol of sin, and also she has that ego and superego controlling these drives of Id, equal to man, and therefore also she can do everything that man does in society.

From a musical point of view I found it to be extremely high. The Orchestra has done well, though it seems Bychkov has done more sound magic with the Teatro Real of Madrid orchestra than Vienna - some metal inputs slightly less synchronized and sometimes more rushed.

Regarding the voices: they were all at a star level, but the one who stood out most was, without a doubt, Rene Pape. He was simply brilliant and from everything I've heard him do in Wagner I think it was the most perfect thing to look forward to. Gerald Finley is an excellent Amfortas but his first monologue could have been even more expressive - a lot of physical expression but the vocal has to go further; This monologue, in my opinion, is of Wagner's most difficult passages because the singer has to leave the singing register and mix it with almost spoken speech to achieve the touching suffering effect he asks; I'm always looking for someone to do it as I like it, but it has not been this way; The last monologue is more linear and there he was excellent; Klingsor was very good; A cavernous Titurel but with excellent diction; And now the pair Kundry - Parsifal :) This 2nd act was the most captivating I've ever heard! Ventris did everything as it should be, the intonation, the gestures, the expressiveness in the contempt for Kundry's kiss, it was truly felt the transition from a foolish Parsifal to an enlightened one, and this is achieved with that expressiveness I spoke about Amfortas; Things are only credible if one leaves the singinig register slightly and cleverly places the speech register on it; That's why I criticize Vogt and even Kaufmann in that Metlive ... Kundry of Stemme is very good, especially taking into consideration that today she sang her second Kundry; I only find one thing that I think she does not do as Isolda or Brunnhilde and that is, before each top note of Kundry, she makes a small fraction of second type pause like that to prepare the placement of the top note, which interrupts the melodic line and gets ugly.


This is Parsifal :)

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

DON CARLO, Royal Opera House, Londres / London, Maio / May de 2017


(review in english below)

aqui foi comentada esta produção do Don Carlo de Verdi que tive oportunidade de rever na Royal Opera House. A encenação de Nicholas Hynter é muito boa o que ajuda muito ao espectáculo, embora o auto-da-fé tenha sido muito modificado, para pior.

O maestro foi Bertrand de Billy não foi empolgante e ofereceu-nos uma direcção frouxa da orquestra que, como o coro, estiveram ao mais alto nível.



Carlos foi interpretado pelo tenor americano Bryan Hymel e foi um dos melhores da noite. A voz é magnífica, timbre muito bonito, agudos longos, excelentes e interpretação emotiva.

A Elizabeth foi o soprano americano Kristin Lewis (que substituiu Krassimira Stoyanova) e ficou aquém das minhas elevadas expectativas. A cantora tem uma boa presença cénica, mas a voz não tem um timbre bonito e a emissão foi, por vezes, irregular. Fez-se sempre ouvir mas, quando cantou em forte, a voz saiu áspera e gritada. A ROH não acerta numa Elizabeth ao mais alto nível!

O Rodrigo foi a melhor surpresa da noite. Foi interpretado pelo barítono alemão Christoph Pohl (que desconhecia e substituindo Ludovic Tézier). O cantor tem uma voz magnífica, um timbre de invulgar beleza e foi excelente na forma convincente e apaixonada como interpretou a personagem. Um nome a seguir com atenção.

O mezzo russo Ekaterina Semenchuk foi uma Eboli que, no início, começou algo reservada, com alguma dificuldade na coloratura da ária inicial, mas cresceu e terminou em grande com um O Don Fatale excelente na interpretação cénica e vocal.

Quanto aos baixos houve grandes diferenças. O russo Ildar Abdrazakov foi um Filipe II excelente, a voz é magnífica, a interpretação também o foi e o desempenho cénico irrepreensível. Mas o cantor é muito jovem para o papel e, mesmo caracterizado, é notória a juventude. Foi brilhante na ária Ella giammai m’amo.
Já o Grande Inquisidor do georgiano Paata Burchuladze foi uma desgraça, dado que o cantor praticamente não tem voz! Foi uma pena este papel não ter sido atribuído ao jovem italiano Andrea Mastroni que interpretou ao mais alto nível o curto papel de Carlos V. A inversão dos intérpretes teria melhorado substancialmente a récita.







Mas, no cômputo final, foi um muito bom espectáculo.

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DON CARLO, Royal Opera House, London, May 2017

This production of Don Carlo by Verdi that I had the opportunity to review at the Royal Opera House was commented here. Nicholas Hynter's staging is very good which helps the show a lot, although auto-da-fé has been greatly modified, for the worse.

The conductor, Bertrand de Billy, was not exciting and offered us a loose direction of the orchestra that, like the choir, were at the highest level.

Carlos was sung by American tenor Bryan Hymel and he was one of the best of the night. The voice is magnificent, very beautiful timbre, long, excellent top notes and emotive interpretation.

Elizabeth was American soprano Kristin Lewis (who replaced Krassimira Stoyanova) and fell short of my high expectations. The singer has a good stage presence, but the voice does not have a beautiful timbre and the emission was sometimes irregular. She always made herself heard, but when she sang in forte, her voice was rough and shrieked. ROH does not hit an Elizabeth at the highest level!

Rodrigo was the best surprise of the night. He was interpreted by the German baritone Christoph Pohl (unknown for me and replacing Ludovic Tézier). The singer has a magnificent voice, a timbre of unusual beauty and was excellent in the convincing and passionate way he played the character. A name to follow closely.

Russian mezzo Ekaterina Semenchuk was an Eboli who, at first, began somehow reserved, with some difficulty in the coloratura of the initial aria, but grew and finished in great with an excellent O Don Fatale both in stage and vocal interpretation.

As for the basses there were big differences. Russian Ildar Abdrazakov was an excellent Philip II, the voice is magnificent, the interpretation was as well, and the performance excellent. But the singer is too young for the role and even characterized, his youth is notorious. He was brilliant in the aria Ella giammai m'amo.
The Grand Inquisitor of the Georgian Paata Burchuladze was a disgrace, since the singer has practically no voice! It was a shame this role was not attributed to the young Italian Andrea Mastroni who interpreted at the highest level the short role of Charles V. The inversion of the interpreters would have substantially improved the recital.

But it was a very good performance.


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