quarta-feira, 26 de julho de 2017

DON GIOVANNI, METropolitan Opera, Abril / April 2017


 (review in English below)

Após ter visto em Outubro passado a produção de Michael Grandage do Don Giovanni de W.A. Mozart na Metropolitan Opera de Nova Iorque, tive oportunidade de a rever 7 meses depois, com novo maestro e novos intérpretes. Infelizmente, a qualidade deficiente do espectáculo não melhorou substancialmente.



Como escrevi aqui, é uma encenação clássica, feia, escura e pouco imaginativa, passada numa cidade espanhola no Sec. XVIII (assim diz o programa). Mas apenas se vêm três andares de janelas exteriores. Há alguma mobilidade do palco mas nada é  interessante. Apenas a cena final em que o Don Giovanni é consumido pelas chamas foi um pouco diferente da rotina em que tudo o resto decorreu, mas ainda assim sem originalidade.

A direcção musical foi de Placido Domingo. Como cantor, é uma referencia incontornável nas últimas décadas e, penso que por isso, é tolerado como maestro nesta grande catedral da ópera. Mas a direcção musical da excelente Orquestra da Metropolitan Opera foi má. Sempre muito “empastelada” desde a abertura, desencontros frequentes e sem alma mozartiana.



Em relação aos solistas, mais uma vez, um conjunto heterogéneo de cantores:

A soprano Angela Meade foi um erro de casting na Donna Anna. A voz é grande, afinada e sempre bem audível sobre a orquestra. Mas é totalmente desprovida da sensibilidade e lirismo da personagem. Meade é uma boa intérprete verdiana, mas Mozart não é para ela. Em cena foi um traste.



Pelo contrário, a soprano Marina Rebeka foi uma Dona Elvira de grande qualidade. Tem de voz lírica sempre afinada, de timbre muito agradável e uma presença em palco muito boa.



A Zerlina da mezzo Isabel Leonard foi também muito boa. A cantora tem uma voz agradável, muito expressiva, sempre bem audível. E também representou ou papel, não se limitando a cantar.



O Don Giovanni foi interpretado pelo barítono Mariusz Kwiecien. Fez um Don Giovanni de voz potente e bem timbrada, sempre audível sobre a orquestra. Foi convincente na prestação cénica, encarnando uma personagem vil e sem escrúpulos. Excelente.



O baixo Erwin Schrott fez um Leoporello muito agradável. Muito bem vocalmente, foi um verdadeiro actor cómico em todo o espectáculo.

 


O tenor Matthew Polenzani fez um Don Ottavio aceitável. A voz tem um timbre agradável mas a emissão foi algo irregular e cenicamente cumpriu sem deslumbrar.



Os dois baixos tiveram interpretações distintas. Jeongcheol Cha foi um Masetto de voz feia e frequentemente abafada pela orquestra 



mas Stefan Kocan impôs a sua qualidade vocal como Comendador.










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DON GIOVANNI, METropolitan Opera, April 2017

After seeing Michael Grandage's production of Don Giovanni by W.A. Mozart last October at the Metropolitan Opera in New York, I had the opportunity to review it 7 months later with a new conductor and new interpreters. Unfortunately, the poor quality of the show has not improved substantially.

As I wrote here, it is a classic, ugly, dark and unimaginative staging, played in a Spanish city in the XVIII Century (so says the program). But we only see three floors of exterior windows. There was some stage mobility but nothing interesting. Only the final scene in which Don Giovanni was consumed by the flames was a little different from the routine in which everything else took place, but still without originality.

The musical direction was by Placido Domingo. As a singer, he has been a reference in the last decades and I think that is the reason why he is tolerated as a conductor in this great cathedral of the opera. The musical direction of the excellent Orchestra of the Metropolitan Opera was bad. Always very "jammed" since the overture, frequent small disconnections and no mozartian soul.

Concerning the soloists, once again, a heterogeneous set of singers:

Soprano Angela Meade was a casting error as Donna Anna. The voice is large, tuned and always well audible over the orchestra. But she is totally devoid of the character's sensitivity and lyricism. Meade is a good Verdian interpreter, but Mozart is not for her. On stage she was also to forget.

On the contrary, soprano Marina Rebeka was a high-quality Dona Elvira. She has a lyrical voice always in tune, with a very pleasant tone and a very good stage presence.

Zerlina by mezzo Isabel Leonard was also very good. The singer has a pleasant voice, very expressive, always well audible. And she also played the character, not just singing.

Don Giovanni was interpreted by baritone Mariusz Kwiecien. He was a Don Giovanni with a powerful and well-marked voice, always audible over the orchestra. He was convincing in the scenic performance, embodying a vile and unscrupulous character. Excellent.

Bass Erwin Schrott was a very pleasant Leoporello. Very well vocally, he was a real comic actor in the whole performance.

Tenor Matthew Polenzani was an acceptable Don Ottavio. The voice has a nice timbre but the emission was something irregular and on stage he was ok without dazzling.

The two basses had different interpretations. Jeongcheol Cha was a Masetto with an ugly voice and often muffled by the orchestra but Stefan Kocan imposed his vocal quality as Commendatore.


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quarta-feira, 19 de julho de 2017

LA FILLE DU RÉGIMENT, Liceu, Barcelona, Maio / May 2017


(review in English below)

Mais uma vez tive oportunidade de assistir a esta encenação de Laurent Pelly da ópera La Fille du Régiment de Donizetti. É um espectáculo muito agradável, bem concebido e divertido, sobre o qual já se escreveu neste blogue aqui, aqui e aqui.





Desta vez a direcção musical, aceitável, foi do maestro Giuseppe Finzi que, quando subiu ao palco para agradecer os aplausos, tropeçou num dos adereços do solo e estatelou-se no chão, o que raramente se vê.



Aliás, este não foi o único incidente cénico. No primeiro acto, uma das botas do Tonio desapertou-se e os longos cordões arrastavam-se pelo chão o que, nas cenas com vários intervenientes (coro) também provocou vários tropeções mas, felizmente, sem quedas.

A Marie foi interpretada pela espanhola Sabina Puértolas. Foi uma boa interpretação, o papel de soprano lírico é muito exigente e esteve quase sempre em grande nível. Apenas no registo mais agudo por vezes o som era algo nasalado e perdia qualidade. Em palco foi a melhor. A figura ajuda muito e a encenação também.



O tenor mexicano Javier Camarena foi um Tonio estupendo. Tem um timbre vocal muito bonito, a voz é extensa e intensa e ouve-se sempre sobre a orquestra. Na mais famosa ária da ópera Pour mon ame foi excelente e recebeu uma ovação de quase 10 minutos. Repetiu a ária e, na repetição, foi ainda melhor. Foi, de longe, o melhor cantor da noite.



A Marquesa de Berkenfield foi interpretada pela contralto polaca Ewa Podles. A senhora tem uma voz com um registo grave impressionante e cumpriu o papel com correcção.



O baixo barítono italiano Simone Alberghini foi um Sulpice de voz muito agradável e muito boa presença cénica.



O Hortensius do barítono espanhol Isaac Galán tem um papel pequeno mas esteve ao nível dos restantes.



Foi um espectáculo muito agradável, mas não a obra prima que presenciei quando assisti à mesma produção cantada pela Natalie Dessay e pelo Juan Diego Florez.








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LA FILLE DU RÉGIMENT, Liceu, Barcelona, ​​May 2017

Once again I had the opportunity to see the opera La Fille du Régiment by Donizetti in the staging/direction by Laurent Pelly of. It's a very nice production, well designed and entertaining, which has already been commented on this blog here. here and here.

In this performance the musical direction was ok, by maestro Giuseppe Finzi who, when appeared on stage to thank the applause, stumbled on one of the props of the ground and fell on the ground, which is rarely seen.

Incidentally, this was not the only stage incident. In the first act, one of Tonio's boots loosened and the long strings dragged on the floor which, in the scenes with several players (choir) also caused several stumbles but, fortunately, without any falls.

Marie was interpreted by Spanish singer Sabina Puértolas. She was a good performer, the role of lyric soprano is very demanding and she was almost always at her best. Only in the top notes was the sound sometimes nasal and lost quality. On stage she was the best. The figure helps a lot and the staging also.

Mexican tenor Javier Camarena was a great Tonio. He has a very beautiful vocal tone, the voice is extensive and intense and is always heard over the orchestra. In the most famous aria of the opera Pour mon ame he was excellent and received an ovation of almost 10 minutes. He repeated the aria and, in the second time, he was even better. He was by far the best singer of the night.

Marquise of Berkenfield was Polish contralto Ewa Podles. She has a voice with an impressive low register and interpreted the role with correction.

Italian bass baritone Simone Alberghini was a Sulpice with a very pleasant voice and very good stage presence.

Hortensius by the Spanish baritone Isaac Galán plays a small role but was at the quality level of the other soloists.

It was a very good performance, but not the masterpiece I witnessed when I saw the same production sung by Natalie Dessay and Juan Diego Florez.


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quarta-feira, 12 de julho de 2017

RIGOLETTO, METropolitan Opera, Abril / April 2017



 (Review in English below)

Rigoletto de Verdi esteve em cena na Metropolitan Opera House de Nova Iorque em Abril de 2017.
A acção trazida para os anos 60 da década passada em Las Vegas, passada em casinos e outras casas de diversão. A encenação é de Michael Mayer, muito vistosa e eficaz. Os anúncios luminosos são de belo efeito. Os elevadores laterais no palco também. O Duque é dono e entertainer de um casino, Rigoletto um comediante. O Monterone é um árabe que, ao ser preso, lança a maldição ao Rigoletto. A casa onde mantém a filha Gilda é num 5º andar, acessível por um elevador na parte lateral do palco. O rapto da Gilda é feito pelos empregados do Duque, depois de subornarem a empregada Giovanna.




No final o Rigoletto vai a casa do Sparafucile, assassino profissional, um clube nocturno nos arredores da cidade, e encomenda a morte do Duque, que está na casa a divertir-se com Maddalena, irmã do assassino. A pedido da irmã, Saprafucile concorda em não assassinar o Duque mas outra pessoa que apareça. É uma noite de tempestade, muito bem conseguida com os efeitos luminosos, e quem aparece vestida de homem é a Gilda. Após ser ferida mortalmente, é colocada no porta bagagens de um carro da época. O final é convencional.



O maestro foi Pier Giorgio Morandi. No início houve alguns desencontros entre a orquestra e cantores mas, a partir do 2º acto, melhorou substancialmente.

O Duque foi o tenor Joseph Calleja. A voz é potente mas algo monocórdica e o timbre mais caprino que nunca. Em palco não transmitiu qualquer emotividade nas diferentes cenas, nomeadamente quando contracenou com a Gilda.



O barítono Zeljko Lucic foi um excelente Rigoletto. Tem um timbre belíssimo, voz grande e transmitiu todo o rol de sentimentos por que vai passando ao longo da ópera.



A Gilda foi interpretada pela soprano Olga Peretyatko. Outra decepção. Tem uma voz relativamente pequena, não é bonita, mas o pior é a emissão muito irregular. Apesar de ter uma boa figura para a personagem e da grande agilidade em palco, não foi convincente.



Nos papéis secundários, os mezzos Maria Zfichak como Giovanna e Nancy Fabiola Herrera como Maddalena cumpriram sem deslumbrar. Também Jeff Mattsey fez um Marullo banal e que mal se ouviu.



Ao mais alto nível estiveram os dois baixos, Robert Pomakov como Monterone e, sobretudo, Stefan Kocan como Sparafucile. Vozes imponentes, registo mais grave impressionante e excelente presença em palco.







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RIGOLETTO, METropolitan Opera, April 2017

Verdi's Rigoletto was on stage at the Metropolitan Opera House in New York in April 2017.
The action was brought to the 60's of the past decade in Las Vegas, spent in casinos and other houses of pleasure. The staging is by Michael Mayer, very showy and effective. The light advertisements are of good effect. The side elevators on stage also. The Duke owns and is an entertainer of a casino, Rigoletto a comedian. Monterone is an Arab who, when arrested, casts a curse on Rigoletto. The house where her daughter Gilda is kept is on the 5th floor, accessible by an elevator on the side of the stage. The abduction of Gilda is done by the Duke's employees, after bribing his maid Giovanna.
In the end Rigoletto goes to Sparafucile's house, a professional assassin, a nightclub on the outskirts of the city, and orders the death of the Duke, who is in the house to have fun with Maddalena, sister of the murderer. At her sister's request, Saprafucile agrees not to assassinate the Duke but another person to appear. It's a stormy night, very well staged with the light effects, and who appears dressed as a man is Gilda. After being mortally wounded, she is placed in the luggage compartment of a car of the time. The final is conventional.

The maestro was Pier Giorgio Morandi. At the beginning there were some disconnections between the orchestra and singers but, from the 2nd act on, it improved substantially.

The Duke was tenor Joseph Calleja. His voice is potent but monochromatic and the timbre more caprine than ever. On stage he did not transmit any emotion in the different scenes, especially when he interacted with Gilda.

Baritone Zeljko Lucic was an excellent Rigoletto. He has a beautiful timbre, a great voice and transmitted all the roll of feelings that go through the opera.

Gilda was performed by soprano Olga Peretyatko. Another disappointment. She has a relatively small voice, not pretty, but the worst is the very irregular emission. Despite having a good figure for the character and a great agility on stage, she was not convincing.

In secondary roles, mezzos Maria Zfichak as Giovanna and Nancy Fabiola Herrera as Maddalena were ok. Jeff Mattsey was a barely heard Marullo.

At the top level were the two basses, Robert Pomakov as Monterone and Stefan Kocan as Sparafucile. Stunning voices, impressive low register and excellent stage presence.


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