A Madama Butterfly foi novamente levada à
cena na Royal Opera House. Não sendo
uma das minhas óperas favoritas de Puccini,
foi um espectáculo excepcional, daqueles que nos enche a alma de prazer e satisfação.
E os motivos foram muitos. A produção de
2003 de Patrice Caurier e Moshe Leiser e que já foi comentada neste blogue,
aqui, foi melhorada. É uma encenação muito agradável, fiel ao libretto, sem
grandes exuberâncias cénicas e sem abordar quer a pobreza, quer a exploração
sexual da Cio Cio San. Contudo, tem vários momentos de grande beleza visual,
nomeadamente o final dos dois primeiros actos.
O maestro
titular, Antonio Pappano, (Sir
Antonio Pappano, desculpem) dirigiu a orquestra de forma superlativa, impondo
as cadências certas em cada momento. A orquestra respondeu ao mais alto nível,
oferecendo-nos uma interpretação emotiva, insuperável.
A soprano
albanesa Ermonela Jaho, que já
várias vezes elogiei neste blogue, fez uma Cio Cio San arrasadora. A cantora
tem uma voz muito bonita, de timbre claro e grande versatilidade. Os
pianíssimos são fabulosos mas é segura em todos os registos. Transmite na
perfeição toda a cascata de sentimentos da mais sofrida heroína de Puccini.
É frágil e inocente no início e no dueto de amor do final do primeiro acto é
fabulosa. Mostra-nos depois uma sucessão emotiva de sentimentos negativos, do desencanto
ao desespero total numa interpretação de levar às lágrimas. Uma das melhores
interpretações da Butterfly que vi até à data.
O tenor argentino
Marcelo Puente foi o vilão Pinkerton
que teve uma interpretação de grande qualidade. O timbre é escuro, agradável e,
apesar de algo estático na presença em palco, foi excelente no dueto de amor do
primeiro acto e convincente no arrependimento final.
A Suzuki foi
interpretada pela mezzo americana Elisabeth
DeShong. Cantora de voz fabulosa, quente, expressiva e enorme, foi
excelente na demonstração de firmeza mas obediência à Butterfly. Uma das
melhores da noite.
Scott Hendrics foi um Sharpless correcto que revelou bem a sua
impotência em lidar com uma situação que lhe saiu do controlo.
Os papéis
secundários foram bem entregues a Jeremy
White como Bonze, Carlo Bosi
como Goro, Yuriy Yurchuk como
Príncipe Yamadoro e Emily Edmonds
como Kate Pinkerton.
Uma Butterfly
memorável na Royal Opera House!
*****
Madama
Butterfly - Royal Opera House, London, March 2017 / London, March 2017
Madama Butterfly was again taken to the scene at the Royal Opera House. Not being one of my
favorite operas by Puccini, it was
an exceptional performance, one that fills our soul with pleasure and
satisfaction. And the reasons were many. The 2003
production of Patrice Caurier and Moshe Leiser and which has already been
commented on this blog here, has been improved. It is a very pleasant staging, according
to the libretto, without great scenic exuberance and without addressing either
the poverty or the sexual exploitation of Cio Cio San. However, it has several
moments of great visual beauty, namely the end of the first two acts.
The
conductor, Antonio Pappano, (Sir
Antonio Pappano, sorry) directed the orchestra superlatively, imposing the correct
cadences in every moment. The orchestra responded at the highest level,
offering us an emotional, insurmountable interpretation.
Albanian
soprano Ermonela Jaho, who I have
several times praised in this blog, was a fabulous Cio Cio San. The singer has
a very beautiful voice, with clear tone and great versatility. The pianissimi are fabulous but she is fantastic
on all levels. She transmits to perfection the whole cascade of feelings of the
most suffering character of Puccini. She is fragile and innocent at the
beginning, and the love duet of the end of the first act was fabulous. She then
shows us an emotional succession of negative feelings, from disenchantment to
total despair in an touching to tears performance. One of the best Butterfly’s performance
I've seen to date.
Argentine
tenor Marcelo Puente was the villain
Pinkerton who had a performance of great quality. The timbre is dark, pleasant
and, despite some static posture on stage, he was excellent in the love duet of
the first act and convincing in the final regret.
Suzuki was
interpreted by American mezzo Elisabeth
DeShong. Fabulous, warm, expressive, and enormous voice singer, she was
excellent in showing firmness but obedience to Butterfly. One of the best of
the night.
Scott Hendrics was a correct Sharpless who revealed well his
impotence in dealing with a situation that got out of his control.
The
secondary roles were well performed by Jeremy
White as Bonze, Carlo Bosi as
Goro, Yuriy Yurchuk as Prince
Yamadoro and Emily Edmonds as Kate
Pinkerton.
A memorable
Madama Butterfly at the Royal Opera House!
*****
Por sugestão sua motivada pela Suor Angelica, vi a Butterfly de Jaho no Liceu há uns anos e, como lhe disse, fiquei arrasado. Vi entretanto outras intetpretações da Butterfly, incluindo a da Hui He na encenação de Minghella, e nem houve comparação possível. A Butterfly de Jaho emana emoção, sobretudo no acto II e, com base em gravações, considero que está entre as melhores de sempre.
ResponderEliminarÉ verdade Plácido Zacarias, a Jaho é uma cantora fabulosa, sobretudo no verismo. E teve mais sorte que eu, dado que conseguiu "ouver" a sua Butterfly bem mais cedo que eu.
EliminarEmbora se trate de uma encenação datada de 2003 é forçoso reconhecer a esta produção de Moshe Leiser e Patrice Caurier um inegável carácter de intemporalidade. Mas é sobretudo pelas extraordinárias interpretações de Ermonela Jaho e Elizabeth DeShong que o espectáculo permanecerá sem dúvida na nossa memória.
ResponderEliminarComo complemento desta inolvidável experiência ficará também a excepcional qualidade da realização da transmissão, integrando inteligentemente momentos de registo ao vivo e sequências registadas anteriormente.
Entre estas últimas merecem menção especial os magníficos extractos do trabalho de preparação e ensaio com Pappano e Jaho.
Compreendemos assim melhor a importância que pode ter para o resultado final a direcção dos cantores quando, como é o caso, ela existe e é feita com inteligência e sensibilidade ímpares.
O contraste com as transmissões do MET é abissal.
JAM
Ao vivo, a Jaho foi estratosférica e a DeShong arrasadora. Houve umas projecções erráticas de luzes que, seguramente relacionadas com a transmissão para o mundo, não percebi a utilidade (mas também não perturbaram muito). Uma encenação muito fiel e funcional e duas interpretações femininas que não serão esquecidas tão cedo!
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