(texto in English below)
Foi com grande
expectativa que assisti à nova produção da Norma
de V. Bellini na Royal Opera House em Londres. É uma das
óperas do belcanto que mais gosto e não saí defraudado.
A encenação de Àlex Ollé (La Fura dels Baus) é vistosa
mas bizarra. Toda a acção decorre numa espécie de “templo”. O palco está
rodeado, de crucifixos, mais de 1000 no total, assim permanecendo durante toda
a ópera. Os druidas vestidos com trajos sugestivos de uma seita religiosa (por
vezes fazendo lembrar o Ku Klux Klan) alternando com roupa contemporânea, e os
romanos com fardas militares.
A acção passa-se na actualidade, o que fica bem
claro quando, no início do 2º acto, aparecem os filhos da Norma no quarto com
uma televisão moderna e com brinquedos actuais, engenhosamente situado por baixo
do “templo” onde decorre a restante acção. O momento de maior impacto visual
acontece quando a Norma, numa plataforma elevada, canta a Casta diva, enquanto
um enorme turíbulo oscila pelo palco espalhando incenso, momento possivelmente
inspirado na catedral de Santiago de Compostela.
A direcção
musical de Antonio Pappano foi muito
boa, orquestra e coro ao mais alto nível.
A soprano búlgara
Sonia Yontcheva (substituiu a
Netrebko que estava inicialmente anunciada) foi uma Norma assombrosa. A voz é
de uma beleza e pureza ímpares, transmitindo de forma muito expressiva todas as
emoções da personagem. Sempre audível sobre a orquestra (e o Pappano bem podia
ter reduzido o volume) foi insuperável. A melhor da noite e uma interpretação
de referencia.
Sem ter uma voz
suave como outros tenores de topo, Joseph
Calleja foi um Pollione excelente. A voz é enorme, o timbre bem marcado e algo
“caprino”, mas para o papel deste militar adequa-se bem. Como sempre, nada
falha na interpretação e a emissão parece sem qualquer esforço.
A Adalgisa foi
interpretada pela mezzo italiana Sonia
Ganassi. Cumpriu sem destoar, teve uma interpretação muito boa, mas não
esteve ao nível superlativo da Yoncheva.
Nos papéis
secundários todos estiveram bem, Brindley
Sherratt como Oroveso, Vlada Borovko
como Clotilde e David Junghoon Kim
como Flavio.
Vocalmente, uma
excelente Norma, numa encenação vistosa mas algo bizarra.
*****
NORMA,
Royal Opera House, London, September 2016
It was with
great expectation that I attended the new production of V. Bellini's Norma at the Royal
Opera House in London. It is one of my favourite belcanto operas and I was
not defrauded.
The staging
of Àlex Ollé (La Fura dels Baus) is
fine but bizarre. All the action took place in a kind of "temple."
The stage was surrounded by crucifixes, more than 1,000 in total, and remained
so throughout the opera. Druids appeared dressed in costumes suggestive of a
religious sect (sometimes reminiscent of the Ku Klux Klan) alternating with
contemporary clothing, and the Romans in military uniforms. The action takes
place in the present, which was clear when, at the beginning of the 2nd act, Norma’s
children appeared in the bedroom with a modern TV and toys, ingeniously located
under the "temple". The moment of greatest visual impact occurred
when Norma, on a raised platform sang Casta
diva, while a huge censer swinged the stage spreading incense, an action possibly
inspired in the cathedral of Santiago de Compostela.
Musical
direction of Antonio Pappano was
very good, orchestra and choir were at the highest level.
Bulgarian
soprano Sonia Yontcheva (who replaced
Netrebko initially announced) was an amazing Norma. The voice is of a beauty
and unique purity, transmitting very expressively all emotions. Always audible
over the orchestra (and Pappano could well have reduced the volume) was
unsurpassed. The best of the night and a reference performance.
Without a
soft voice as other top tenors Joseph
Calleja was an excellent Pollione. The voice is huge with a characteristic
and peculiar timbre, but in the role of the militar is well suited. As always,
nothing fails in his vocal interpretation and the singing always seems
effortless.
Adalgisa
was interpreted by Italian mezzo Sonia
Ganassi. She had a very good interpretation, but was not to the superlative
level of Yoncheva.
In
supporting roles all were good, Brindley
Sherratt as Oroveso, Vlada Borovko
as Clotilde and David Junghoon Kim
as Flavio.
Vocally an
excellent Norma in a fine but bizarre staging.
*****
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