(review in English below)
No Teatro
Nacional de São Carlos assistiu-se à representação da ópera Nabucco, de G. Verdi, numa encenação brasileira agradável e intemporal, de André Heller-Lopes, juntando elementos actuais, nomeadamente
no vestuário (de Marcelo Marques) com símbolos
assírios. Os cenários (de Renato
Theobaldo) eram vistosos, dominados por painéis feitos de tubos, pondo em
relevo figuras assírias. O momento mais conseguido acontece quando o coro dos
escravos hebreus cantam o Va pensiero durante
o qual, alguns dos seus elementos, à medida que a música aumenta de intensidade,
sobem por uma grade que ocupa a maioria do palco e os aprisiona (a imagem usada
para a divulgação da ópera pelo TNSC).
A direcção musical foi de Antonio Pirolli. Por várias vezes houve desencontros na Orquestra Sinfónica Portuguesa e entre esta e os cantores.
O Coro do Teatro Nacional
de São Carlos sob a direcção de Giovanni Andreoli teve uma prestação
muito boa, com relevo para o pianíssimo final do famoso Va pensiero.
Passando aos cantores solistas, foi uma
tarde gratificante. O barítono espanhol Àngel Òdena foi um Nabucco arrasador, tanto na prestação cénica como
vocal. Tem uma voz enorme, muito bonita e expressiva, sempre sobre a orquestra.
Foi, de longe, o melhor da tarde e ao nível dos melhores barítonos que se podem
ouvir na actualidade. Fantástico!
O grande nome em cartaz foi o soprano Elisabete
Matos no papel de Abigaille. Todos esperamos o melhor da nossa compatriota
e, mais uma vez, ela fez tudo o que está ao seu alcance para cumprir o que dela
se espera. A voz é potente e bem timbrada, embora nem sempre tenha respondido
em pleno. Em palco, como habitualmente, ofereceu-nos uma interpretação muito
credível.
O baixo Simon Lim foi um Zaccaria de voz grave e agradável, com um bom
desempenho cénico. Apenas no registo mais grave perdia alguma qualidade mas,
ainda assim, esteve bem.
Maria Luísa de Freitas foi uma Fenena convincente,
de voz potente, sempre sobre a orquestra. No registo mais agudo, as notas por
vezes saíam mais gritadas que cantadas.
O jovem tenor Carlos Cardoso foi excelente. A interpretação vocal foi muito convincente,
voz de timbre bonito e sempre bem audível, sem gritar. Cenicamente esteve
também ao mais alto nível, muito ajudado pela sua juventude e boa figura. Foi
um dos melhores tenores que se ouviu em São Carlos nos últimos tempos.
Esperemos que volte rapidamente.
Nos papéis secundários ouvimos outras boas
interpretações. André Henriques foi um Grande
Sacerdote com presença, Carla Simões foi excelente (voz muito bonita) como Anna e Pedro Rodrigues
foi um Abdallo muito digno e com
presença cénica marcante.
Um espectáculo muito bom a
encerrar a temporada de ópera do Teatro de São Carlos
****
NABUCCO,
Teatro São Carlos, Lisbon, June 2016
In Teatro Nacional de São Carlos one could
see the opera Nabucco by G. Verdi, in a pleasant and timeless
Brazilian staging by André Heller-Lopes,
joining contemporary elements, in particular clothing (by Marcelo Marques) with Assyrian symbols. Scenarios (by Renato Theobaldo) were showy, dominated
by panels made of tubes, emphasizing Assyrian figures. The most accomplished
moment happened when the chorus of the Hebrew slaves sang Va pensiero during which some of its elements, as the music
increases in intensity, go up by a grid that occupies most of the stage and
imprisons them (the image used for the announcement of the opera by TNSC).
The musical
direction was by Antonio Pirolli.
Several times there were dissonances in the Portuguese Symphony Orchestra and,
above all, between the orchestra and the singers. The Choir of the Teatro Nacional de São Carlos under the direction of Giovanni Andreoli had a very good
performance, with emphasis on the final pianissimo of the famous Va pensiero.
Turning to
soloist singers, it was a rewarding afternoon. Spanish baritone Àngel Òdena was an amazing Nabucco,
both scenic and vocal. He has a huge voice, very beautiful and expressive,
always over the orchestra. He was by far the best of the afternoon and he is at
the level of the best baritones that can be heard today. Fantastic!
The big
name on display was soprano Elisabete
Matos in the role of Abigaille. We all hope the best of our compatriot and,
again, she did everything in her power to fulfill what is expected from her.
The voice is powerful although not always answering in full. On stage, as usually,
she offered us a very credible interpretation.
Bass Simon Lim was a Zaccaria with a
pleasant well audible voice, with a good stage performance. Only in the low
register he lost some quality but still did well.
Maria Luisa de Freitas was a convincing Fenena, in a
strong voice, always over the orchestra. In the top register, the notes
sometimes were more shouted than sung.
The young
tenor Carlos Cardoso was excellent.
The voice was very convincing, beautiful timbre and always well audible without
screaming. Scenically he was also at the highest level, greatly helped by his
youth and good figure. he was one of the best tenors that sung in São Carlos Theater
in recent times. We hope he will come back soon.
In
supporting roles there were other good performances. André Henriques was a high priest with presence, Carla Simões was excellent (beautiful
voice) as Anna and Pedro Rodrigues
was a very worthy and remarkable Abdallo.
A very good
performance to close the opera season of the Teatro de São Carlos
****
Muito bem ! Quando assim é...
ResponderEliminarNão consigo ver mais "Nabucco"s nem ouvir a Matos, mas fico satisfeito por de quando em quando valer a pena ir ao TNSC. Lamentável a má direcção de orquestra - então não temos cá gente capaz ?
Obrigado pelo relato, Fanático_Um.
Boa noite. Descobri este blogue hoje por ocasião da pesquisa efectuada sobre o evento de ontem que assisti no TNSC.
ResponderEliminarParabéns pelo Blogue que, doravante, irei seguir.
Foi um espectáculo fantástico.
Confesso não me ter apercebido dos "desencontros". Mas falta-me experiência para saber comentar com mais propriedade.
Vim maravilhado. Esperei nove meses por este evento.
Bom trabalho e continuarei a seguir o Blogue.
Cavaco
Na estreia também não me apercebi de desencontros. Achei a orquestra e o coro muito bem. Os cantores solistas em geral também; apenas o Zaccaria, como diz em cima, com alguns problemas nos graves.
ResponderEliminarGostei muito de Elisabete Matos e de Carlos Cardoso, que também espero que venha mais vezes a São Carlos. E André Henriques uma grande promessa.