(review in
English below)
Tannhäuser é uma ópera com libretto e música de Richard Wagner. De entre as suas primeiras obras é, musicalmente, a
mais rica e sofisticada. No centro do enredo estão os torneios poéticos
trovadorescos medievais, muito do agrado do compositor. Grande parte da obra
wagneriana está imbuída da redenção pelo amor, tema dominante nesta ópera,
apesar de a sua magnitude ultrapassar largamente o confronto entre o amor
carnal (simbolizado por Vénus) e o espiritual (por Elisabeth).
A belíssima abertura da ópera é, talvez, a
primeira grande página sinfónica do compositor e inclui os temas principais da
ópera com valor simbólico. Os Leitmotive virão a ser uma marca
indelével nas partituras de Wagner.
Nesta produção da Royal Opera House de Londres, que já tinha visto há alguns anos, a excelente
direcção musical foi do maestro Hartmut Haenchen. Os Coros da
Royal Opera foram bons mas, ocasionalmente, ouviram-se desacertos. A Orquestra
da Royal Opera foi excelente, merecendo especial destaque os metais,
nas cordas os violoncelos e, sobretudo, as harpas, que têm um papel fulcral na
obra e foram tocadas de forma imaculada. Estavam colocadas no “stalls circle”
mesmo à minha frente!
A encenação de Tim Albery é
excessivamente austera e pouco eficaz. Começa bem, com a visão por Tannhäuser
de Elisabeth. O Venusberg é representado pelo palco da Royal Opera House. É uma
Royal Opera dentro da Royal Opera (ideia interessante mas já usada por outros
encenadores em outras óperas). A orgia inicial é dançada por seis casais de
bailarinos que, com uma longa mesa como adereço, saltam sobre ela e à sua
volta, abraçam-se intensamente à medida que vão despindo as camisas, aumentam
freneticamente a intensidade da execução, concretizando no final a relação
sexual (com toda a decência esperada para um teatro como este). A movimentação
em palco é vertiginosa mas perturba a audição da abertura da partitura.
Entra Vénus em cena,
vestida de negro, numa cama de lençóis de cetim brancos e este é o único
adereço, para além de uma cadeira onde Tannhäuser se senta durante grande parte
da récita. Quando abandona o Venusberg surge uma criança sentada à sombra de
uma árvore e depois os trovadores amigos de Tannhäuser, no palco totalmente
vazio.
O 2º acto abre com o
palco da Royal Opera em ruínas e toda a acção se passa aí. Quando entra o coro,
os homens vêm armados de metralhadoras e as mulheres com velas nas mãos, que acendem
e colocam juntas no chão.
Finalmente no 3º acto
o palco está ainda mais vazio e coberto de neve, só restando algumas das peças
do teatro mais degradadas pelo tempo. O florescer final do báculo é
representado pelo plantar de uma pequena árvore plástica por uma criança.
Enfim, uma encenação desinteressante.
O tenor Peter
Seiffert foi um Tannhäuser para esquecer. Esteve mal no primeiro acto, logo
evidenciando dificuldades e canto muito irregular. No 2º foi ainda pior, as
intervenções no concurso de canto foram confrangedoras e já não cantou mais.
Foi substituído no 3º acto por Neal
Cooper que, não sendo brilhante, fez um bom trabalho, dado ter sido uma
substituição imprevista. Tem uma voz bonita, afinada, mas a potência esteve
muito aquém do exigido pelo papel.
(Neal Cooper)
Venus foi interpretada pela mezzo Sophie Koch que, como habitualmente,
esteve muito bem. Tem uma voz bonita, poderosa e mantém uma linha de canto
coerente. Também nos oferece sempre boas interpretações cénicas.
A soprano Emma Bell fez uma Elisabeth excelente. Começou
ao mais alto nível no início do 2º acto com Dich, teure Halle mostrando
um soprano potente, seguro e, aparentemente, sem esforço. No 3º acto, quando
pede à Virgem que a deixe morrer por Tannhäuser (Allmächtge Jungfrau) mantém
uma qualidade interpretativa superior. Uma das melhores nesta atribulada récita.
Wolfram, interpretado
pelo barítono Christian Gerhaher foi, de longe, o melhor da noite. Um cantor sublime que já ouvi várias
vezes neste papel, como aqui tenho escrito, e que esteve novamente ao mais alto
nível. O timbre é claro, suave, doce e de beleza inigualável. Nunca
cantou em esforço e ouviu-se cada palavra do que cantou, dada a sólida firmeza
da emissão vocal. Verdadeiramente assombroso! Protagonizou os momentos mais
belos da récita, entre eles, no 2º acto, o concurso de canto (com a orquestra e
as suas imaculadas harpistas) e, principalmente, no 3º acto, o canto à estrela
da noite (O du, mein holder Abendstern) que foi de uma sensibilidade
arrepiante. Só ele teria valido a récita.
Muito bem foi também o
menino pastor no início do 2º quadro do primeiro acto, Thomas John.
Tiveram ainda boas prestações o baixo Stephen
Milling como Herrmann e os trovadores Walther (tenor Ed Lion),
Heinrich (tenor Samuel Sakker), Biterolf (baixo Michael Krauss) e
Reinmar (baixo Jeremy White).
Alguma decepção em Covent Garden, parcialmente
salva pelas duas senhoras e, sobretudo, por Christian Gerhaher que, sempre que
cantava, levava a récita da mediania ao nível estratosférico.
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TANNHÄUSER, Royal Opera House, London, May 2016
Tannhäuser is an
opera with libretto and music by Richard Wagner. Among his early works this is,
musically, the richer and more sophisticated one. In the center of the plot are
the medieval poetical tournaments, much to the liking of the composer. Much of
the Wagnerian work is imbued with the redemption through love, the dominant
theme in this opera, despite its magnitude largely overcome the confrontation
between carnal love (symbolized by Venus) and the spiritual love (by
Elisabeth).
The beautiful opening of the opera is perhaps the first
great symphonic page by the composer and includes the main themes of the opera
with symbolic value. The Leitmotive
will become an indelible mark on Wagner's music.
In this production of the Royal Opera House in London that I had seen a few years ago, the
excellent musical direction was by the conductor Hartmut Haenchen. The Choirs
of the Royal Opera were good but occasionally I have heard some discrepancies. The
Orchestra of the Royal Opera was
excellent, deserving highlight the metals, the cellos and, above all, the
harps, which have a key role in the work and played immaculately. They were
placed in the "stalls circle" just in front of me!
The staging of Tim
Albery is too austere and ineffective. The opera starts well, with the
vision of Elisabeth by Tannhäuser. Venusberg is represented by the stage of the
Royal Opera House. It's a Royal Opera into the Royal Opera (interesting idea
but already used by other directors in other operas). The initial orgy is
danced by six couples of dancers who, with a long table as a prop, jump on it
and around it, hugging each other intensely as they strip off shirts,
frantically increase the intensity of execution, ending in sex (decency as
expected for a theater like this). The movement on stage is dizzying but
disturbs the hearing of the opening score.
Venus enters the scene, dressed in black, on a bed of white
satin sheets and this is the only prop, in addition to a chair where Tannhäuser
sits for much of the performance. When leaving Venusberg a child appears,
sitting in the shade of a tree, and then enter the troubadours, friends of
Tannhäuser, on a totally empty stage.
The 2nd act opens with the stage of the Royal Opera in ruins
and all the action is happening there. When the choir enters, men come armed
with machine guns and women with candles in their hands, that light and put
together on the floor.
Finally on the 3rd act the stage is even more empty and
covered in snow, leaving only some of the most degraded by time theater pieces.
The final flourish of the Pope's staff is
represented by the planting of a small plastic tree by a child.
Anyway, unclear and overly austere staging.
Tenor Peter Seiffert
was a Tannhäuser to forget. He was bad in the first act, showing difficulties
and irregular singing. In the 2nd act he was even worse, his interventions in
the singing contest were dreadful and he no longer sang the 3rd act. He was
replaced by Neal Cooper that,
although not brilliant, did a good job, because he had to replace Seiffert
unexpectedly. He has a nice tuned voice but the vocal power fell far short of
that required by the role.
Venus was played by Sophie
Koch who, as usually, was very good. She has a beautiful, powerful and
always tuned voice. She also always offers good scenic interpretations.
Soprano Emma Bell
was an excellent Elisabeth. She started at the highest level at the beginning
of the 2nd act with Dich, teure Halle
showing a powerful soprano, secure and apparently effortless. In the 3rd act,
when she asked the Virgin to let her die by Tannhäuser (Allmächtge Jungfrau) she maintained a top interpretative quality.
One of the best of the performance.
Wolfram, played by baritone Christian Gerhaher was by far the best of the night. A sublime
singer I've heard several times in this role, as I have written here, and he
was again at the highest level. The tone is light, soft, sweet and unparalleled
beauty. He never sang in effort but one could heard every word he sang. Truly
amazing! Starred in the most beautiful moments of the performance, among them
the singing contest of the 2nd act (with the orchestra and its fabulous
harpists) and mainly in the 3rd act, the song to the evening star (O du mein holder Abendstern) which was a
chilling sensitivity. He alone would have been worth the performance.
Very well was also the shepherd boy at the first act, Thomas John.
Also with good performances were bass Stephen Milling as Herrmann and troubadours Walther (tenor Ed Lyon), Heinrich (tenor Samuel Sakker) Biterolf (bass Michael Krauss) and Reinmar (bass Jeremy White).
Some disappointment in Covent Garden, partially saved by the
two ladies, and especially by Christian Gerhaher. Whenever he sang, he
transported the performance from trivial to stratospheric.
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