(review in English below)
Estão em cena na Royal Opera House de Londres as duas
operas do verismo italiano que mais vezes se apresentam em conjunto –
Cavalleria Rusticana de P Mascagni e
Pagliacci de R Leoncavallo.
A encenação, da equipa chefiada pelo italiano Damiano Michieletto, é
fantástica. Numa abordagem convencional, trouxe a acção para os finais do
século passado e fez várias pontes de ligação entre as duas operas. O palco é
rotativo, permitindo mostrar 3 cenários sucessivamente e há elementos comuns
como um crucifixo grande, uma imagem da virgem Maria, e vários outros
elementos.
A Cavalleria
Rusticana começa com o Turiddu morto, numa poça de sangue, e a mãe Lucia,
lamentando a morte. Depois a história retoma o curso habitual, passa-se numa
padaria e ao seu redor. Um dos empregados da padaria é o Silvio da ópera
Pagliacci que, num interlúdio musical, oferece um lenço à cliente Nedda, por
quem se apaixona, e beijam-se. Tudo decorre sem canto e só na segunda ópera
se percebe esta ligação. Também são colados cartazes a anunciar a ópera
Pagliacci, que aparecerão na segunda ópera. Na procissão a imagem da virgem
Maria ganha vida e aponta o dedo à Santuzza, pecadora, num dos momentos
cenicamente mais marcantes. A ópera termina como começou, com a morte do
Turiddu.
(Fotografia / Photo Catherine Ashmore, Royal Opera House)
(Fotografia / Photo Catherine Ashmore, Royal Opera House)
Pagliaci decorre no que poderá ser um salão de
festas de um bairro popular. Toda a acção se passa no salão, onde decorre o
espectáculo dos palhaços, no camarim anexo, e nas redondezas. Nas portas, estão
os cartazes que anunciam o espectáculo, já vistos no primeiro acto. A produção
é bem melhor que a da ópera anterior, há uma simbiose perfeita entre a
realidade e o espectáculo dos palhaços. No interlúdio musical entre os dois
actos, aparece a Santuzza ainda a chorar a morte do Turiddu, consolada por um
padre e que se reconcilia com a Mamma Lucia, informando-a que está grávida.
Novamente, tudo acontece em silêncio.
(Fotografia / Photo Catherine Ashmore, Royal Opera House)
(Fotografia / Photo Catherine Ashmore, Royal Opera House)
Foi uma das
encenações mais conseguidas que vi destas óperas, mas no público houve quem não
gostasse, pois houve alguns booos entre os aplausos muito entusiásticos da
maioria.
A direcção
musical, excelente, foi de Antonio
Pappano.
O tenor Aleksandrs Antonenko foi o Turiddu e o
Canio. Teve uma óptima interpretação vocal, sobretudo como Canio. O registo
médio da voz é excelente, mas nos agudos por vezes parece ter dificuldades,
embora sempre bem audível. Não é um actor nato e isso reflecte-se no
desempenho, embora na ópera Pagliacci tenha estado ao mais alto nível.
O barítono Dimitri Platanias também cantou dois
papéis, Alfio na primeira e Tonio na segunda ópera. Tem uma voz poderosíssima,
muito expressiva e bem timbrada. Também achei que a interpretação foi melhor em
Pagliacci onde, logo no prólogo, foi absolutamente sensacional.
Eva-Maria Westbroek foi uma Santuzza desesperada e revoltada, de voz
enorme e expressiva, mas com um vibrato excessivo. Na cena da procissão esteve
particularmente bem, quer cénica quer vocalmente, sempre sobre a orquestra e o
(enorme) coro.
Fantástica foi a
Mamma Lucia de Elena Zilio. Cantou
de forma impecável e representou como se estivéssemos a ver um filme.
A Lola de Martina Velli também foi muito
expressiva, voz bonita, afinada e presença muito sensual no palco.
Carmen Giannattasio foi uma Nedda fabulosa, outra intérprete
excelente tanto no canto como no desempenho cénico. A voz é muito poderosa,
afinada, bonita, apenas nas notas mais agudas tem uma ligeira tendência para a
estridência.
Também Dionysios Sourbis como Silvio foi outro
intérprete de grande qualidade que aliou à interpretação vocal doce e
expressiva uma postura cénica de superior qualidade.
Mais um
espectáculo de grande qualidade na Royal Opera House.
*****
CAVALLERIA RUSTICANA
/ PAGLIACCI Royal Opera House, London, December 2015
On stage at
the Royal Opera House in London are the
two operas of the Italian verismo that more often are presented together - Cavalleria Rusticana by P Mascagni, and Pagliacci by R Leoncavallo.
The Italian
director, Damiano Michieletto, did a
fantastic job. In a conventional approach, he brought the action to the end of
the last century and made several bridges linking the two operas. The stage is
rotatable, allowing three scenarios show successively and there are common
elements to the two operas such as a large crucifix, an image of the Virgin
Mary, and various others.
Cavalleria
Rusticana begins with Turiddu dead in a pool of blood, and mother Lucia,
mourning the death. After, the story takes the usual course, takes place in a
bakery and around. One of the bakery employees is of Silvio from the opera Pagliacci,
during a musical interlude he offers a scarf to customer Nedda, with whom he
falls in love, after a kiss. It all stems without singing and this link is
perceived only during the second opera. Posters announcing the opera Pagliacci are
also pasted, which will appear in the second opera. In the procession the image
of the Virgin Mary comes to life and points the finger at Santuzza, sinful, one
of the scenically most memorable moments. The opera ends as it began, with the
death of Turiddu.
Pagliaci
takes place in what could be a ballroom of a popular neighborhood. The entire
action takes place in the hall where the show takes place, in the dressing
room, and nearby. On the doors are posters advertising the show, already seen
in the first opera. This production is much better than the previous opera,
there is a perfect symbiosis between reality and the show of the clowns. In the
musical interlude between two acts, Santuzza appears, still mourning the death
of Turiddu, consoled by a priest and reconciliates with Mamma Lucia, informing
her that she is pregnant. Again, everything happens in silence.
It was one
of the most accomplished performances I saw of these operas, but in the audience
there were those who did not appreciate, because there were some booos among
the very enthusiastic applause of the majority.
The great musical
direction was by Antonio Pappano.
Tenor Aleksandrs Antonenko was Turiddu and
Canio. We had a great vocal performance, especially as Canio. The medium
register of his voice was excellent, but in the top notes sometimes he seemed
to have difficulties, though he was always well audible. He is not a born actor
and this is reflected in the performance, although in Pagliacci he has been at
the highest level.
Baritone Dimitri Platanias also sang two roles,
Alfio and Tonio in the first second operas. He has a powerful and very
expressive voice. I also found that the performance was better in Pagliacci
where as early as the prologue, he was absolutely sensational.
Eva-Maria Westbroek was a desperate and revengeful Santuzza, her
voice was huge and expressive, but with excessive vibrato. In the procession
scene she was particularly well both scenic and vocally, always over the
orchestra and the (huge) choir.
Fantastic
was Elena Zilio’s the Mamma Lucia. She
sang flawlessly and performed as if we were watching a movie.
Martina Velli's Lola was also very expressive, with a beautiful
tuned voice, and a very sensual stage presence.
Carmen Giannattasio was a fabulous Nedda, another great performer
both vocally and onstage. The voice is very powerful, refined, beautiful, only
on high notes she has a slight tendency to shrillness.
Also Dionysios Sourbis as Silvio was another
high quality interpreter who teamed with sweet and expressive vocal
interpretation a stage performance of superior quality.
Another
great quality performance at the Royal Opera House.
*****
O conceito da encenação soa muito interessante! Estou a ver que o tenor Antonenko está a dar muito que falar e desperta opiniões diversas na Internet.
ResponderEliminarAdoro ópera mas que me desculpem, detesto ver encenações modernistas em óperas clássicas. Comparar esta Rusticana com a de Zefirelli com Plácido Domingo é
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